Madre Teresa fala sobre como aprender meditação em silêncio e oração
Acompanhando os escritos de Sri Chinmoy, vejo que ele costuma se referir informalmente à vida espiritual como “oração e meditação”. Uma oração elevada e entregue é como uma meditação em Deus.
Aqui separamos alguns textos da Madre Teresa, amiga de longa data de Sri Chinmoy, com quem compartilhava também o aniversário de nascimento em 27 de agosto. Nesses textos, vemos trechos de seus comentários sobre aprender a meditar e orar em silêncio.
***
Somos chamados em certos intervalos a nos recolher em um silêncio mais profundo e solidão com Deus, tanto juntos em comunidade quanto de forma solitária. Estar sozinho com Ele, não com nossos livros, pensamentos e lembranças, mas completamente despidos de tudo, habitando amorosamente em Sua presença – em silêncio, vazio, aguardo e imobilidade.
Se realmente queremos aprender a orar, devemos primeiro aprender a ouvir, pois é no silêncio do coração que Deus fala.
Os contemplativos e ascetas de todas as eras buscaram Deus no silêncio e solidão do deserto, floresta e montanha.
Ouça em silêncio, pois se o seu coração estiver repleto de outras coisas, você não conseguirá ouvir a voz de Deus. Mas quando você ouve a voz de Deus no silêncio do seu coração, o seu coração fica repleto de Deus. Isso exigirá muito sacrifício, mas, se realmente quisermos aprender a orar e quisermos orar, devemos estar prontos para fazê-lo agora.
O homem necessita de silêncio. Estar sozinho ou junto, buscando Deus em silêncio. É então que acumulamos o poder interior que distribuímos em ação, no menor dos deveres e nos mais duros desafios que enfrentamos.
Ter silêncio interior é muito difícil, mas precisamos tentar. No silêncio encontramos nova energia e uma verdadeira unicidade. A energia de Deus será nossa para tudo fazermos bem.
É difícil orar quando não sabemos orar. Precisamos nos ajudar a aprender. O mais importante é o silêncio.
Precisamos encontrar Deus, e Deus não pode ser encontrado no barulho e inquietação.
Não conseguimos nos colocar diretamente na presença de Deus sem nos colocarmos em silêncio interior e exterior. É por isso que devemos nos acostumar com o silêncio da alma, dos olhos, da língua.
Tudo começa com a oração que nasce no silêncio dos nossos corações.
“O Reino dos céus assemelha-se a um tesouro escondido no campo. Certo homem, tendo-o encontrado, escondeu-o novamente. Então, transbordando de alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele terreno. …
Não acumuleis para vós outros tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde ladrões arrombam para roubar. Mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde a traça nem a ferrugem podem destruir, e onde os ladrões não arrombam e roubam. …” Jesus Cristo, o Novo Testamento
Se me perguntassem por que motivo eu comecei a meditar, diria que foi porque vi um cartaz na universidade dizendo “curso de meditação gratuito“.
Mas, se me perguntassem por que eu tive interesse, por que eu quis ir nesse curso, eu não sei explicar. Eu só sabia que tinha que ir, sem nenhuma explicação.
Quando ouvimos as histórias dos Mestres espirituais, cedo ou tarde nos conciliamos com uma certa inevitabilidade, que somos escolhidos à Hora de Deus para realizar alguma coisa. Para mim, teve a Hora para começar a meditar, o que levou-me a encontrar a minha vida espiritual.
Ontem estava lendo histórias sobre a infância do meu Mestre, Sri Chinmoy, no Ashram de Sri Aurobindo. Ele contou uma história que, simplificadamente e com possíveis erros de lembrança da minha parte, era assim: um jovem rapaz foi comprar um sapato numa loja. O lojista embrulhou o calçado em jornal. Chegando em casa, ele abriu o jornal e se deparou com um artigo de Sri Aurobindo, com a sua foto. Foi o que bastou. Ele foi para Pondicherry encontrar-se com essa “pessoa” que, num piscar de olhos, passou a ser a coisa mais importante no mundo dele. Ele deixou tudo que tinha na vida – fama, posses, escolaridade – e se tornou um dos principais discípulos de Sri Aurobindo.
