por Patanga Cordeiro, com respostas e aforismos de Sri Chinmoy
Yoga (ou ioga) é um termo do sânscrito que significa “união”, em particular união com nosso verdadeiro “eu”. No latim, de onde a palavra religião origina, “religare” quer dizer “reunião”. Assim, vemos que yoga e religião possuem metas que levam à mesma direção.
Três formas de yoga
Em particular, há três formas de yoga (ou ioga) que são encontradas nas religiões e caminhos espirituais: jnana yoga (ir além da mente), bhakti yoga (devoção), karma yoga (ação).
Hoje em dia, yoga é comumente associada com uma série de exercícios físicos, buscando equilíbrio dos nervos e proporcionando saúde. Mas quando se fala em espiritualidade, yoga não está relacionada com exercícios físicos. É uma questão de busca interior, de prática espiritual (como a oração e a meditação). Os exercícios físicos são agrupados de maneira geral como hatha yoga e servem para trazer saúde e estabilizar nosso sistema nervoso. Mas, por si só, não levam o ser humano à sua meta. É necessário exercitar nossa aspiração e transcender limitações internas e externas, através dos tipos de yoga tradicionais. Hatha yoga e os tipos de yoga espiritual são complementares.
Sri Chinmoy explica belamente no aforismo abaixo sobre hatha yoga e raja yoga (parte do jnana yoga), e seu papel complementar:
Hatha yoga é purificação física.
Raja yoga é preparação mental.
Hatha yoga tenta controlar o corpo.
Raja yoga tenta despertar a alma.
Os fracos precisam de Hatha yoga para se tornarem fortes.
Os fortes precisam de Raja yoga para se tornarem vitoriosos.
A meditação em si toma parte auxiliando o buscador em todas as formas do Yoga. Meditação é ir além da mente (jnana yoga). Meditação é devoção (bhakti yoga). Meditação é ação (karma yoga).
Então, a meditação em si não é o caminho, mas a meditação (e a oração) é quem nos faz trilhar o caminho do yoga até alcançarmos a nossa Meta derradeira.
textos de Sri Chinmoy
Hatha Yoga
Hatha yoga é purificação física.
Raja yoga é preparação mental.
Hatha yoga tenta controlar o corpo.
Raja yoga tenta despertar a alma.
Os fracos precisam de Hatha yoga para se tornarem fortes.
Os fortes precisam de Raja yoga para se tornarem vitoriosos.
Pergunta: A meditação que você oferece para as pessoas que participam das suas sessões, é ela Yoga, ou estamos falando de outra coisa?
Sri Chinmoy: É Yoga. Yoga inclui oração e meditação e espiritualidade em geral. Com certeza estamos praticando Yoga. Yoga é uma palavra do sânscrito que significa união consciente com Deus. Alcançamos nossa união consciente com Deus através da nossa oração, meditação, aspiração e etc.
O que é Yoga ou Ioga?
O que é Yoga? Yoga é a linguagem de Deus. Se queremos falar com Deus, temos de aprender a Sua linguagem.
O que é Yoga? Yoga é aquilo que revela o segredo de Deus. Se queremos conhecer o segredo de Deus, temos de mergulhar no caminho do Yoga.
O que é Yoga? Yoga é o Alento de Deus. Se queremos enxergar através dos Olhos de Deus e sentir através do Seu Coração, se queremos viver no Sonho de Deus e conhecer a Realidade de Deus, se queremos possuir o Alento de Deus e, finalmente, se queremos nos tornarmos o Próprio Deus, o Yoga nos chamará.
Yoga é união. É a união da alma individual com o Eu Supremo. Yoga é a ciência espiritual que nos ensina como a Realidade Última pode ser realizada na vida.
O que temos de fazer é aceitar a vida e satisfazer o Divino em nós mesmos aqui na Terra. Isso só se consuma ao transcendermos nossas limitações humanas.
Yoga nos diz o quão longe progredimos com relação à realização-Deus. Ela também nos conta sobre nosso papel destinado no Drama cósmico de Deus. A palavra final em Yoga é que cada alma humana é um representante divino de Deus na Terra.
Foquemos agora a nossa atenção no aspecto prático do Yoga. Há vários tipos de Yoga: Karma Yoga, o caminho da ação, Bhakti Yoga, o caminho do amor e devoção e Jnana Yoga, o caminho do conhecimento. Esses três são considerados os mais importantes tipos de Yoga. Há outros tipos significativos de Yoga, mas são ramos desses três, ou então tipos muito similares.
Esses três yogas servem como os três portais principais para o Palácio de Deus. Se queremos ver e sentir Deus da maneira mais doce e íntima, temos de praticar Bhakti Yoga. Se queremos realizar Deus na humanidade através do nosso serviço altruísta, temos de praticar Karma Yoga. Se queremos realizar a sabedoria e glórias do Eu transcendental de Deus, temos de praticar Jnana Yoga.
Uma coisa é certa. Esses três caminhos nos levam à realização-do-Eu na realização-Deus, e à realização-Deus na realização-do-Eu.
Pergunta: A prática de Kriya Yoga acelera (esse/o) processo?
Sri Chinmoy: Sim, certamente. A prática de Kriya Yoga certamente acelera e adianta o processo. Assim como outros ramos do Yoga, Kriya Yoga acelerará a jornada espiritual. Realmente depende do buscador. Se você gosta de Kriya Yoga mais do que outros Yogas, você tem a perfeita liberdade para praticar Kriya Yoga. Se alguém gosta de outra forma de Yoga, naturalmente essa pessoa praticará essa Yoga. Não importa qual Yoga você seguir, se for sincero, genuíno e altruísta, estará fadado a alcançar a meta mais cedo.
