Um real e um abacate – tem Alguém cuidando de mim

Hoje estava correndo, e uma moeda de um real caiu da sacola. Só ouvi o barulho da queda de um metal. Sri Chinmoy costuma contar que ele pega todas as moedinhas que acha na rua, mesmo de um centavo. A intenção é não esnobar o presente de prosperidade. Eu peguei esse costume também.

Então fiquei procurando a moeda na calçada, mas não consegui achar. Um senhor passou caminhando e perguntou, “Perdeu algo?” Enquanto caminhamos alguns metros, ele passou bem do lado da moeda, que estava bem mais para frente de onde eu estava procurando. Ele disse: “Ah, você a achou por causa de mim!” Parece algo engraçado, mas achei que Alguém tinha mandado ele, ou era Ele mesmo Alguém que foi me mostrar onde estava a moeda, pois eu justamente não tinha conseguido achar e estava prestes a me conciliar com a perda.

Agora já bem grato e feliz com a experiência e a sensação de cuidado por mim, na quadra seguinte encontrei um abacate caído para dentro de um terreno público meio abandonado. Estava verde ainda e devia ter caído na grama e rolado até a grade. Levei-o para casa como um presente também e vou esperá-lo amadurecer junto com a minha percepção das coisas!

Experiências de silêncio interior e exterior

Pergunta: Recentemente tenho me sentido não apenas fisicamente fraco, mas também fraco de outras formas. Fico me perguntando como posso ficar forte para poder correr o mais rápido.

Sri Chinmoy: Permaneça em silêncio, silêncio, silêncio. Mesmo quando estiver caminhando, não permita que quaisquer pensamentos venham. Não pense “Este é um pensamento bom, aquele é um pensamento ruim.” Não. Tente não ter pensamentos, nenhum pensamento. Permita que Deus pense dentro de você. Permita que o Supremo pense dentro de você. Deixe que Ele faça o necessário. Se algum pensamento aparecer, interrompa-o, interrompa-o, interropa-o. Você verá como terá muito mais energia, disposição, avidez e tudo o mais que precisar. O caminho lhe será mostrado.

Só mantenha a mente em silêncio absoluto – mesmo por dois ou três minutos. É como o desenvolvimento de um músculo. Se hoje conseguir manter a mente em completo silêncio por dois minutos, e amanhã por três minutos, então gradualmente, gradualmente, se fizer isso por bastante tempo, verá o quanto poderá melhorar na sua vida interior – não apenas na sua vida interior, mas também na sua vida exterior. Você será capaz de fazer melhorias tremendas.

Sri Chinmoy, Conversations with Sri Chinmoy, Agni Press, 2007

Aprendi a encarar o escrever como um serviço especial. Assim que me propus a escrever neste momento, veio um sentimento de utilidade – de que eu estava a fazer algo de fato valioso. Não sei se vocês poderão aproveitar algo, mas pelo menos a minha própria aspiração se aproveita do ato!

Quando fazemos algo de valor, por vezes uma espécie de silêncio interior brota. Não é o silêncio completo, a ausência de pensamentos, mas sim algo dinâmico e, ao mesmo tempo, pacífico. É como saber que está fazendo a coisa certa, porque aquilo tem de ser feito e, portanto, nada nos incomoda de forma derradeira. Basta continuar fazendo.

 

Experiências de silêncio interior com coisas do dia a dia

Tocando violoncelo

Uma vez, num domingo à tarde, sentei-me para fazer uma meditação extra. Mas não deu certo. Estava por demais inquieto. Resolvi então pegar um instrumento musical para praticar um pouco. Como para mim era algo incrivelmente difícil, precisei me concentrar muito. Lembro até mesmo de um pouco de saliva escorrendo do canto da boca, pois eu tinha perdido controle dessas funções ao me concentrar para tocar.

Assim que terminei de praticar, senti-me novamente inspirado a tentar meditar. Assim que sentei, logo tive uma daquelas melhores meditações do ano. Acho que foi o fato de eu ter me concentrado bastante antes, que criou um silêncio na mente, permitindo ao coração meditar em paz. Senti que essa meditação sozinha valeu todo o gasto com comprar o instrumento e os meses de prática!

 

Praticando kendo: mushin

A primeira vez foi quando eu era adolescente. O sensei estava fazendo eu passar por um treino muito difícil, e eu fiquei além de esgotado. Quase não conseguia me manter em pé, nem esticar os braços para frente e tive de continuar treinando com ele. Quando – de repente – ele ataca e eu, sem saber o que estava acontecendo, fiz um contra-ataque que foi perfeito para o meu nível atual. Eu mesmo só observei o ato, e como o fiz com vigor e precisão, com uma energia que não parecia disponível nem quando estava descansado, e muito menos naquele nível de exaustão extrema.

A segunda vez que lembro foi mais recente. A situação foi similar. O sensei estava exigindo que eu fizesse golpes bem melhores do que eu conseguia no momento. E, com o passar dos momentos, eu ficava mais cansado, pela repetição. Isso fazia com que os golpes piorassem, ao invés de melhorar. Foi então que, depois de muita exigência, o golpe “perfeito” brotou: ao invés de eu reagir após o chamamento dele para golpear, simplesmente consegui golpear na mesma hora que ele decidiu que eu deveria golpear. O próprio sensei sorriu e me abraçou, dizendo: “Você viu!? Aqui dentro (apontando para a minha cabeça), esse foi um golpe muito bom.”