O nome de um Mestre espiritual realizado possui um poder imenso. Costumo me referir ao meu próprio Mestre como Guru, de forma muito carinhosa e próxima, mas quando ouço seu nome “Sri Chinmoy”, sinto que ali há um tesouro inigualável. Foi essa sensação que me inspirou a escrever, e também me fez lembrar da citação do Cristo que abre o artigo. Nesses dias, lendo as histórias de Sri Chinmoy, tive uma sensação profunda de satisfação, como se o fato de eu ter ele fosse a única coisa que importasse. Quando você tiver um Mestre realizado, terá essa mesma sensação, da sua própria forma e na sua própria hora, é claro.
Sri Chinmoy não espera do seus alunos que abdiquem do mundo formalmente, mas a nossa postura deve sim ser a de que a prioridade é o progresso espiritual, sendo que o progresso material serve apenas como base para o interior, nunca como uma meta por si só. Vemos o divino em tudo, em todas as coisas, e tentamos priorizar a busca por aquilo onde esse Divino está manifestado de forma mais presente e evidente.
Foi por isso que comecei a meditar. E você, por que vai começar a meditar?
A meditação simplifica a nossa vida exterior e energiza a nossa vida interior. A meditação nos proporciona uma vida natural e espontânea, uma vida que se torna tão natural e espontânea que não podemos respirar sem estarmos conscientes da nossa própria divindade.
Dicas para meditar 4: Meditação é uma coisa tão simples e natural
Alguns anos atrás uma escritora do Vida Simples participou do nosso curso de meditação e escreveu uma matéria para a revista impressa. Uma amiga minha que também é jornalista reencontrou essa matéria e, pensando no nome “Vida Simples”, me veio o pensamento de que eu poderia retribuir, escrevendo agora eu sobre a como aprender a meditação e abordando o seu aspecto de “simples e natural”.
Meditação é muita coisa para muita gente. Para mim, meditação não é técnica. Meditação não se aprende lendo, e eu não posso ensinar para ninguém. Meditação é um anseio interior, que Sri Chinmoy costuma chamar de aspiração. Quando você dá um espaço para a sua meditação acontecer, para a sua aspiração mergulhar (é uma boa figura de linguagem), aí é que você entende o que é meditar. Mesmo uma meditação de um minuto, contanto que seja genuína, faz você levantar do lugar onde estava sentado uma pessoa completamente diferente do que a pessoa que se sentou lá.
Quando essa aspiração começa a se manifestar com frequência na vida de uma pessoa, ela se torna uma buscadora – buscadora da Verdade, da Luz, da Perfeição.
Agora pensemos. Verdade, Luz, Perfeição escritas assim, com inicial maiúscula… são coisas fáceis de se obter? Um diploma universitário, amigos, bens, são coisas bem simples de se obter. Basta dedicar alguns anos da sua vida. Mas, e o que você faz com isso? Isso lhe traz mais para perto da Verdade, Luz e Perfeição – ou para longe?
É por isso que a frase de Sri Chinmoy que abre o artigo é tão genial: “A meditação simplifica a nossa vida exterior e energiza a nossa vida interior. A meditação nos proporciona uma vida natural e espontânea, uma vida que se torna tão natural e espontânea que não podemos respirar sem estarmos conscientes da nossa própria divindade.”
Se você quer alcançar uma meta elevada, precisa de foco e dedicação. Precisa também de tempo e energia. Uma vida simples pode proporcionar isso a você. Mas como saber o que é importante e deve ser valorizado e o que é um estorvo e deve ser transformado? Cada um pode dizer diferentes coisas, mas quem está certo?
O silêncio do seu coração vai lhe mostrar. De repente, coisas que não queria fazer começam a parecer interessantes. Coisas que gostava de fazer repentinamente passam a parecer tão vazias, sem sentido. Seus amigos mudam, sua casa muda, suas roupas mudam, tudo muda. Como meditar? Você vai aprender também! A técnica que funciona melhor, o melhor professor, tudo vai aparecendo uma hora ou outra.