“Dear friends, dear brothers and sisters, dear distinguished professors and deans, here we are all seekers. We are sailing in the same boat, the boat that is carrying us to the Golden Shore of the Beyond. Nothing gives me a greater sense of satisfaction than to be of dedicated service to seekers, for I am also a seeker, an eternal seeker, a seeker of the infinite Truth and Light. …” – Sri Chinmoy, The Meaning of Discipleship
Se você se depara com a realidade de que está procurando algo, mas não sabe o quê, sinta-se um felizardo. Se você procura por algo que a maioria das pessoas não compreende ou nunca ouviu falar, isso quer dizer que está pronto para ir além do ordinário. Pronto para se descobrir como um ser extraordinário.
Você é um buscador. Um buscador da satisfação permanente, genuína. Salvação, Libertação, Nirvana, Realização – todos são termos similares que indicam um estado de beatitude que não se encontra simplesmente em ir ao trabalho, estudar, lidar com a família, descansar nos fins de semana…
Tentei compilar uma lista de coisas que indicam que você deve estar despertando e pronto para “algo mais”. Não é uma lista exaustiva – certamente existem muitos outros sinais. Mas esses são os que eu consegui agrupar aqui, baseados nas minhas experiências pessoais e também nas que me contam durante os cursos de meditação. Acho que você só compreenderá o que eu quis dizer em cada um dos temas se estiver passando pela situação descrita. Também não há questão de “superior ou inferior”. São momentos, experiências.
“Quero mudar”
Vontade de mudar algo que é dogmático na sociedade. Bons exemplos: dieta vegetariana, largar de vícios como álcool e cigarro, etc. Todo mundo sabe que é certo, mas (quase) ninguém faz. Você simplesmente não aguenta mais e muda. Talvez não conheça ninguém que tenha mudado, mas você o faz sozinho, a despeito de todos. Ou pode ser até algo bem simples, bem pequeno. No meu caso, eu lembro que, quando tinha uns 16 anos, eu só bebia sucos doces e refrigerantes. Eu não tomava água de jeito nenhum. Aí eu simplesmente resolvi parar de tomar as outras coisas. Resultado: aprendi a gostar de água e me senti capaz de me transformar. A partir daí eu comecei a mudar mais coisas em mim mesmo, até que cheguei na meditação. E hoje em dia eu posso beber tanto água quanto refrigerantes, sem estar vinculado a nada. Outro exemplo comum é começar a praticar esportes, no caso de uma pessoa sedentária. Eu fiquei muito tempo sem me exercitar (digamos, da infância até os 16 anos). Com 16 anos, comecei a praticar esgrima japonesa. O primeiro treino foi MUITO cansativo. Mas eu cheguei em casa com uma alegria que ia além da euforia. Só podia ser algo da minha alma – ela devia estar feliz, pois eu estava fazendo algo que ela queria que eu fizesse.
“Buscas extremas”
Algumas pessoas, quando procuram por algo que não sabem o que é, mas não encontram, tendem a procurar experiências cada vez mais fortes, no intuito de encontrar algo genuíno. A exemplo, tenho colegas que eram de bandas de heavy metal quando encontraram a meditação. Alguns começaram a usar drogas, etc, mas, no caso particular deles, não era uma questão de autodestruição. Eles estavam procurando. Algumas pessoas largam um emprego que paga um ótimo salário para fazer algo braçal. Outro exemplo interessante é o Ayrton Senna. Se você puder ver as entrevistas e gravações das corridas (há alguns filmes sobre ele), você verá que ele ia muito além do que os outros pilotos consideravam um limite. E ele teve experiências espirituais e um despertar interior muito evidente.
“O santinho”
Essa é uma versão oposta do “buscas extremas”. Uma pessoa equilibrada, com tendências angelicais, compassivas, sincero, honesto, puro, mas ainda dinâmico, buscador, aspirante, é assim por um motivo. Ele já tem uma tendência espiritual, provavelmente por já tê-las desenvolvido em outras vidas. Ele precisa encontrar um caminho logo, antes que suas qualidades sejam “devoradas” pelas críticas exteriores.
“Felicidade em si mesmo”
Você tinha um namorado(a), esposo(a) e, depois do relacionamento acabar, você se sente feliz genuinamente, com vontade de se descobrir, com tremenda aspiração. Existe mais um conceito na sociedade, que alguém só é feliz se tiver uma companhia, o que é absurdo. Buddha costumava dizer que só é feliz com uma companhia aquele que consegue ser feliz sozinho (obviamente). Eu mesmo passei por essa experiência. Quando terminei um relacionamento que não era para o progresso mútuo, eu tive uma sensação de felicidade tão intensa que reconheci imediatamente que era um sorriso da minha alma. Eu tinha feito a coisa certa, e muitas e muitas novas possibilidades, mais reluzentes, surgiram diante de mim a partir de então.
“O desencaixado”
Você se sente sozinho, ninguém o compreende. Você sabe que não está maluco, mas que o mundo parece não pensar como você. Na verdade, você ainda não encontrou pessoas que possuem a mesma aspiração que você. Quando o fizer, se sentirá encaixado. E mais, sentirá que a aspiração e o questionamento positivo é um estado natural do ser. E inspirará outras pessoas a fazerem o que sentem ser correto.