Outra vez que lembro foi quando o sensei colocou todos nós para um dos exercícios mais cansativos, e por mais tempo que o de costume. Em seguida, ele chamou a mim e mais alguns colegas para continuar fazendo com ele e outros mais graduados o mesmo exercício do qual estávamos exaustos, sem descanso algum. Tentei fazer o meu melhor. Percebi ao voltar para casa que estava tão silencioso que nem mesmo a minha mente sabia como voltar para casa. Eu só sabia voltar por partes: “Saia do dojo. E agora? Anda até a estação de metrô. E agora? Pega tal trem.” Etc. Caminhando da última estação para casa, eu estava tão satisfeito, mesmo indefeso como uma criança de tão cansado. Espontaneamente surgiu na minha mente a repetição “Supreme, Supreme, Supreme…” (Supremo, Deus.) Eu fiquei repetindo o nome de Deus em silêncio, pois nada mais havia senão isso para ocupar o espaço criado.

 

 

Experiências de silêncio interior com a meditação

Fazer a “coisa certa”

Lembro de estar no trabalho logo antes de dar um curso de meditação. Antes de ir embora no fim do expediente, parei para meditar por uns 5 minutos. Foi uma meditação tão boa que era óbvio que não era eu quem estava meditando. Aquela meditação me foi concedida, isso sim. Peguei o metrô para ir dar o curso mais a noite e nada importava. Tudo estava ótimo, todas as coisas, todas as pessoas belas, e eu estava satisfeito. Acho que simplesmente eu estava fazendo a coisa certa ao ir de noite oferecer o curso de meditação, e Alguém quis me ajudar a fazer o serviço dar certo.

Tenho vagas impressões também de outras vezes em que, logo após “fazer a coisa certa”, senti um grande silêncio e satisfação interior. Algumas coisas foram difíceis de fazer ou decidir, por vezes envolviam outras pessoas. Mas fico com a sensação de que foi o mais certo – não que eu me convenci de que era o correto, mas sim que a sensação e o silêncio que sobraram eram o indicativo.

O Mestre espiritual

Aproximadamente em 2005 estávamos reunidos num fim de semana para jogos, meditação, corrida, canto, etc. Nosso Mestre nos ligou de Nova Iorque e abençoou cada um no telefone: “My soul´s highest blessings and my heart´s infinite love to you.” Assim que soltei o telefone, percebi a mudança de consciência. Não restava nada a ser feito. Resolvi ir meditar na sala. Um colega também veio. Ficamos sentados muito tempo. Eu tinha a sensação de que nem precisava meditar – era só me manter aberto e receptivo. Tudo já tinha sido feito. Eu fui um paciente do que aconteceu. Vocês já viram algum ditado como “Um simples toque do Mestre pode…”?

O melhor dia da minha vida – preenchido pela meditação

Uma pequena anedota: outro dia de manhã cedo senti que era o melhor dia da minha vida. O dia mais feliz da minha vida. O que aconteceu assim, tão logo cedo?

Conquistei algum objetivo da minha vida? Recebi uma boa notícia? Alguém me disse algo bom? Consegui um bom emprego? Comprei a casa própria? Ganhei na loteria? Família, amigos?

Não.

Eu só estava sentado, meditando em silêncio, e senti uma satisfação tão grande no meu coração. Eu estava ali apenas e senti-me o ser mais feliz. Todas possibilidades mais acima são bem transientes. Hoje parecem ótimas, mas amanhã já acontece algo e passamos a ficar na dúvida se realmente foram coisas boas, quanto mais a melhor coisa que já aconteceu.

Já a experiência que tive foi algo tão sólido, tão real. Sinto ela enquanto escrevo-a hoje, passadas algumas semanas. Meus dias mudaram, pelo menos os dias que vivem dentro de mim. Eu mudei.

Peace means satisfaction —
Satisfaction through prayer,
Through meditation
Or through surrender
To God’s Will.

-Sri Chinmoy

From the book Twenty-Seven Thousand Aspiration-Plants, part 65

Seja feita a Vossa Vontade – como é fácil orar e meditar por um minuto várias vezes ao dia

“Todos os dias você possui vinte e quatro horas à disposição. Dessas vinte e quatro horas, você dedica diariamente meia hora ou uma hora para Deus. Você medita de manhã cedo por cinco minutos e então diz: “Eu meditei.” Você fez a sua parte e passa o resto do dia do seu próprio jeito. Mas não há aspiração, devoção, clamor interior. Das vinte e quatro horas, você poderia facilmente ter dedicado pelo menos três ou quatro a Deus.”

– Sri Chinmoy, Inspiration-Garden and Aspiration-Leaves, Agni Press, 1977

Meditar por um minuto várias vezes ao dia

Alguns meses atrás, estive com colegas europeus do Centro Sri Chinmoy que estavam fazendo horários extras de meditação (porque e como começar) durante o dia. Anos atrás eles criaram também um horário diário para orar por cinco minutos pela Vitória divina. Achei bem inspirador, pois nunca sabemos com certeza qual é a coisa certa – talvez até pensemos o que seria a coisa “boa”, mas a coisa “certa” pode ser diferente. Pode ser que algumas experiências sejam necessárias para nós. Assim também não há julgamento nem tomar partido com os conflitos exteriores ou interiores, coletivos ou individuais. É apenas oferecer a sua boa vontade para o mundo e para que o melhor aconteça, para a Vitória de Deus.