Uma vez que você começa a praticar a meditação (ou outra prática espiritual) com sinceridade e aspiração, a sua alma vem mais à tona, e o seu “eu” buscador começa a mostrar para você o que vale a pena e o que não vale. O que leva você adiante e o que não leva. O que tem futuro e o que não tem futuro. Isso faz com que tenha a oportunidade de deixar que somente as coisas importantes fiquem na sua vida. O seu papel é ouvir o seu coração. O resultado é a Verdade, a Luz, a Perfeição.
O texto que abre o artigo termina assim:
“A meditação é um dom divino. Ela é a abordagem direta que leva o aspirante ao Uno de quem ele é descendente. A meditação diz ao aspirante que a sua vida humana é uma coisa secreta e sagrada, e ela afirma a sua herança divina. A meditação lhe proporciona um novo olho para enxergar Deus, um novo ouvido para ouvir a Voz de Deus e um novo coração para sentir a Presença de Deus.”
Dica para meditação 3: Meditação é uma forma de identificação
Sinto que a meditação não é uma técnica, mas talvez uma abordagem na sua disciplina espiritual. Minha disciplina espiritual começa de manhã cedo, quando medito na foto do meu Mestre, Sri Chinmoy.
Se você não tem um Mestre realizado, você pode meditar de outras formas, no céu ou oceano, no seu coração, na música espiritual.
Ele sempre nos ensinou que a melhor meditação acontece a partir do coração, e que o coração possui uma habilidade particular, que é a capacidade de identificação, de unicidade genuína.
Depois de uns dez ou quinze anos de meditação diária, minha meditação mudou um pouco. Um dia, em particular, tentei sentir que a minha existência e a existência do Mestre, da consciência que a foto dele traz, não são duas coisas. São uma só. Olhei para a foto e senti que eu sou aquela foto, e todas as coisas que aquela foto é eu também sou.
O papel de um Mestre espiritual, numa das minhas histórias favoritas de Sri Chinmoy, é justamente esse, e reproduzo um trecho da história aqui:
O Mestre falou, “Veja, agora mesmo, alguns dos meus discípulos estão molhando a grama. Há pequenas plantas por aqui.” O Mestre apontou duas plantinhas bem miúdas. Então, o Mestre pegou uma pazinha e arrancou uma delas. Pegou a planta toda, raiz e folhas, e dirigiu-se para a outra planta. Aí, também, removeu a planta inteira e substituiu-a pela primeira. Daí, pegou a segunda planta e replantou-a no lugar da primeira.
Então, o Mestre falou, “Olhe aqui. Esta planta é o homem e aquela é Deus. Agora, eu sou o Mestre. Eu cheguei aqui e toquei esta planta. Foi uma questão de minutos, poucos minutos. Tão logo a toquei, imediatamente a planta me deu a divina resposta, e eu a peguei e a coloquei lá onde a planta chamada ‘Deus’ estivera. Então, peguei a planta-Deus e obtive toda Sua Compaixão, Amor, Alegria e Deleite, e os coloquei aqui onde o homem a planta estivera. Foi uma questão de apenas poucos minutos. Levei o homem a Deus e trouxe Deus ao homem.”
Praticando tentar me identificar com a consciência do meu Mestre, não apenas parece que tenho mais facilidade para conseguir ter uma experiência mais completa, mas também mais profunda e transformadora. Você também pode se identificar com o céu, com o oceano, com Deus.
Também é possível que, durante ou depois da meditação, você sinta identificação com um certo aspecto da sua busca – você pode sentir amor intenso por Deus ou pelo seu Mestre ou pela humanidade. Mas a gama de experiências é vasta, e eu não conseguiria descrever mais do que as experiências que tive.
Pergunta: quando medito com o meu coração na sua foto, tenho tido dor de cabeça.
Sri Chinmoy: Você está forçando além da sua capacidade. Você sente que está meditando no seu coração, mas está sendo enganado. Você está na verdade meditando na sua mente, sem ser capaz de sentir a presença da sua mente. Se realmente meditar no coração, você terá o sentimento de identificação. Então, não importando o quão intensamente você medite, não haverá esse problema.
Por gentilea seja mais consciente. Então será capaz de descobrir que está meditando na mente. Se meditar no coração, não importa quantas horas medite ou quanta Paz, Luz e Deleite receba em seu coração, não terá dores de cabeça.