“O encaixado”
Essa é uma experiência inversa de “o desencaixado”. Uma pessoa extremamente popular e bem querida por todos, agrada a todos, lida com todos, possui muitos contatos e muitas pessoas queriam ser como ela. Possivelmente, essa pessoa possui capacidades interiores extraordinárias, mas ainda não está direcionando elas para uma busca espiritual. Assim, ela desenvolve o aspecto exterior. Cedo ou tarde, a pessoa deixa de ter satisfação no mundano e dirige o seu anseio para o Altíssimo.
Pergunta: Como podemos silenciar a mente na meditação?
Sri Chinmoy: Tente inspirar tão silenciosamente e lentamente quanto o possível, de forma que, se você colocasse um fino fio diante do seu nariz, ele não se moveria. Então você verá que a sua meditação será profunda e a sua mente ficará calma e silenciosa.
Então imagine algo muito vasto, e também calmo e silencioso. Quando começar a meditar, sinta que dentro de você há um vasto oceano, e que você mergulhou fundo adentro. Lá no fundo tudo é tranquilidade, uma enxurrada de tranquilidade.
A coisa mais importante é a prática.Hoje a sua mente age como um macaco. Essa mente inquieta bate o tempo todo na porta do seu coração, perturbando a sua serenidade. Neste mundo, todos possuem orgulho, vaidade e auto-estima. Portanto, se mantiver a porta do coração fechada cada vez que a mente vier, se não der atenção alguma à mente, depois de um tempo, a própria mente achará que seria indigno dela ficar importunando você. Eu percebi meus discípulos não abrindo a porta de seus corações quando a mente veio bater. Eles não reagiram com o coração, e o coração continuou imperturbado. O coração abriu amplamente as suas portas apenas para a Luz da alma e ouviu apenas os ditados da alma.
O pensamento vem do mundo mental. Mas você também tem o coração, o mundo-identificação. Quando permanece no coração, isso quer dizer que se identifica com a alma. A alma está além das idéias, além dos pensamentos. Ao invés de concentrar-se na mente central, se puder concentrar-se no coração, então a realidade que há dentro do coração automaticamente lhe dá um acesso à alma. Ao se concentrar e meditar na realidade que está dentro do coração, essa realidade vem à tona.
Ao se concentrar na mente, naturalmente os pensamentos virão incomodá-lo. Mas, ao se concentrar no coração, o problema é resolvido. Portanto, sempre tente meditar no coração e trazer a alma à tona. A alma, que é um representante direto de Deus, é a eterna realidade em nós.
Pergunta: Guru, você fala sobre a meditação. O que quer dizer meditação?
Sri Chinmoy: Meditação quer dizer muitas coisas para muitas pessoas. Cada indivíduo possui uma forma de aprender o segredo da arte da meditação. No nosso caso, quando meditamos, esvaziamos nossas mentes e, então, as preenchemos com algo divino. Isso quer dizer que jogamos fora todos os pensamentos infrutíferos, malignos e não-divinos, e preenchemos a mente com pensamentos gratificantes, iluminadores e divinos.
Pergunta: Por que meditamos?
Sri Chinmoy: A meditação é absolutamente necesária para aqueles que querem ter uma vida melhor e mais satisfatória. Se você sente que está satisfeito com o que tem e o que é, então não precisa entrar no campo da meditação. Mas, se você sente que há um deserto árido em seu coração, eu gostaria de dizer que a meditação é a resposta. A meditação lhe dará alegria interior e paz de espírito. A meditação nunca o tirará de seus pais, de seus filhos, de sua família. Longe disso. Ela apenas aumentará a conexão com os seus entes queridos, pois dentro deles você verá a existência de Deus.
Se você quer desenvolver seus talentos ou aumentar a sua capacidade em qualquer âmbito, eu gostaria de dizer que é obrigatório seguir uma certa disciplina interior. Se você é um cantor, mas deseja cantar infinitamente melhor, se aspirar, eu lhe digo, a sua voz ficará muito melhor. Não há nada na terra que não possa ser melhorado através da meditação.
Se você quer simplificar a sua vida, a meditação é a resposta. Se você quer ter satisfação na sua vida, a meditação é a resposta. Se você quer ter alegria e oferecer alegria ao mundo todo, a meditação é a única resposta.
Se você medita para esquecer do sofrimento ou das dificuldades, então não está meditando pelo motivo correto. Mas, se está meditando apenas para agradar a Deus e satisfazer a Deus da Maneira própria Dele, então a sua meditação é correta. Quando Deus é satisfeito, e Deus é satisfeito na sua meditação, então o papel de Deus é levar embora o seu sofrimento e dificuldades. Mas, se você medita para escapar do mundo ou desafiar o mundo e ficar contra ele, então está fazendo a coisa errada.
A meditação é a sua capacidade consciente, que você deve exercitar todos os dias e todos os segundos, para entrar em sua mais elevada divindade, onde o finito fica completamente perdido no Infinito. A existência finita que você tem e é pode ser facilmente dissolvida no infinito e se tornar completamente uma com o infinito, se você meditar. Isso é o que a meditação é, e o que a meditação pode fazer por você.
Sri Chinmoy: A sua alma tem uma missão especial. Sua alma está supremamente consciente dessa missão.
A maya, ilusão ou esquecimento, faz com que você sinta que é finito, fraco e indefeso. Isso não é verdade. Você não é o corpo. Você não é os sentidos. Você não é a mente. Eles são todos limitados. Você é a alma, que é ilimitada. A sua alma é infinitamente poderosa. A sua alma transcende tempo e espaço.