 

“Seja feita não a minha, mas a Vossa Vontade.”

 

Recentemente comecei junto com meus colegas a fazer dois horários no dia para orar ou meditar por alguns minutos pela Vitória divina. Foi muito inspirador. Em seguida, comecei a ler um diário de um dos alunos de Sri Chinmoy da Suíça, que tem enormes responsabilidades materiais e espirituais. Num certo momento, Sri Chinmoy havia lhe recomendado que parasse o trabalho/etc a cada duas horas para meditar por três minutos. Ele frisou que deveria considerar esses três minutos como o verdadeiro trabalho, e que as duas horas restantes de tarefas do escritório seriam apenas uma preparação para esses três minutos. Nunca tinha pensado nisso, mas não fiquei surpreso ao ouvir. Faz todo sentido. Como eu faria algo corretamente sem ter a inspiração interior adequada? Posso até fazer “o que eu acho melhor”, mas talvez não “o que é o melhor”. A meditação e oração vão abrir portas para que uma Vontade superior possa inspirar nossas ações.

 

“Seja feita não a minha, mas a Vossa Vontade.”

 

Será que eu não consigo dedicar um minuto dentre cada sessenta minutos de uma hora? Comecei a fazer mais meditações curtas durante o dia. A cada hora um timer toca, e paro tudo que estou fazendo por um minuto. Tenho tido experiências ótimas. Tantas coisas boas de dentro de mim têm vindo à tona. Fico até surpreso ao lembrar sensações que tive em décadas passadas sobre a minha vida espiritual; lembrar orações que fazia anos atrás – tudo isso tem vindo espontaneamente em algumas dessas meditações de um minuto.

 

Para quem quiser tentar, algo que ajuda é usar um timer. Posso recomendar usar um app gratuito para o iPhone chamado Timer+. Você consegue configurar para apenas tocar um sinal a cada intervalo definido, e repetir durante o dia quantas vezes quiser, sem ter que encostar no celular nem apagar notificações. Você também pode usar aqueles timers de corda para cozinhar, que são em forma de ovinho ou de galinha.

 

“Quando se dedica, sinta que poderia ter usado o momento para alguma outra coisa. Você poderia ter ido assistir um filme, a uma festa, feito algo tolo, mas ao invés disso resolveu meditar, orar e fazer coisas espirituais. … O tempo que passa não volta. Hoje, o dia vinte e sete de dezembro de 1971 não voltará, ele já era. O amanhã aparecerá no calendário, mas o tempo fugaz de hoje, o alento efêmero de hoje, irá embora.”

-Sri Chinmoy, Inspiration-Garden and Aspiration-Leaves, Agni Press, 1977

 

Meditando com vídeos

Na semana passada estávamos meditando com uma gravação em vídeo de Sri Chinmoy. Não é o que seria uma “meditação guiada” no sentido comum, alguém dizendo o que você deve imaginar, relaxar, etc. O vídeo era apenas Sri Chinmoy meditando em silêncio, imóvel. Só isso. Estávamos tentando nos identificar com a meditação dele enquanto o observávamos.

Durante a meditação, não posso dizer que aconteceu algo ou me tornei algo, mas parecia que tudo estava muito bem. É um sentimento de luminosidade suave, mas permeante.

Quando o vídeo acabou, de repente, parecia que eu tinha caído de volta para a terra.

Eu percebi que estava sendo inspirado, ou melhor, orientado na minha meditação ao ver a gravação do meu Mestre. Quando ela acabou, senti o vasto abismo entre eu e ele. Uma vez vi Sri Chinmoy comentar que isso pode ser quando não estamos meditando corretamente. Com certeza, não tive a melhor das meditações, se comparar com meditações muito boas, mas acho que o ensinamento foi diferente desta vez. O ensinamento é que eu poderia buscar mais a proximidade da consciência do Mestre espiritual para elevar o meu próprio padrão.

Isso me inspirou a buscar sentir mais a orientação interior durante o dia, tentar ficar durante todo o dia um pouco mais receptivo a essa consciência que vi no vídeo.

“When we attain the divine consciousness, it attains us and we also attain it. There is a meeting place where the two come together. Reality is all-pervading. Suppose right now we are on the first floor; this is our reality. God, who embodies the universal Consciousness, is on the third floor. So God comes down to the second floor with His Compassion and we go up to the second floor with our intense cry to attain oneness with His Consciousness. God embodies the highest divine Consciousness and He also embodies our inner cry. So God, who is within us in the form of our inner cry, carries us to the second floor; and God, who is outside us in the form of the infinite divine Consciousness, comes down to the second floor. God climbs up with us and God climbs down with the divine Consciousness. When both the seeker and God arrive at a particular place, the seeker enters into the divine Consciousness and the divine Consciousness enters into the seeker. With our personal effort and God’s Grace we go up and with His Compassion and Love God comes down.” – Sri Chinmoy

 

Renunciar os prazeres ou renunciar Deus?