Sri Chinmoy costuma sempre dizer que tanto a oração quanto a meditação são muito eficazes, e que as pessoas realizaram Deus tanto pela oração quanto pela meditação. Ainda assim, ele considera que a meditação é um pouco mais rápida, mais incondicional, e que nos traz uma maior sensação de unicidade com o Supremo. (A lógica é que, quando oramos, pedimos algo e, portanto, nos sentimos separados de Deus. Na meditação, a ideia é justamente perceber a unicidade com Ele diretamente.)
Mas há momentos, dias, onde fica difícil meditar direito. Principalmente durante o correr do dia, quanto por vezes muitas coisas passam pela cabeça, quando tivemos de lidar com muitas coisas diferentes. Ainda assim tentamos meditar, mas às vezes não funciona.
Nessas horas, se você lembrar de manter a sua mente em estado de oração, isso será uma grande ajuda. Você tem um sentimento de consagração, conversando com Deus ou com a natureza. Isso pode lhe dar uma nova perspectiva sobre a sua situação, sobre todas as coisas, na verdade, e fazer com que receba o que teria recebido da sua meditação ou então que passe a ter mais receptividade e logo tenha uma boa meditação.
Também é uma oportunidade para quebrar paradigmas seus, para reconsiderar o valor de cada coisa. Na oração, você faz isso de forma consciente. Na meditação, essa realização aparece espontaneamente com a prática diária.
Quando a Vontade altíssima deseja exercitar-se em e através do corpo físico, o físico deve desenvolver receptividade para que possamos devotadamente manifestar exteriormente o que temos em nosso interior.
Sri Chinmoy foi um decatleta campeão, jogador de futebol e vôlei durante a sua juventude. Mas mesmo depois do seu ápice por volta dos 30 anos, ele nunca deixou de fazer exercícios. Passou a jogar tênis, fazer corridas e ciclismo de longa distância, e mesmo aos 55 anos, quando seu joelho já não suportava a sua volumosa quilometragem diária, ele passou a fazer levantamentos de pesos de até 3100kg.
No caso de um Mestre espiritual realizado, tudo o que ele faz tem um motivo explícito: por ter alcançado unicidade consciente com o Divino, todas as suas ações são obras Dele, e portanto os seus motivos são motivos Dele.
Entretanto, quando possível e conveniente, o Mestre espiritual explica para as pessoas porque algo deve ser feito. Por exemplo, não só ele fazia, mas também pedia veementemente que todos os seus discípulos praticassem esportes diariamente. Aos que tinham mais afinidade, encorajava que treinassem bastante para se autotranscender. Aos que tinham menos, ainda assim explicava que o exercício físico é indispensável para seus alunos, não só para manter o corpo saudável, para estender a nossa vida aspirante na Terra, mas também para gerar receptividade no físico. Essa receptividade é a receptividade à luz interior. Por isso, quando fizer exercícios, se pensar conscientemente no seu propósito, isso lhe trará um grande benefício. Por que estou me exercitando?
A meditação também se beneficia imediatamente. Eu mesmo não tenho visão interior, mas, tendo lido os escritos de Sri Chinmoy e praticado sua filosofia, e praticado esportes – desde correr por 20 minutos de manhã cedo até fazer ultramaratonas de 10 dias – por muitos anos, posso destacar que a sua meditação melhora não pouco, mas muito, com a prática de esportes.
Uma coisa clara é o sentimento de inquietação mental e física. Quando você gasta a energia física, você não a perde. Ela é transmutada de energia física grosseira, inerte (açúcar, gordura, inquietação, letargia), para energia vital dinâmica (vigília, entusiasmo, determinação). Ao terminar de fazer os exercícios, muitas vezes você pode perceber como é mais fácil realizar suas tarefas domésticas, de trabalho, espirituais. Tudo fica mais fácil.
A mente também se beneficia muito. Aquela inquietação natural da mente é gasta no processo do exercício, sobrando um estado de vigilância positiva. É como a diferença entre um cachorro treinado e um cachorro destreinado em casa. Quem já teve cachorro em casa deve saber como é. Quando o carteiro chega trazendo correspondência, o cão destreinado morde as coisas, corre aqui e ali, late desesperado, etc. Mas não tinha motivo. O cão treinado só observa se a situação requer intervenção. Se não, ele curva seu instinto e retorna a guardar a casa contra algo que possa ser relevante. Igualmente, a nossa mente deve ser treinada a afastar as coisas ruins, e não a ficar reagindo a tudo e todas as coisas.