A sua alma possui uma missão especial? Sim. A sua missão está nos recessos mais profundos do seu coração, e você tem de encontrá-la e satisfazê-la lá mesmo. Não pode haver uma maneira exterior para que você satisfaça a sua missão. O almíscar cresce no corpo do cervo. Ele sente o cheiro do almíscar e, encantado, procura encontrar a sua fonte. Ele corre e corre, mas não consegue encontrar a fonte. Em sua busca interminável, ele perde toda a sua energia e, por fim, morre. Mas a fonte que ele procurava desesperadamente estava dentro de si mesmo. Como é que ele a encontraria em outro lugar?
Acontece o mesmo com você. A sua missão especial – que é a satisfação da sua divindade – não está fora de você, mas dentro. Procure no interior. Medite no interior. Você descobrirá a sua missão.
Como conhecemos qual é a nossa missão especial?
Sri Chinmoy: Para saber qual é a sua missão especial, você precisa mergulhar fundo dentro de si. A esperança e a coragem devem acompanhá-lo em sua jornada incansável. A esperança despertará a sua divindade interior. A coragem fará a sua divindade interior florescer. A esperança o inspirará a sonhar com o Transcendental. A coragem o inspirará a manifestar o Transcendental aqui na terra.
Para sentir qual é a missão especial, é preciso sempre criar. Essa sua criação é algo em que você derradeiramente se tornará. Finalmente, você percebe que a sua criação é a sua auto-revelação.
É verdade, existem tantas missões quanto almas. Mas todas as missões se satisfazem apenas depois das almas terem alcançado um certo grau de perfeição. O mundo é um teatro divino. Cada participante tem uma parte em seu sucesso. O papel de um servo é tão importante quanto o do Senhor. Na perfeição de cada papel individual está a satisfação coletiva. Ao mesmo tempo, a satisfação individual é perfeita apenas quando o indivíduo estabelece sua conexão inseparável e realizado sua unicidade com todos os seres humanos do mundo.
Você é um, da cabeça aos pés. Ainda assim, um lugar seu é chamado de orelhas, e outro se chama olhos. Cada lugar tem o seu nome próprio. Estranhamente, apesar de serem todos partes do mesmo corpo, um não pode fazer o papel do outro. Os olhos vêem, mas não conseguem ouvir. As ouvidos ouvem, mas não conseguem enxergar. Portanto o corpo, sendo um, também é muitos. Similarmente, apesar de Deus ser um, Ele Se manifesta através de muitas formas.
Deus nos conta qual é a nossa missão. Mas nós não entendemos a linguagem de Deus, e, portanto, Ele tem de ser o seu próprio intérprete. Quando outros nos falam sobre Deus, eles nunca podem explicar completamente o que Deus é. Eles fazem uma representação imperfeita, e nós ouvimos eles também de forma imperfeita. Deus fala no silêncio. E Ele interpresa a Sua mensagem em silêncio. Devemos também ouvir e entender Deus em silêncio.
Sri Chinmoy, The Wisdom of Sri Chinmoy, p 331-332, Blue Dove Press, San Diego, 2000
O próximo curso de meditação acontecerá em Janeiro, durante a noite. Serão 4 dias de curso, aproximadamente. A temática é voltada para a auto-descoberta e satisfação pessoal, e não a fins terapêuticos.
Para participar, acesse a página de contato, ligue para nós e deixe seu nome e telefone.
Se tiver interesse, pode já adquirir e ir lendo o livroMeditação nas livrarias ou sites. Ele será o livro-texto, necessário para o bom andamento do curso.
Universidade das Índias Ocidentais, Kingston, Jamaica
10 de Janeiro de 1968
Espiritualidade é a liberdade ilimitada do homem em seu barco-vida: a liberdade da sua jornada-vida, estar liberto das suas dores-vida e a liberdade além das suas conquistas-vida.
Na espiritualidade está a mais longínqua Visão do homem. Na espiritualidade está a mais próxima realidade do homem. Deus tem Compaixão. O homem tem aspiração. Espiritualidade é a luz-consciência que une a aspiração do homem e a Compaixão de Deus. A espiritualidade diz ao homem que ele é Deus velado e que Deus é o homem revelado.
A espiritualidade não é uma fuga do mundo de realidade. A espiritualidade nos diz o que a verdadeira realidade é e como podemos descobri-la aqui na terra. A espiritualidade não é a negação da vida, mas sim a pura aceitação da vida. A vida deve ser aceita sem reservas. A vida deve ser realizada devotadamente. A vida deve ser transformada completamente. A vida deve ser vivida eternamente.
A espiritualidade não é a canção da ignorância. É a mãe da concentração, meditação e realização. A concentração me leva de forma dinâmica a Deus. A meditação silenciosamente traz Deus até mim. A realização não me leva a Deus e nem traz Deus até mim. A realização me revela que Deus é o Pássaro Azul da Realidade da Infinidade e que eu sou as Asas Douradas da Verdade da Divindade.
A espiritualidade me ensinou a diferença entre a minha fala e o meu silêncio, entre a minha mente e o meu coração. Na fala, procuro me tornar. No silêncio, eu sou. Quando abro a minha boca, Deus fecha o meu coração. Quando fecho a minha boca, Deus abre o meu coração. Minha mente diz: “Deus precisa de mim.” Meu coração diz: “Eu preciso de Deus.” Minha mente quer possuir a Criação de Deus enquanto a nega. Meu coração quer possuir a Criação de Deus enquanto a serve. Minha mente diz que não sabe se pensa em Deus ou nela mesma. Por vezes, a minha mente sente que, já que não pensa em Deus, também Deus não pensa nela. Meu coração vê e sente que Deus pensa nele, mesmo se ele não se dá ao trabalho de pensar em Deus.