Não é raro alguém repetir, porque ouviu por aí, aquele dito: “Trocou o mundo inteiro só pela vida espiritual.” Abaixo uma história muito iluminadora de Sri Chinmoy:

“Gostaria de lhes contar uma história interessante. Era uma vez dois amigos – um ateísta e outro tinha fé. Um dia o ateu disse ao crente, “Irmão, fico tão surpreso com a sua renúncia. Este mundo está repleto de prazeres, repleto de conforto, mas você renunciou tudo isso! Você renunciou todos esses prazeres apenas por Deus. Você é muito forte.” O crente respondeu, “Se eu sou forte, você é infinitamente mais forte do que eu. Deus é Amor infinito, Alegria infinita, Paz infinita – e não só para mim, mas para o mundo todo. Veja a sua capacidade de renúncia! Você renunciou tudo isso em troca de alguns prazeres terrenos temporários. A sua renúncia é muito maior do que a minha!” -Sri Chinmoy, My Maple Tree, 1974

Emudecido de silêncio e beleza

Os anseios fazem-me débil e fraco,
E não ouvem minha Vontade secreta.
Odeiam sempre a minha busca suprema,
Tornam meu ardor coisa abjeta.

Quanto a todos os meus desejos,
Chegará o dia, eu bem sei,
Em que buscarão a Tua Graça e a Ti somente;
Então em Ti brilharei.

Acima dos frutos e das ações eu,
Teu azul Olho-Compaixão azulado
Levará o meu coração e alma, o meu todo;
Em Ti sumirá o meu passado.

-Sri Chinmoy
My first friendship with the muse

Hoje estava lendo aforismos da série Seventy-Seven Thousand Service-Trees, que pessoalmente considero o magnum opus de Sri Chinmoy, com 50.000 poemas. Normalmente leio cinquenta deles (leva apenas cinco minutos) antes de pegar outros livros.

Hoje corri sem pausas por cento e cinquenta aforismos, perdi-me no vasto do tempo e fiquei emudecido de silêncio e beleza:

Eventually
Everybody’s life-possession
Shall end in
Infinity’s Nothingness.

To me, a self-giving
And self-effacing thought
Is, indeed, a perfect prayer.

God has given me
Two sleeplessly God-dreaming eyes,
And I have given Him
My gratitude-heart-tears
In return.

To feel God’s Love,
Always keep
A simplicity-life,
A purity-heart
And
A sincerity-mind.

Not my capacity,
But my Lord’s
Unconditional Compassion
Has enabled me to have
An illumination-mind,
Compassion-heart
And
Oneness-life.

When I give my Lord
All my weaknesses,
He tells me that
He wants to claim them
As His own
Before He strengthens them.

May my aspiration-heart-bell
Ring every morning
And every evening
Like a temple bell.

-Sri Chinmoy

Para terminar:

Eu sorrio para fazer
Você sorrir.
Eu choro para fazer
Você chorar.
Todo feito meu invoca
O Teu sol-vasto, inominado meneio.

-Sri Chinmoy
My First Friendship with the Muse

Aprendendo a perceber os sinais

por Thamara Paiva

Quando aprendi a perceber os sinais na minha vida

Se você pudesse voltar no tempo o que você diria para seu antigo eu de quase 30 anos? Eu diria: calma, minha filha, você não controla a sua vida e você vai nascer de novo aqui mesmo nesta vida.

Embora a gente tenha de viver o presente, o aqui e o agora, como Sri Chinmoy nos ensina, às vezes eu gosto de olhar para trás para fazer uma análise da pessoa que eu me tornei. Não é viver o que aconteceu lá atrás e sim perceber o quanto eu mudei e ainda posso mudar.

Quando nascemos esquecemos de tudo que já vivemos em outras vidas e na medida que vamos crescendo podemos “desaprender” o que antes já tínhamos conquistado ou evoluir seguindo o que já começamos antes. Mas muitas vezes não conseguimos entender os sinais que Deus faz pra gente, indicando esse caminho de seguir o plano que já havíamos começado muito antes de estar aqui nesse planeta.

Comecei este texto com essa pergunta porque hoje, 26 de julho, é um dia muito significativo para mim, há dois anos eu oficialmente nascia para uma nova vida. Eu conheci os ensinamentos de Sri Chinmoy em novembro de 2017 em São Paulo e desde então posso dizer que a minha busca por algo maior só aumentou. É engraçado analisar tudo que eu sempre vivi antes e todas as vezes que não consegui sentir o sinal divino falando comigo. Sabe quando você ouve “alguém” sussurrando para fazer algo? Eu não sabia o que era…

No primeiro dia que participei do curso de meditação eu sentia que devia continuar, porém eu fiz a escolha de não seguir naquele curso. Eu poderia fazer em dezembro, já que acontecia todo mês. Só que naquele dezembro não aconteceu. Ah, quanta coisa acontece em um mês… Mas a minha sede por esse mundo da meditação estava aguçada e nada me impediria de começar o curso novamente em janeiro, nem mesmo um namoro recém-começado.