Em tempos de excesso de informação, sinto que o exercício é uma forma de purificar os padrões que criamos para a mente com tantas mídias dispensáveis. Então, tanto durante o seu dia você fica mais receptivo às coisas sutis que acontecem ao seu redor, quanto durante a sua meditação fica mais fácil se concentrar para mergulhar fundo.
Pergunta: Quando medito com o meu coração na sua foto, tenho tido dor de cabeça.
Sri Chinmoy: Você está forçando além da sua capacidade. Você sente que está meditando no seu coração, mas está sendo enganado. Você está na verdade meditando na sua mente, sem ser capaz de sentir a presença da sua mente. Se realmente meditar no coração, você terá o sentimento de identificação. Então, não importando o quão intensamente você medite, não haverá esse problema.
Por gentilea seja mais consciente. Então será capaz de descobrir que está meditando na mente. Se meditar no coração, não importa quantas horas medite ou quanta Paz, Luz e Deleite receba em seu coração, não terá dores de cabeça.
A meditação simplifica a nossa vida exterior e energiza a nossa vida interior. A meditação nos proporciona uma vida natural e espontânea, uma vida que se torna tão natural e espontânea que não podemos respirar sem estarmos conscientes da nossa própria divindade. Sri Chinmoy, o que é meditar
Alguns anos atrás uma escritora do Vida Simples participou do nosso curso de meditação e escreveu uma matéria para a revista impressa. Uma amiga minha que também é jornalista reencontrou essa matéria e, pensando no nome “Vida Simples”, me veio o pensamento de que eu poderia retribuir, escrevendo agora eu sobre a como aprender a meditação e abordando o seu aspecto de “simples e natural”.
Meditação é muita coisa para muita gente. Para mim, meditação não é técnica. Meditação não se aprende lendo, e eu não posso ensinar para ninguém. Meditação é um anseio interior, que Sri Chinmoy costuma chamar de aspiração. Quando você dá um espaço para a sua meditação acontecer, para a sua aspiração mergulhar (é uma boa figura de linguagem), aí é que você entende o que é meditar. Mesmo uma meditação de um minuto, contanto que seja genuína, faz você levantar do lugar onde estava sentado uma pessoa completamente diferente do que a pessoa que se sentou lá.
Quando essa aspiração começa a se manifestar com frequência na vida de uma pessoa, ela se torna uma buscadora – buscadora da Verdade, da Luz, da Perfeição.
Agora pensemos. Verdade, Luz, Perfeição escritas assim, com inicial maiúscula… são coisas fáceis de se obter? Um diploma universitário, amigos, bens, são coisas bem simples de se obter. Basta dedicar alguns anos da sua vida. Mas, e o que você faz com isso? Isso lhe traz mais para perto da Verdade, Luz e Perfeição – ou para longe?
É por isso que a frase de Sri Chinmoy que abre o artigo é tão genial: “A meditação simplifica a nossa vida exterior e energiza a nossa vida interior. A meditação nos proporciona uma vida natural e espontânea, uma vida que se torna tão natural e espontânea que não podemos respirar sem estarmos conscientes da nossa própria divindade.”
Se você quer alcançar uma meta elevada, precisa de foco e dedicação. Precisa também de tempo e energia. Uma vida simples pode proporcionar isso a você. Mas como saber o que é importante e deve ser valorizado e o que é um estorvo e deve ser transformado? Cada um pode dizer diferentes coisas, mas quem está certo?
O silêncio do seu coração vai lhe mostrar. De repente, coisas que não queria fazer começam a parecer interessantes. Coisas que gostava de fazer repentinamente passam a parecer tão vazias, sem sentido. Seus amigos mudam, sua casa muda, suas roupas mudam, tudo muda. Como meditar? Você vai aprender também! A técnica que funciona melhor, o melhor professor, tudo vai aparecendo uma hora ou outra.
