por Patanga Cordeiro

Com uns 16 anos, comecei a mudar algumas coisas na minha vida, sem saber o porquê. Acho que era um “bom menino”, tinha uma boa família, estudava numa boa universidade. Mas a vida não me satisfazia. Aos 18 anos, um colega me entregou um livro e disse “acho que você vai gostar.” Eu li o livro, sobre yoga e um estilo de vida oriental, e quase tudo fazia sentido. Parei de comer carnes, comecei a praticar esportes, etc. Mas, ainda assim, aquele vazio profundo continuava.

A vida era tediosa, e eu me sentia absorvendo as coisas ao redor simplesmente por não ter outras opções. Por não ter algo maior para fazer, inconscientemente comecei a acumular gradualmente fardos e mais fardos que mais tarde teria de remover – ideias, responsabilidades, apego. Achei que ia me formar na faculdade, comprar casa, carro, casar, ter filhos, etc. Nada que eu quisesse fazer de verdade – mas, por acaso, existia algo na vida além disso? Eu nunca havia cogitado haver outra possibilidade. 

curso meditação UFSCar São CarlosQuando tinha 19 anos, fui numa palestra sobre meditação. Eu não estava procurando por isso, mas, quando vi o cartaz na universidade, senti – por algum motivo – que deveria ir. As duas coisas que mais me tocaram – e as únicas que lembro até hoje – foram, primeiro, o sorriso do palestrante; era alguém que parecia ter uma satisfação e felicidade mais verdadeiras do que as pessoas do meu convívio. Era um sorriso singelo, mas que demonstrava uma vida interior que florescia;

A segunda, e maior, foi ver a foto de Sri Chinmoy na mesa do auditório. Quando olhei para ela com atenção, parecia que era a foto de diversas pessoas alternadamente, como se todas as coisas existissem dentro da foto. (Hoje eu chamaria isso de “consciência universal”.) Alguns momentos depois, quando me concentrei nela por mais tempo para um exercício de meditação, eu senti que o semblante da foto ficou sério, e ela me passava uma mensagem interior, que me fazia sentir “Moleque, você tem que tomar jeito na sua vida!” Era como se a foto, a consciência de Sri Chinmoy, tivesse responsabilidade por mim, pela minha vida. Eu nunca tinha cogitado essa possibilidade e nem achava que tinha ou precisava de um Mestre espiritual, mas hoje vejo que esse é o cuidado que o Mestre tem pelos seus alunos. Era como se ele estivesse me esperando e me guiado nos acontecimentos da minha vida até aquele momento onde o encontrei.

Levou uns meses e algumas experiências interiores e exteriores para eu começar a entender com a minha cabeça o que estava acontecendo na minha vida e no meu interior – ou, poderia dizer, para começar a viver mais no coração ao invés da mente. Comecei a praticar a vida espiritual de acordo com os ensinamentos exteriores e interiores de Sri Chinmoy. Meditação, canto, leitura, trabalho, serviço abnegado, me divertir como uma criança, conversar com outros buscadores; tudo fazia sentido, mas agora de forma espontânea, sem explicação. Comecei a me sentir feliz DE VERDADE. Na verdade, eu mesmo passei a fazer sentido, então as coisas ao meu redor também passaram a ter um significado – só que agora transformadas em algo mais divino.

A cada semana que passou nesses vinte anos desde que encontrei meu Caminho, eu sentia que isso apenas aumentava. Cada vez mais tudo que faço possui mais valor e mais promessa, me faz sentir mais pleno e satisfeito. A cada semana vejo como melhorei em diversos aspectos e me sinto grato. A cada dia também tomo consciência de imperfeições em mim e ganho inspiração e orientação interior para melhorar. A cada ano reparo nas coisas que fiz e sinto que tudo valeu a pena, até mesmo a espera inicial, aquele “vazio” gestante de possibilidade. É como se o Mestre espiritual fosse aquele príncipe encantado das estórias, que com um toque desperta finalmente a minha alma dormente e sonhadora para a vida real.

A vida dele é cheia de barulho,
A vida dele é cheia de correria,
A vida dele é cheia de pressa.
Ele é uma imagem da insinceridade,
Ele é uma imagem da ingratidão,
Ele é uma imagem do fracasso.
Ele falha em silenciar a tempestade de sua carne,
Ele falha em sair do abismo de sua dúvida,
Ele falha em sepultar o caixão do seu medo.
Ainda assim
Ele será salvo,
Ele será libertado,
Ele será completo.
Pois
Ele ouviu os passos de seu Mestre.

-Sri Chinmoy, o Mestre e o discípulo