E eu fui e fiz até o final. Lembro que um dia, talvez o penúltimo, eu não estava muito bem e quase faltei, mas algo dentro de mim, que era mais forte do que eu me fez chegar até aquela casinha branquinha tão especial na Vila Mariana. E só de pisar lá dentro eu mudei e saí tão bem que só agradeci por essa força ter me guiado.

No último dia de curso eu poderia ter continuado. Eu sabia que deveria ter continuado. Aquela “voz” dizia para meu coração que era o certo a se fazer. Mas eu não conseguia ouvi-la, como não a ouvi tantas outras vezes em minha vida ao longo daqueles 30 anos. E saí correndo, como se estivesse fugindo de alguém, na verdade eu estava fugindo de mim mesma, de quem eu me tornaria. Só escrevi minha carta pedindo a Sri Chinmoy que me aceitasse como sua aluna e depois fugi.

Só hoje quando aprendi a ouvi-la e senti-la em meu coração que posso saber disso, porque eu olho pra trás e vejo quantas vezes Deus tentou falar comigo, mas eu não sabia ouvi-lo.

Nos meses seguintes minha vida mudou completamente, terminei o namoro e me mudei de país. Eu não estava feliz com a minha vida e nada me preenchia. Na verdade, a única coisa que me fazia feliz era a corrida. Acho que porque enquanto estava correndo, poderia ser eu mesma e não precisava me preocupar com nada. Era tudo tão simples e natural…

Mudança de vida

Fui para Dublin porque eu precisava muito melhorar meu inglês que não avançava no Brasil. Mas fui também em busca de algo que eu não sabia, queria uma mudança em minha vida.

Chegando lá, como sempre faço em todos os lugares para onde me mudo, busquei Deus na referência de religião que tinha. Mas lá não era como aqui no Brasil, não me completava. Eu não encontrava as respostas que queria lá. Mas onde mais procurar? Eu não sabia. E por não saber continuei frequentando o lugar onde eu conseguiria estudar as formas de me encontrar com Deus. Eu sabia que continuando lá o caminho seria mais longo… Mas eu não tinha encontrado outra escolha, sozinha seria ainda mais difícil.

Foi quando, andando no centro de Dublin um dia à tarde eu me deparei com um desses sinais que tanto ignorei na minha vida. Era um cartaz que dizia: “Curso de meditação gratuito – acesse o site e veja todas as informações”. Na mesma hora eu tirei uma foto e guardei. Ali estava a resposta que eu tanto buscava: a meditação. Como pude não lembrar dela antes?

Abri o site e me deparei com Sri Chinmoy sorrindo pra mim. Era como se ele dissesse: “seja bem-vinda, minha filha. Eu aceito você como minha aluna. Não precisa mais procurar outro caminho para encontrar Deus.”

Foi tudo tão mágico e me arrepio cada vez que lembro. Cheguei na loja de música, bem no Centro de Dublin, onde aconteceriam as aulas. Era como se eu estivesse chegando em casa. Não conhecia ninguém ali, mas eu falava pra eles: eu já fiz o curso, conheço vocês, sei quem é Sri Chinmoy. Eu fiz quatro aulas em São Paulo e já me sentia da família. Quando pisei ali na loja eu já sabia que era aquele caminho que eu ia seguir. Dessa vez eu não ia fugir.

É engraçado que para minha surpresa, acho que para eu ter certeza da escolha que estava fazendo para minha vida, aquele ex namorado que deixei lá atrás no Brasil foi também para a Irlanda. Eu senti naquele momento que era realmente uma escolha importante que deveria fazer para minha vida: ou eu seguiria o caminho “imposto” pela sociedade, o caminho que diz para gente se formar em uma boa faculdade, ter um bom emprego, casar e ter filhos; ou então seguiria o caminho espiritual, o caminho do coração, da alegria interior, da luz e de Deus. Como eu já tinha aprendido a sentir e a ouvir aquela voz que falava comigo várias vezes, escolhi o caminho do meu coração. Foi então que nasci de novo, para uma “nova” vida.

E com um aforismo de Sri Chinmoy concluo:

“Tenho tanto orgulho da minha mente.
Por quê?
Porque ela começou a apreciar pequenas coisas:
– um pensamento simples;
– um coração puro.
– uma vida humilde.”

Uma vida mais simples

Simplicidade
A simplicidade é a grandeza na bondade.
Uma vida simples tem muito poucos problemas a enfrentar.
Porque é simples, você encorpora a poderosa Esperança de Deus em si.
A simpicidade é uma descoberta muito gloriosa.
A simplicidade é o nascimento frutífero da paz.
A simplicidade é o amigo-beleza de Deus.
A simplicidade alcança os vastos recônditos do mundo.
Sri Chinmoy, Silver thought-waves, part 2, Agni Press, 1992

Acontece comigo de muitas vezes ter coisas maravilhosas para fazer, mas minha mente me diz: “Ah, encontrei algo melhor ainda para fazermos.” Aí eu caio na cilada, e acabo deixando de fazer a contento o que já sabia que deveria ter feito com exclusividade.

Por vezes fico fantasiando sobre um dia perfeito que poderia passar lendo ou cantando ou meditando. Mas sempre que surge uma brecha de tempo, eu encontro algo diverso para fazer, incluindo escrever este texto. Coisas boas, muitas vezes, mas sempre postergo o plano de me dedicar ao meu eu interior de uma maneira que sinto necessária às vezes.