Uma vez que você começa a praticar a meditação (ou outra prática espiritual) com sinceridade e aspiração, a sua alma vem mais à tona, e o seu “eu” buscador começa a mostrar para você o que vale a pena e o que não vale. O que leva você adiante e o que não leva. O que tem futuro e o que não tem futuro. Isso faz com que tenha a oportunidade de deixar que somente as coisas importantes fiquem na sua vida. O seu papel é ouvir o seu coração. O resultado é a Verdade, a Luz, a Perfeição.
O texto que abre o artigo termina assim:
“A meditação é um dom divino. Ela é a abordagem direta que leva o aspirante ao Uno de quem ele é descendente. A meditação diz ao aspirante que a sua vida humana é uma coisa secreta e sagrada, e ela afirma a sua herança divina. A meditação lhe proporciona um novo olho para enxergar Deus, um novo ouvido para ouvir a Voz de Deus e um novo coração para sentir a Presença de Deus.” Sri Chinmoy, Meditation: man’s choice and God’s Voice, part 1, Agni Press, 1974
Hoje sigo com mais uma pequena história do meu cotidiano.
Passei o dia no nosso centro de meditação fazendo reparos, podando e jardinando, planejando melhorias, acompanhado de um dos meus colegas.
Ao fim da tarde, apesar de eu não ter feito várias coisas que gosto de fazer principalmente nos domingos, eu estava me sentindo muito bem, simplesmente feliz, feliz sem motivo, feliz de estar satisfeito.
Uma parte disso se deve, acredito, por ter feito trabalho simples, manual, longe do computador e telefone (só fui ver meu telefone no fim da tarde, porque me avisaram que alguém queria falar comigo, mas estava tudo resolvido quando liguei).
Quando fui almoçar, pelas 14h, passei na frente da foto de Sri Chinmoy. É a foto que uso para meditar todos os dias. Naquele momento, essa foto parecia tão viva, como se estivesse dentro de mim, ou como estivesse compondo os meus arredores, as coisas que existiam no meu dia.
Eu não estava me sentindo particularmente elevado, mas, quando penso bem, estava servindo, estava fazendo algo com um significado interior, estava ocupado com algo luminoso, estava sempre em silêncio ou falando coisas boas.
Tive a sensação de que fiz muito progresso nesse dia. De que melhorei muitas coisas. A única coisa que fiz foi cortar galhos, limpeza, com uma companhia espiritual, num ambiente espiritual. Mas tive o resultado de como se tivesse uma meditação profunda, que é algo que acontece apenas raramente durante o meu horário de meditação propriamente.
Recentemente, por estar mais tempo trabalhando a partir de casa, estive pensando em usar melhor o meu tempo. Por não gastar tempo com o transporte, o meu dia ficou mais longo. No entanto, percebi que não estava me dedicando mais à meditação, ao canto e aos esportes. Acabei simplesmente desperdiçando o tempo extra que ganhei. E senti que é um desperdício como o de desperdiçar comida, dinheiro, etc, mas pior. Cedo ou tarde, todos teremos de chegar à iluminação, e é por isso que estamos vivos. E eu aqui, desperdiçando tempo que, por um milagre, ganhei para uso no meu dia.
Isso foi crescendo, e um dia, após uma meditação, eu senti aquele “agora chega”. Fiz uma lista de prioridades, coisas que devo fazer. Algumas delas: meditar um pouco mais de manhã cedo; meditar por alguns minutos de hora em hora durante o dia (coloquei um despertador); fiz um plano para aprender novas canções durante o dia, etc. No dia seguinte, eu teria um dia diferente.
Ao sair para correr, troquei a página do meu calendário, e lá estava a mensagem de Sri Chinmoy:
Agora é a hora
Para fazer um bom uso do tempo.
Hoje é o dia
Para começar um perfeito dia.
-Sri Chinmoy
E o sentimento que tive, ao ver o aforismo assim, tão claro, exatamente o que eu estava pensando, foi que Sri Chinmoy, meu Mestre espiritual, em si estava me inspirando a melhorar, a usar melhor meu tempo, e me ensinando o que realmente importa na vida.
E, ainda mais, com o gracioso toque de colocar o aforismo para mim, para fortalecer a minha promessa, para me dar inspiração, alegria e gratidão.