A espiritualidade disse-me secretamente qual é a minha necessidade suprema e como posso alcançá-la. Qual é a minha necessidade suprema? A Bênção de Deus. Como posso tê-la? Simplesmente emprestando-a do Banco de Deus.
Como poderei pagar a minha dívida? É fácil! Basta emprestar novamente do Banco de Deus. Mas devo emprestar sabedoria, e nada mais. Com a sabedoria, o débito é anulado. Essa sabedoria é justamente o alento da espiritualidade.
Eu sou o experimento de Deus. Ele me deu o nome de Ciência. Eu sou a experiência de Deus. Ele me deu o nome de Espiritualidade. Eu sou a Realização de Deus. Ele me deu o nome Unicidade – Unicidade interior e Unicidade exterior.
Temos duas partes para este artigo. A primeira é “Como aprender técnicas de meditação”. A segunda é “Como fazer a meditação se tornar uma força e uma vantagem na minha vida”.
Onde aprender técnicas de meditação
Existem diversos livros escritos sobre o assunto, desde exercícios para o psicológico até exercícios para a meditação profunda. Depende do seu objetivo. No entanto, recomendo a você mirar alto. Um professor do jardim de infância pode ensinar o alfabeto. Já um professor universitário pode ensinar tanto o alfabeto quanto pode lhe dar um diploma profissional.
Assim, se você tentar meditar de verdade, vai receber tanto os benefícios mais espirituais (transformação do ego, uma nova perspectiva, uma visão do mundo mais esclarecida e mais bela, serenidade e satisfação genuína), quanto os mais superficiais (controle da ansiedade, medos, saúde, calma, etc).
Outra coisa interessante é que se você puder ir além dos livros e encontrar pessoas que estão ensinando ou aprendendo meditação, isso lhe ajudará muito. É como uma brasa fria, que volta a queimar ardentemente após ser colocada dentro da fogueira. A gente funciona assim, não? Realmente vale a pena procurar um lugar legal para aprender.
Mas agora, por que motivo você quis se dedicar ao melhoramento interior? Por que você está fazendo diferente dos seus amigos ou familiares? Parece não haver motivo. Mas há. Isso se chama aspiração. Essa aspiração é uma chama ascendente, que começa a queimar nossas amarras, nossos bloqueios e limitações e nos remete a anseios mais sublimes do que os nos rodeiam diariamente. Cedo ou tarde, todo mundo passa por isso. Os motivos podem ser muitos e normalmente não conseguimos identificá-los.
A aspiração nos leva à segunda parte deste artigo:
Meditação “não sei por quê”
Muitas vezes chegamos a essa conclusão. Eu apenas quero meditar. Nem sempre temos um motivo exterior. Mas a aspiração nos leva até ela. Para você que está desperto, apenas as técnicas de meditação que lemos nos livros não serão suficientes. Você tem capacidade para mais.
Para aprender meditação mais a fundo, são três os passos principais. Eles são universais, mas, para ilustrar, usarei um mantra do budismo:
“Eu tomo refúgio no mestre, eu tomo refúgio no ensinamento e na disciplina e eu tomo refúgio na comunidade espiritual.”
Comunidade espiritual (isto é, amigos)
Esse quesito não precisa ser seguido à risca do seu significado no dicionário. É importante ter contato com pessoas que compreendam a sua busca, que tenham fins próximos e que usem métodos similares. Não é necessário se mudar para uma vila na floresta e praticar meditação. É claro que essa é uma possibilidade, mas mestres modernos como Sri Chinmoy e Sri Aurobindo também defendiam a possibilidade, as vantagens e a plenitude de viver uma vida normal e natural dentro da sociedade, mas sem deixar de lado a dimensão espiritual.
Por exemplo, entre os métodos cristãos, budistas, etc, e também entre as pessoas que não praticam a meditação de forma religiosa (pois, obviamente, a meditação não é vinculada a religião), é bem comum que uma ou duas vezes por semana essas pessoas se encontrem para praticar juntas. Depois de praticar, provavelmente irão conversar sobre as suas boas experiências, sobre as dificuldades atuais, trocarão conselhos e até mesmo farão um lanche juntas! A maior parte das pessoas vai à academia, natação, corre ou faz aulas de inglês, etc, mais do que uma ou duas vezes por semana, então fica fácil ver que não é difícil se encontrar semanalmente para acalentar a sua aspiração e a de seus colegas.
Ensinamento e disciplina
Estou partindo do princípio que todos os que estão lendo este artigo comem todos os dias, tomam banho todos os dias, escovam os dentes todos os dias, trabalham quase todos os dias (domingo em casa tem que cuidar do jardim e da bagunça no quarto, né?), e muitas outras coisas. Assim, o que você perdeu em ser disciplinado? Nada. Você ganhou muito.
A questão da disciplina é que tudo o que é bom a gente tenta praticar e incorporar no nosso dia-a-dia. Isso em si nos dará mais força para levar o dia em um fluxo mais perfeito e harmonioso. Se eu não almoço, provavelmente vou ficar fraco durante a tarde. Se eu não medito, provavelmente me sentirei vazio interiormente durante o dia. Não é razoável?
Outra parte da palavra dhammam (ou dharma) é o ensinamento e postura espiritual. Assim como um bebê aprende a usar o banheiro, como uma criança aprende o alfabeto, como um jovem aprende um ofício, o buscador espiritual aprende instrumentos para o seu desenvolvimento. Isso não é nada menos do que o ensinamento espiritual.