A solução do problema é simples: ouvir mais o coração, e não a mente. O coração sempre nos traz a sensação de satisfação, de paz, de contentamento, de simplicidade. Com essa sensação, fica muito mais fácil fazer o que o poema diz, “encorporar a poderosa Esperança de Deus em si.”

Seria como se dedicar a uma meta; não ficar para cá e para lá, mas ter uma noção de onde pode chegar e, principalmente, no que pode se tornar neste dia, neste ano, nesta vida.

Uma resposta para ficar mais no coração é a meditação.

Porque o coração quer meditar?
Ele quer meditar
Porque quer amar
O Supremo mais.
O coração sabe que a meditação
É a resposta.
Sri Chinmoy, Ten Thousand Flower-Flames, part 49, Agni Press, 1982

Formas de meditar diferentes: a ação

playlist de música para meditação

 

Formas de meditar diferentes: a ação

por Patanga Cordeiro

 

Hoje sigo com mais uma pequena história do meu cotidiano.

 

Passei o dia no nosso centro de meditação fazendo reparos, podando e jardinando, planejando melhorias, acompanhado de um dos meus colegas.

 

Ao fim da tarde, apesar de eu não ter feito várias coisas que gosto de fazer principalmente nos domingos, eu estava me sentindo muito bem, simplesmente feliz, feliz sem motivo, feliz de estar satisfeito.

 

Uma parte disso se deve, acredito, por ter feito trabalho simples, manual, longe do computador e telefone (só fui ver meu telefone no fim da tarde, porque me avisaram que alguém queria falar comigo, mas estava tudo resolvido quando liguei).

 

Quando fui almoçar, pelas 14h, passei na frente da foto de Sri Chinmoy. É a foto que uso para meditar todos os dias. Naquele momento, essa foto parecia tão viva, como se estivesse dentro de mim, ou como estivesse compondo os meus arredores, as coisas que existiam no meu dia.

 

Eu não estava me sentindo particularmente elevado, mas, quando penso bem, estava servindo, estava fazendo algo com um significado interior, estava ocupado com algo luminoso, estava sempre em silêncio ou falando coisas boas.

 

Tive a sensação de que fiz muito progresso nesse dia. De que melhorei muitas coisas. A única coisa que fiz foi cortar galhos, limpeza, com uma companhia espiritual, num ambiente espiritual. Mas tive o resultado de como se tivesse uma meditação profunda, que é algo que acontece apenas raramente durante o meu horário de meditação propriamente.

Hoje é o dia, agora é a hora para meditar

Agora é a hora

Para fazer um bom uso do tempo.

Hoje é o dia

Para começar um perfeito dia.

-Sri Chinmoy

O dia e a hora para meditar é agora

Recentemente, por estar mais tempo trabalhando a partir de casa, estive pensando em usar melhor o meu tempo. Por não gastar tempo com o transporte, o meu dia ficou mais longo. No entanto, percebi que não estava me dedicando mais à meditação, ao canto e aos esportes. Acabei simplesmente desperdiçando o tempo extra que ganhei. E senti que é um desperdício como o de desperdiçar comida, dinheiro, etc, mas pior. Cedo ou tarde, todos teremos de chegar à iluminação, e é por isso que estamos vivos. E eu aqui, desperdiçando tempo que, por um milagre, ganhei para uso no meu dia.

Isso foi crescendo, e um dia, após uma meditação, eu senti aquele “agora chega”. Fiz uma lista de prioridades, coisas que devo fazer. Algumas delas: meditar um pouco mais de manhã cedo; meditar por alguns minutos de hora em hora durante o dia (coloquei um despertador); fiz um plano para aprender novas canções durante o dia, etc. No dia seguinte, eu teria um dia diferente.

Ao sair para correr, troquei a página do meu calendário, e lá estava a mensagem de Sri Chinmoy:

Agora é a hora

Para fazer um bom uso do tempo.

Hoje é o dia

Para começar um perfeito dia.

-Sri Chinmoy

E o sentimento que tive, ao ver o aforismo assim, tão claro, exatamente o que eu estava pensando, foi que Sri Chinmoy, meu Mestre espiritual, em si estava me inspirando a melhorar, a usar melhor meu tempo, e me ensinando o que realmente importa na vida.

E, ainda mais, com o gracioso toque de colocar o aforismo para mim, para fortalecer a minha promessa, para me dar inspiração, alegria e gratidão.

Caminhos espirituais – o caminho do amor, devoção e entrega

Caminhos espirituais

Caminho de Sri Chinmoy – O caminho do amor, devoção e entrega

por Thamara Paiva

Sri Chinmoy em seus escritos nos diz que a religião é como nossa casa e um caminho espiritual é como a nossa escola. Entendo que é como se cada um pertencesse a um tipo de casa, mas a escola pertencesse a todos. Na escola, existem as turmas; os bons e maus alunos; os colegas e amigos, e cada um aprende de acordo com o seu momento, seu nível de entendimento sobre as coisas. Na busca por algo a mais da vida, me deparei com a meditação e descobri uma forma de me conectar com a espiritualidade. No curso, além de aprender técnicas que me ajudaram a meditar, descobri um caminho espiritual, uma possibilidade de progredir espiritualmente. No caminho de Sri Chinmoy, que é o do amor, devoção e entrega, encontrei a paz que tanto buscava. De acordo com seus ensinamentos, aprendi que cada um de nós está destinado a um caminho, e que esse caminho irá nos ajudar a evoluir mais rapidamente.