Muito tem se falado ultimamente sobre meditação como algo terapêutico, para ajudar a aliviar o stress ou a ansiedade. Contudo, a meditação é uma poderosa ferramenta para o autoconhecimento e autotranscendência, de acordo com os ensinamentos do professor de meditação Sri Chinmoy que continuam sendo difundidos por seus alunos por meio de cursos de meditação gratuitos no mundo todo, e também em São Paulo.
“Com sua boa vontade e determinação você pode usar esse instrumento para descobrir o que existe de real dentro de você e fazer da sua vida algo mais pleno, indo além do vazio, frustração, dúvida ou qualquer imperfeição que considere um obstáculo. Todavia, para isso é preciso praticar com disciplina e sinceridade, como um atleta divino. Uma vez que isso faça parte da sua vida, naturalmente vem um sentimento de satisfação, de a vida valer a pena, de tudo fazer sentido e ter um propósito, de se sentir verdadeiramente feliz mesmo sem ter acontecido nada de bom”, define.
De acordo com o que Sri Chinmoy deixou de ensinamento, a meditação não significa apenas sentar quietamente em silêncio por cinco ou dez minutos. “A meditação requer esforço consciente. A mente tem que ser posta calma e quieta. E, ao mesmo tempo, tem que ser vigilante, para não permitir que qualquer pensamento ou distração ou desejo perturbador, entre”, explica Sri Chinmoy.
É a partir desse ponto, quando amente se torna calma e quieta, é que é possível sentir que uma nova criação está se despertando dentro de si. “Quando a mente está vazia e tranqüila, e nossa existência inteira torna-se um recipiente vazio, Deus a preencherá com paz, luz e bem-aventurança.”
Nos cursos de meditação gratuitos em São Paulo, muitas pessoas procuram a meditação porque sentem que precisam de algo a mais na vida, uma felicidade maior, mas ainda não sabem o que é. Por meio da meditação no coração, como a ensinada nos cursos, é possível encontrar as respostas.
“Sri Chinmoy ensinou para nós que a meditação faz com que nos tornemos inseparavelmente um com o mundo inteiro. Quando queremos alcançar paz, luz e felicidade ilimitadas, a meditação é a resposta. O mundo precisa de uma coisa – paz – e a meditação é a resposta”,diz Patanga.
Exercício de meditação no coração para fazer em casa
O Centro de Meditação Sri Chinmoy em São Paulo costuma oferecer cursos mensalmente, porém, Patanga Cordeiro compartilhou conosco um dos exercícios ensinados por Sri Chinmoy que é possível fazer em casa:
A vastidão do céu
“Mantenha os olhos semi-abertos e imagine o vasto céu. No começo, tente sentir que o céu está diante de você. Mais tarde, tente sentir que você é tão vasto quanto o céu, ou que é a própria vastidão celeste.
Depois de alguns minutos, feche os olhos e tente ver e sentir o céu dentro do seu coração. Por favor, sinta que você é o coração universal, e que dentro de si mesmo está o céu em que meditou e com o qual se identificou. Seu coração espiritual é infinitamente mais amplo do que o céu. Portanto, você pode facilmente abrigar o firmamento dentro de si mesmo.”
Fizemos duas compilações de faixas de áudio para você fazer a sua meditação. Você pode fazer download delas para organizar uma playlist para meditação, bem como gravar elas num CD.
A primeira dura 19 minutos, começando com 5 minutos de respiração e concentração, 13 minutos de meditação e 1 minuto de gratidão. Depois disso, você pode ler por 15 minutos.
A segunda dura 40 minutos, começando com 10 minutos de respiração e concentração, 30 minutos de meditação, 1 minuto de gratidão. Você completa a série com 20-30 minutos de leitura.
Coloque para tocar e sente-se no seu lugar de meditação. Siga os quatro passos sugeridos a seguir.