A figura do Mestre
Se você, assim como eu, veio de uma cultura bem racional, que busca explicações para tudo, talvez sinta que a figura do mestre é dispensável. Isso é bem natural de se pensar, porque a gente está acostumado a usar nosso ego individual para observar e julgar as coisas. Assim, achamos que sabemos de tudo.
Mas na vida interior, somos todos principiantes. Veja uma criança. A sua mãe lhe diz para não colocar a mão no fogo. A criança ouve a mãe. Ela sabe que sua mãe está sempre certa e que ela a ama muito. Se a criança quisesse descobrir por conta própria por que motivo não deve colocar a mão no fogo (e outras coisas que sua mãe lhe ensina), ela iria ter muitas experiências desagradáveis. Ela iria se queimar um dia, no outro iria se cortar, no outro cair, no outro se furar, no outro se esquecer, no outro ficar triste, no outro solitária, até que um dia iria se conformar com o fato de que o mundo é só sofrimento. Mas não é. É uma questão de sabedoria. Aproveitamos os ensinamentos do passado para seguir em frente. Um pesquisador aproveita a pesquisa do ano passado e segue em frente a partir daí. Ele não tenta pesquisar a mesma coisa que já foi pesquisada. Ele a usa como base para conquistas maiores. “É assim que a humanidade segue em frente.”
Estive em viagem de fim de ano em San Diego, na Califórnia, para passar duas semanas com meus amigos do Centro Sri Chinmoy. Entre diversas coisas, durante a inauguração da exposição de arte de Sri Chinmoy no saguão da prefeitura da cidade, Ranjana Ghose, curadora da arte Jharna-Kala de Sri Chinmoy, recitou um poema de Sri Chinmoy. Eu não anotei na hora, mas poema diz algo no seguinte sentido: O que cresce entre a árvore-fracasso e a árvore sucesso de nossas vidas é a árvore-paciência.
Muitas vezes consideramos a paciência como algo fraco, débil – a nossa última opção após não alcançarmos algo da forma esperada. Ou então a manipulamos como uma desculpa para deixar de fazer algo em vista.
Sri Chinmoy fala sobra a paciência:
“O que é a paciência? É uma certeza interior do Amor sem reservas e Orientação incondicional de Deus. A paciência é o Poder de Deus oculto em nós, para superarmos as abundantes tempestades da vida.” Songs Of The Soul, Agni Press, 1971.
“A paciência é uma árvore que cresce dentro de nós e não produz apenas um fruto, mas quatro: sabedoria, alegria, paz e vitória. Paciência requer energia, assim como a cooperação do corpo, vital e mente. Sem paciência, a mente funciona de forma automática, como uma máquina. Ela se move por compulsão, não por escolha. Ela é inquieta – corre para lá e para cá. O corpo pode ser inerte, mas a mente está sempre vagando. Por isso, não pode existir paz sem paciência. …”
Meditação e concentração são formas de ensinar à mente como focar sua energia para um objetivo, ao inves de ficar “sempre vagando”. Ele continua:
“Paciência não é inércia. Inércia é uma forma negativa e destrutiva de abordar a Verdade. É estagnada, e aquilo que é estagnado por fim leva à destruição. Mas a paciência é dinâmica – ela sempre segue em frente, em direção à meta. A paciência possui o movimento contínuo de crescimento e está sempre acompanhada pela paz. Essa paz nunca pode ser confundida com inércia, que é sempre acompanhada por inquietação.” Illumination-Fruits, Agni Press, 1974.
Vejam como é interessante! Inércia é acompanhada por inquietação (imaginemo-nos deitados na cama, sem fazer nada, sacudindo os pés ou pensando em coisas fúteis.) Paciência é dinâmica e leva à paz. Imaginemo-nos realizando um projeto certeiro, superando dificuldades no tempo certo e colhendo os frutos da ação: não o sucesso, mas a paz.
Estive lendo um livro chamado Comentários sobre os Vedas, Upanishads e Bhagavad Gita. São escritos dos mais elevados que já foram derramados pelas penas dos sábios dos tempos remotos. Alguns deles detinham iluminação completa, acredita-se. Sri Chinmoy escolheu alguns dos mais importantes trechos e fez comentários.
Eu mesmo pensava que esse tipo de tema era meio “esotérico”, “coisa antiga”, etc. Mas alguns anos de meditação me fizeram deixar de lado preconceitos e parte da minha ignorância, e passei a enxergar de outra forma esses escritos tão especiais.
Abaixo seguem alguns dos meus trechos favoritos, com as traduções e comentários de Sri Chinmoy traduzidos ao português por mim.
* * *
Prehi, abhihi, dhrishnuhi.
Go forward, fear not, fight.
Siga em frente, não tema, lute.
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Tad ejati tan naijati tad dure tad vad antike …..
That moves, and That moves not. That is far, and the same is near. That is within all this; That is also without all this.
Aquilo Se move e não Se move. Aquilo é longínquo e Aquilo é próximo. Aquilo está dentro disto tudo e Aquilo está fora disto tudo.
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Tat twam asi.
That thou art.
Aquilo tu és.
Nayam atma bala-hinena labhya.
This soul cannot be won by the weakling.
A alma não pode ser conquistada pelo fraco.
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Satyam eva jayate.
Truth alone triumphs.
Somente a Verdade triunfa.
Commentário
A Verdade é a Coroa de Deus oferecida a Deus por Ele mesmo. Verdade realizada, Deus para sempre conquistado.