Do livro Beyond Within, de Sri Chinmoy:

Amor humano e amor divino

Amor divino é um florescer de deleite e altruísmo. Amor humano é uma cabriola de sofrimentos e limitações. Quando o engaiolamos, o chamamos de amor humano, quando permitimos que o amor voe na consciência tudo-permeante, o chamamos de amor divino.
Amor-humano comum, com seus temores, acusações, desentendimentos, ciúmes e disputas, é como uma chama encobrindo o seu próprio brilho com uma mortalha de fumaça. O mesmo amor humano erguido do encontro de duas almas, é uma chama pura e radiante. Ao invés de fumaça, ela emite os raios da auto-entrega, sacrifício, abnegação, alegria e verdadeira satisfação.
Amor divino é desapego, amor humano é apego. Desapego é verdadeira satisfação, apego é sede insaciável. Amor ascendente, partindo da alegria a alma, é o sonho de Deus.

Devoção a Deus

Devoção é a completa submissão da vontade individual à divina Vontade. Devoção é adoração. Adoração é o espontâneo deleite que aflora do coração. Quem pode ser objeto de nossa adoração? Deus. Como podemos adorá-lo? Através da nossa auto-entrega. O homem ama. Em retorno ele espera amor. Um devoto ama. Mas ele ama aos seres humanos por amor ao seu doce Senhor que em tudo reside. Seu amor vive na humildade, alegria espontânea e serviço abnegado. Devoção é o aspecto feminino ao amor. É doce, energizante e completo. Uma criança não se importa com o que sua mãe é. Quer apenas a constante presença de amor de sua mãe diante de si. Semelhante é o sentimento do devoto para com o seu Senhor. Devoção é ação. Essa ação é sempre inspirada pelo ser interior do devoto. Devoção traz renúncia. Verdadeira renúncia nunca é vida de isolamento. Renúncia é um desgostar derradeiro da vida animal da carne. É também uma total ausência de ego. Uma vida de verdadeira renúncia é uma vida que vive no mundo e no entanto não deriva seus valores dele. Devoção é dedicação.

A força da entrega

O mundo de hoje deseja individualidade. Demanda liberdade. Mas verdadeiras liberdade e individualidade podem residir apenas no Divino. Entrega é o incansável alento da alma no coração de Deus. Na entrega descobrimos o poder espiritual através do qual nos tornamos não apenas os videntes, mas também os possuidores da verdade. Se pudermos entregar em absoluto silêncio, nós mesmos nos tornaremos a realidade do real, a vida do vivente, o centro de verdadeiro amor, paz e bem-aventurança. Amor espontâneo pelo Divino é entrega, e essa entrega é o melhor presente na vida. Pois quando nos entregamos, num instante o divino nos dá infinitamente mais do que seríamos capazes de sonhar em pedir. Entrega é um milagre espiritual. Ela nos ensina a ver Deus de olhos fechados, como falar com Ele de boca fechada.

O diário de uma buscadora: meditação e a insatisfação com a vida

Insatisfação com a vida

por Juliana Francisco

Estava tomando sorvete e sem querer ouvi um grupo de amigos conversando e uma das pessoas falou: “estamos sempre insatisfeitos, nada está bom, a gente sempre reclama de tudo”. Ao ouvir esse trecho da conversar me inspirei a escrever este artigo, pois costumava me sentir insatisfeita com tudo antes de começar a meditar, lembro que, se acontecesse algo bom, ficava feliz por pouco tempo e na sequência surgia o sentimento de que poderia ser melhor ou a sensação de que outra coisa me traria mais felicidade, ou ainda, o sentimento de que aquilo não era o suficiente e encontrava defeitos no que havia acontecido. E essa insatisfação não era direcionada apenas para as coisas que aconteciam, mas se estendia a mim. Nunca estava satisfeita comigo. Eu precisava sempre fazer mais. Quando completava algo, tinha de haver outra meta. Eu sempre me comparava aos demais e sempre tinha um sentimento de inferioridade. Por isso buscava fazer mais e melhor, mas nunca estava satisfeita. Sempre olhava para fora, me comparava, buscava ser melhor ou ter mais que o outro, as metas surgiam com base na comparação, em superar o outro, em ser melhor, para me sentir melhor. Mas o engraçado é que, quando aconteciam, os sentimentos de “felicidade”; “satisfação”, duravam tão pouco e logo eu havia de focar em outra coisa, para sentir isso de novo. O problema é que no meio disso, entre uma coisa e outra, o que havia era apenas insatisfação, as coisas pareciam difíceis de serem conquistadas e a jornada em si era puro desprazer.