1) Respiração e concentração (5 a 10 minutos)
Durante a duração da primeira parte, faça o seguinte exercício de respiração, ensinado por Sri Chinmoy no livro Meditação: Perfeição-Homem na Saitsfação-Deus. Enquanto Sri Chinmoy entoa AUM no áudio, você inspira e expira uma vez. Depois de umas 3 a 5 repetições, você inspira durante um AUM e expira durante o próximo AUM. O espaço de tempo entre cada AUM você usa para prender a respiração. Segue o exercício conforme ensinado pelo Mestre:
“Enquanto inspirar, em cada respiração tente repetir [mentalmente] ‘Supreme’ sete vezes lentamente, e mais sete vezes enquanto expirar. Dentro de você há sete mundos superiores e sete mundos inferiores. Quando repetir ‘Supreme’ ao inspirar, sinta que está acessando os sete mundos superiores dentro de você. Uma vez alcançados os sete mundos superiores, sentirá um sólido poder. Quando expirar, pense nos sete mundos inferiores dentro de você e tente jogar a força dos mundos superiores dentro dos mundos inferiores. Acumule tudo nos mundos superiores e então, enquanto diz ‘Supreme’, ‘Supreme’, ‘Supreme’ ao expirar, entre nos mundos inferiores com paz, luz e bem-aventurança, para purificá-los.”
*Supreme = Supremo em inglês, um nome de Deus. Você também pode usar Aum ou Senhor ou Deus.
2) Meditação (13 a 30 minutos)
O seguinte exercício é a parte principal da rotina, durante a música de flauta ou esraj. Meditação é identificação. Você tentará se tornar um com o céu. A sua mente diz que vocês são coisas separadas – por isso não vamos meditar na mente. O seu coração é o instrumento correto para se identificar com algo. Identificação é o sentimento de você ser a própria coisa com que se identificou. Você sentirá que é o céu, o vasto e ilimitado céu.
“Mantenha os olhos semiabertos e imagine o vasto céu. No começo, tente sentir que o céu está diante de você. Mais tarde, tente sentir que você é tão vasto quanto o céu ou que é o próprio vasto céu. Depois de alguns minutos, feche os olhos e tente ver e sentir o céu dentro do seu coração. Sinta que você é o coração universal, e que dentro de si mesmo está o céu no qual meditou e com o qual se identificou. O seu coração espiritual é infinitamente mais vasto do que o céu. Portanto, você pode facilmente abrigar o firmamento dentro de si.” – Sri Chinmoy, do livro Meditação
Há diversos outros exercícios que podemos recomendar depois que fizer esse por algumas semanas.
3) Finalizando o exercício e começando o seu dia: gratidão (1 minuto)
Após o exercício de meditação há a terceira faixa, de um só minuto com um xilofone. Ela é um lembrete para você oferecer gratidão. Gratidão por ter essa vida, gratidão por estar buscando algo maior, gratidão por ter tido uma boa ou má meditação (agora não importa mais como foi – é só agradecer), gratidão por tudo. A gratidão é capaz de transformar a sua vida. Segue um texto para inspiração:
“Pergunta: Como posso melhorar a minha meditação matinal?
Pergunta: A cada manhã, você precisa oferecer a sua gratidão a Deus, por ter despertado a sua consciência enquanto os outros ainda estão dormindo e por todas as bênçãos infinitas Dele para você. Se oferecer só um pouquinho da sua gratidão, você sentirá a Compaixão de Deus. Sentindo a Sua Compaixão, tente oferecer a si mesmo. Diga: “Tentarei agradá-Lo apenas à Sua maneira. Até agora pedi que Você me satisfizesse à minha maneira, dando-me isto ou aquilo para me fazer feliz. Mas hoje estou pedindo a capacidade de agradá-Lo à Sua própria maneira”. Se puder afirmar isso com sinceridade, automaticamente a sua meditação matinal será melhor. “
4) Leitura (15 a 30+ minutos)
Se tiver tempo (ou se puder acordar mais cedo para dar tempo), depois da sua meditação leia um livro escrito por um Mestre realizado ou, pelo menos, um buscador muito, muito avançado. Sugerimos 30 minutos como ideal, mas 15 ou 20 minutos já é muito bom. Assim não só o seu coração, que pode praticar a meditação, mas também a sua mente, através da leitura, podem receber uma luz mais elevada. Se quiser, aproveite a música para marcar o tempo também.
5) Esportes (20 a 30+ minutos)
Para ter um início de dia perfeito, pratique 20-30 minutos de exercício físico (corrida, natação, etc) para trazer luz interior e dinamismo e pureza exteriores para o seu corpo também. Não é só o coração e a mente que necessitam de nutrição espiritual – o corpo também precisa!