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Hiranmayena patrena satyasyapihitam mukham;
Tat tvam, pusan, apavrnu, satya-dharmaya drstaye.
The Face of Truth is covered with a brilliant golden orb. Remove it, O Sun, so that I who am devoted to the Truth may behold the Truth.
A Face da Verdade está coberta um uma esfera dourada brilhante. Remova-a, ó Sol, para que eu, que sou devoto à Verdade, possa enxergar a Verdade.
Comentário
A Face da Verdade nos desperta. O Olho da Verdade nos alimenta. O Coração da Verdade nos constrói.
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Nalpe sukham asti bhumaiva sukham.
In the finite there is no happiness. The Infinite alone is happiness.
No finito não há felicidade. Apenas o Infinito é felicidade.
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Ekamevadvitiyam.
Only the One, without a second.
O Uno sem igual.
*
Uru nastanve tan
Uru ksayaya naskrdhi
Uru no yandhi jivase
Give freedom for our bodies.
Give freedom for our dwelling.
Give freedom for our life.
Liberdade para nossos corpos.
Liberdade para nossa morada.
Liberdade para nossa vida.
*
Tejo joh si tejo mayi dhehi. . .
Thy fiery spirit I invoke.
Thy manly vigour I invoke.
Thy power and energy I invoke.
Thy battle fury I invoke.
Thy conquering mind I invoke.
Vosso espírito ardente eu invoco.
Vosso vigor viril eu invoco.
Vosso poder e energia eu invoco.
Vossa fúria da batalha eu invoco.
Vossa mente conquistadora eu invoco.
*
Pranavo dhanuh saro atma …
AUM is the bow and Atma, the Self, is the arrow; Brahman is the target.
AUM é o arco, e Atma, o Eu, é a flecha. Brahman é o alvo.
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Charai veti, charai veti.
Move on, move on.
Siga em frente, siga em frente.
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Aum bhur bhuvah svah
Tat savitur varenyam
Bhargo devasya dhimahi
Dhiyo yo nah pracodayat.
Meditamos na glória transcendental da Divindade Suprema, que está dentro do coração da terra, dentro da vida do céu e dentro da alma do paraíso. Que Ela estimule e ilumine nossas mentes.
Comentário
Iluminação é necessária. Aqui está a resposta. A iluminação transcendental transforma o animal em nós, liberta o humano em nós e manifesta o Divino em nós.
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Anandadd hy eva khalv imani bhutani jayante,
Anandena jatani jivanti
Anandam prayantyabhisam visanti.
From Delight we came into existence.
In Delight we grow.
At the end of our journey’s close, into Delight we retire.
Do Deleite viemos,
No Deleite crescemos e,
Ao fim de nossa jornada, ao Deleite retornaremos.
Comentário
Deus escreveu uma carta aberta aos Seus filhos humanos. Sua carta diz: “Minhas mais doces crianças, vocês são o único deleite de Minha Existência universal.”
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Yenaham namrta syam,
Kim aham tena kuryam
What shall I do with the things that cannot make me immortal?
O que farei com as coisas que não podem me fazer imortal?
Comentário
Deus é eternamente orgulhoso do homem porque ele incorpora a Imortalidade de Deus.
Tal é a beleza da poesia! Em poucas palavras ela diz muitos parágrafos. Preciso explicar muito? Algumas considerações além do poema:
Nada é difícil
Se tivermos a alegria e disposição necessária, nenhuma meta merecida estará além do nosso alcance. E seremos uma fonte de inspiração para nossos irmãos e irmãs.
Nada é fácil
Todos passamos por dificuldades. Ao invés de usar nossa crítica, podemos usar nosso poder de identificação. Podemos nos identificar com a força alheia, que está sendo usada para alcançar um objetivo. Assim, iremos logo descobrir essa força em nós mesmos.
Recentemente tenho escolhido vídeos para mostrar nos cursos de meditação. Aproveito para compartilhá-los com vocês nesta página. Alguns vídeos são para meditação, outros são para inspiração e alguns para instrução.
Nos vídeos em que Sri Chinmoy medita em silêncio, tente se identificar com a Fonte da sua meditação. Silencie os seus pensamentos e pouse o seu olhar no vídeo. O movimento dos olhos em alguns dos vídeos de Sri Chinmoy representa a ascensão da alma para diversos ramos de consciência, como um pássaro numa árvore.
Queridos buscadores, queridos irmãos e irmãs, queridos aspirantes à Meta última mais elevada, quero dar uma palestra sobre o assunto da escolha. Quem fez a primeira escolha: Deus ou eu? Minha mente pensa que fui eu quem escolhi Deus. Meu coração sente que Deus e eu nos escolhemos simultaneamente. Minha alma sabe quem foi Deus quem me escolheu primeiro, bem antes de eu ter até mesmo sonhado em escolhê-Lo.
Cada ser humano é um escolhedor. Ele escolhe a humanidade para obedecer suas ordens expressas. Ele escolhe Deus para escutar as orações de sua alma. O animal no homem escolhe a destruição da vida. O humano no homem escolhe a admiração do mundo. O divino no homem escolhe a realização em Deus. O Supremo no homem escolhe a perfeita Perfeição.
Nós escolhemos Deus quando percebemos que o mundo não precisa de nós, que o mundo não liga para nossa luz sabedoria. Somente quando o mundo exterior nos desiludiu e nosso mundo imediato nos abandonou é que pensamos em escolher Deus. Deus nos escolhe porque Ele não quer beber o néctar da Imortalidade sozinho. Deus nos escolhe porque ele não quer revelar Sua Realidade transcendental sozinho. Deus nos escolhe porque Ele não quer manifestar Sua Unicidade universal sozinho.