“É o desejo que causa sofrimento; mas a própria vontade de realizar Deus é felicidade. Esteja certo de que Ele irá limpar e confortar você, pegando-o em Seus braços. A tristeza acontece para levá-lo a felicidade. Em todos os momentos devemos mantê-Lo em memória.
Sri Anandamayi Ma

A mestre espiritual Sri Anandamayi Ma diz que “você é imperfeito, algo falta em você, e esse é o motivo pelo qual sente o desejo por preenchimento…”. Recentemente li este trecho e entendi que essa busca contínua e o sentimento de insatisfação, se deviam a isso. Sou imperfeita e preciso me preencher, me completar. O problema é que não sabia o que iria me preencher, por isso buscava satisfação nas coisas comuns, nas coisas que todos buscam, como uma profissão, relacionamento, compras, bens, etc. E quando conseguia o que desejava, percebia que este tipo de coisa me trazia felicidade transitória. Quando comecei a participar das aulas de meditação do centro de Sri Chinmoy, além das práticas de concentração, comecei as ler os livros sobre espiritualidade. Nunca tive uma religião, pois não me identificava, sempre chegava em um ponto onde eu não conseguia respostas as perguntas que tinha. Cheguei a desacreditar que Deus existia. No geral, sempre fui muito cética. Mas nos escritos e conteúdo do curso, percebi que a espiritualidade poderia ser trabalhada não apenas por meio de uma religião, mas também através da meditação, e que a meditação era uma forma de conexão com Deus. Nunca gostei de terceirizar a responsabilidade da minha vida, sempre fui responsável e “autossuficiente”, e por isso tinha um certo pré-conceito em relação as religiões, pois, na minha visão (antigamente), as pessoas entregavam a responsabilidade das suas vidas para Deus em troca de algo, esperando algo de Deus. E por isso, Deus, a palavra ‘Deus’ era vista por mim como uma muleta para as pessoas que não queriam ser responsáveis por suas vidas. Não entendia como Deus poderia significar tanto, pois no geral, não via sua presença na minha vida e na vida de outras pessoas no mundo. Mas no curso a abordagem foi muito esclarecedora e os livros me traziam respostas a perguntas que nem sabia que tinha, e as informações entravam como se fossem verdades absolutas; eu não conseguia questionar. Como Sri Chinmoy diz, “a meditação não é simplesmente o domínio da técnica, mas a lembrança de um conhecimento que já está dentro de nós. Nossa própria alma é nossa melhor professora”. Sinto isso: que fui relembrando o que estava aqui dentro. À medida que fui me aprofundando, praticando a concentração, fui tendo experiências pessoais transformadoras, fui sentindo que a meditação estava preenchendo a minha vida. E não sei dizer em que momento o sentimento de insatisfação se foi, ou melhor, o sentimento de insatisfação que costumava sentir. Com a meditação, consegui sentir o que é Deus, o que Ele representa, qual é o meu papel, qual meu propósito aqui, entre outras coisas, que não são passíveis de explicação.

“Do que precisamos
É uma vela-aspiração
A nos mostrar o caminho a Deus.”
Sri Chinmoy

Hoje acredito que nosso objetivo é voltar a fonte – e qual é a fonte? Deus. Sinto que estamos aqui vivendo experiências para nos elevar, nos iluminar. Somos, por essência: luz; paz; alegria genuína. E nos sentimentos imperfeitos, pois ainda nos falta algo. E o que falta? Deus. Como se Deus fosse o oceano e nós, cada um de nós, fossemos uma gota. Apenas nos sentiremos perfeitos e satisfeitos, quando nos juntarmos ao oceano. De certa forma, ainda me sinto “insatisfeita”, pois ainda não me elevei, não me iluminei. De acordo com a cultura indiana, algumas pessoas, poucas, aqui na Terra, sentem uma unicidade com Deus, a ponto de sentirem essa satisfação e preenchimento total, como se fossem Deus. Como Jesus disse: “Eu e meu Pai somos um”. De todas as teorias, essa é a que sinto ser a verdadeira, pois sinto a cada dia, quando faço minhas práticas espirituais, que estou mais próxima de Deus, e esse sentimento me preenche, me completa e faz sentir satisfeita. Antes a minha felicidade poderia ser definida como momentos de euforia; hoje sinto algo sólido e constante, pacifico e profundo.  Hoje a insatisfação se foi, daquela forma como a sentia. Sinto que estou no caminho certo, que a minha jornada se tornou prazerosa, pois a conexão com Deus foi estabelecida e Ele me satisfaz. Agora sinto que basta fixar a minha mente em Deus, que tudo se transforma.

Sri Chinmoy diz que na oração nós falamos e Deus escuta e, na meditação, Deus fala e nós escutamos. Independente do caminho espiritual que escolhemos, seja por meio da oração ou da meditação, todos os caminhos nos levam para o mesmo lugar, a Fonte. Percebi, o significado do que as pessoas diziam sobre “colocar Deus na sua vida”. Isso me parecia frase de “religioso”, mas numa forma pejorativa. Mas hoje sinto o que isso significa. Com a meditação, aprendi a acalmar a minha mente, e com isso ficou mais fácil ouvir a Deus, me conectar com Ele, sentir o que é colocar Deus nas nossas vidas e a satisfação consequente desse ato.

Eu te darei tudo
“Eu lhe darei uma chance
Se você receber essa chance.
Eu lhe darei uma nova vida
Se você receber a nova vida.
Eu lhe darei tudo que você precisa
Mas é você quem deve receber isso de mim.
Na sua alegre aceitação-luz
Está a manifestação-perfeita da sua vida.”

Sri Chinmoy