Nosso corpo escolhe descanso, o descanso agradável e prazeroso. Nosso vital escolhe agressão, agressão titânica. Nossa mente escolhe informação, informação enciclopédica. Nosso coração escolhe amor, amor todo preenchedor. E Deus escolhe perfeição por dentro e perfeição por fora em nossa vida interior de realização e perfeição em nossa vida exterior de manifestação.
Antes de entrarmos na vida espiritual nós escolhemos o poder do mundo exterior. Mas uma vez que entramos na vida espiritual nós escolhemos apenas a luz do mundo interior. Antes de entrarmos na vida espiritual nós escolhemos nome e fama do mundo exterior. Mas uma vez que entramos na vida espiritual nós escolhemos participar o mais devotadamente e de toda alma no Jogo cósmico de Deus para agradá-Lo e preenchê-Lo à maneira Dele.
Agora, o que é a vida espiritual? A vida espiritual é a vida de nosso despertar consciente de Deus. O que mais é a vida espiritual? A vida espiritual é a vida de nosso amar constantemente a Deus e de nosso derradeiro tornar-se Deus. Eu escolho Deus, não porque Ele é todo Poder, não porque Ele é todo sabedoria, não porque Ele é todo Luz e todo Paz, nem mesmo porque Ele é todo Amor, mas porque Ele e Eu somos um. Deus e Eu somos eternamente um. Você e Deus são eternamente um. Nós somos todos eternamente e inseparavelmente um com Deus.
Eu sou o Barco Sonho do Coração de Deus e Deus é a Margem Realidade de minha vida. Esta é a realização que cada buscador individual aqui e em todos os lugares estão destinados a atingir mais cedo ou mais tarde. Somos todos inseparavelmente um com Deus. É por esta razão e nenhuma outra que nós escolhemos Deus. Enquanto estivermos inconscientes do fato de que somos um com Deus, nos entregamos com contentamento nos prazeres da ignorância. Mas uma vez que nosso ser interior está desperto, nossa alma vem à tona e convence nossa mente física exterior do fato de que somos não somente instrumentos escolhidos de Deus, mas também companheiros eternos de Deus. Ele precisa de nós, assim como precisamos Dele. Ele é a Árvore e nós somos os galhos e folhas. O tronco da Árvore e os galhos e folhas precisam um do outro. Nós escolhemos Ele para nossa realização, assim como Ele nos escolhe para Sua manifestação. Sem Ele não podemos realizar nossa Altura absoluta mais elevada. Ao mesmo tempo, sem nós Ele não pode manifestar Sua Visão na Realidade, Sua Realidade em Visão.
Cada ser humano na terra representa Deus de acordo com sua própria capacidade e receptividade. Em e através de cada ser humano Deus manifesta a Si mesmo de uma forma específica. Cada indivíduo é de importância suprema para Ele, pois Ele mesmo escolheu cada indivíduo para exercer um papel significativo em seu Drama cósmico. Mas temos que saber que é Deus quem nos escolhe primeiro, e não nós quem escolhemos Deus. O Criador cria a criação, e então a criação admira o Criador. A criação é a escolha do criador e admiração é a escolha da criação. É através da admiração e adoração de nosso coração que nos tornamos conscientemente um com o Piloto Supremo, e é através da escolha consciente de compaixão Dele que Ele estabeleceu Sua unicidade inseparável com cada ser humano, cada criança Sua na Terra.
Dever é a escolha suprema de Deus. Ele sente que não pode haver nada mais importante que dever. Ele exerce Seu Dever a cada momento, pois sente que exercendo Seu Dever Ele está não só despertando a consciência da terra, mas também trazendo o Deleite do Paraíso para o próprio coração da Terra.
Somos ao mesmo tempo os representantes da Mãe Terra e do Pai Paraíso. Como representantes do Pai Paraíso, nossa primeira e mais importante escolha deveria ser a auto-doação ao Amado Supremo. É em nossa auto-doação que podemos manifestar a Realidade Transcendental na Terra. Como representantes da Mãe Terra, sentimos que é nosso dever inerente espalhar nossas asas como um pássaro – não para cobrir toda a extensão do mundo, mas para expandir nossa consciência terrena, para transcender os limites de nossa existência terrena. Aqui na Terra temos que mergulhar fundo para dentro e tentar espalhar nossas asas de Luz e Deleite, para que possamos crescer conscientemente na Consciência Universal sempre transcendente e expansiva.
Deus fez Sua escolha nos escolhendo; agora podemos fazer nossa escolha O escolhendo. A escolha Dele é a canção da manifestação. Nossa escolha é a canção da realização. E a realização de hoje é a manifestação de amanhã. Ao mesmo tempo, a manifestação de amanhã é apenas o começo de uma jornada para frente, para cima e para dentro. Hoje, na força de nossa escolha interior, nós vamos para frente para cima e para dentro e alcançamos nosso destino escolhido. Mas o destino de hoje será apenas o ponto de partida para nosso objetivo mais longe, mais alto e mais preenchedor de amanhã. Não há Objetivo fixo, pois estamos evoluindo. No processo de evolução, estamos correndo, voando e mergulhando em direção a um Objetivo sempre transcendente, mais profundo e mais amplo. Correr mais longe, voar mais alto e mergulhar mais profundo é a única escolha que cada buscador individual na Terra deveria conscientemente, devotadamente, sem erros e incondicionalmente fazer.