by Patanga Cordeiro | Jul 26, 2020 | Diversos
“As pessoas dizem que é bom fazer promessas – apenas assim suas capacidades interiores virão à tona. Mas eu gostaria de lhe dizer que apenas uma promessa é boa: a sua promessa de que conquistará a ignorância e realizará Deus nesta vida. Apenas essa promessa vale a pena fazer – todas as outras são perigosas e destrutivas.”
Trecho de uma história no livro Sri Chinmoy, Great Indian meals: divinely delicious and supremely nourishing, part 2, Agni Press, 1979
Antes das promessas: meditação e autodescoberta
Com sua vida espiritual, sua prática de meditação, ação desapegada e devoção, todas as coisas passam a ter um novo sentido. Algo sublime passa a ser vazio e vice-versa. Seus planos de vida tornam-se pífios e você percebe um mundo todo à sua disposição, o qual você também se dispõe a amar e a servir. Um mundo que estava bem debaixo do seu nariz, mas que nunca imaginou que existia. Esse mundo não é um conto de fadas, nem um mosteiro ou uma caverna. Esse mundo é a sobreposição da vida divina sobre a vida cotidiana. É o mundo com seu significado e propósito completos, aguardando seus passos firmes para sua manifestação e completude finais.
Hoje estava lendo uma conversa de Sri Aurobindo com seus discípulos. Na história foi mencionado que nossos conceitos sobre justiça e realidade podem limitar a ação da Graça superior. Foi o que me inspirou a escrever, baseado nas minhas experiências e nos ensinamentos de Sri Chinmoy.
Promessas-problema
Na minha vida, lembro só de duas promessas que fiz. E quebrei todas elas. Uma delas foi que nunca iria deixar de comer carne e outra que nunca me separaria da minha noiva. Hoje sou vegetariano e solteiro.
No Mahabharata, que é como uma bíblia do hinduísmo, há inúmeras histórias sobre os personagens realizando promessas. A veia comum nessas histórias é que todos os personagens se dão muito mal por terem feito promessas. Notoriamente, diversos exércitos lutaram contra o lado do bem na Batalha de Kurukshetra por conta de promessas anteriores.
Arjuna, no 13º dia da Batalha, ao ver o seu filho morto em uma emboscada, fez o juramento que se não vingasse a sua morte até o por do sol seguinte, ele entraria vivo numa fogueira de cremação.
Mas Arjuna era o bastião do seu exército, o exército que Sri Krishna, a personificação do Divino e da Verdade na Terra, havia colocado contra as forças demoníacas que utilizavam o exército oponente. Que audácia teve Arjuna de arriscar a batalha e a humanidade toda para satisfazer seu orgulho ferido e sua emoção! Krishna, ao ficar sabendo da promessa de Arjuna, ficou profundamente insatisfeito. Ele teve que ajudar Arjuna a cumprir sua promessa, despendendo recursos, tempo e risco desnecessários para satisfazer a promessa egoísta de um guerreiro entristecido. Krishna admoestou todos os guerreiros a não fazerem promessas novamente.
Minha história é uma história de formiga (ou menos) comparada com a de Arjuna no Mahabharata, mas o princípio pode ser parecido. Por um impulso, ou por causa de uma ideia fixa que absorvi da sociedade (comer carne e noivar), fiz promessas que pareciam fazer todo o sentido naquele momento. Mas, depois de começar a meditar e (assim como na história de Arjuna e Krishna) com o toque da Graça do meu Mestre, Graça que de início eu não percebia, mas que hoje é a única coisa clara na minha vida, reparei que essas coisas que prometi eram todas contraprodutivas.
O melhor que tive a fazer foi quebrar as promessas, engolindo o orgulho e suportando todas as críticas exteriores dos amigos, família, etc. Então, renovado, pude continuar a minha jornada.
Mencionei o Mahabharata, mas o Cristo no Novo Testamento também incita seus alunos e discípulos a se aterem à tarefa em questão e não causarem problemas ao futuro com promessas:
Não jureis de forma alguma; nem pelos céus, que são o trono de Deus; nem pela terra, por ser o estrado onde repousam seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jures por tua cabeça, pois não tens o poder de tornar um fio de cabelo branco ou preto. Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu não, não! O que passar disso vem do Maligno.
Mas é claro que nem tudo na vida é preto e branco. Sri Chinmoy também nos ensina na história que abre o capítulo do livro mencionado no início deste texto:
“Mas eu gostaria de lhe dizer que apenas uma promessa é boa: a sua promessa de que conquistará a ignorância e realizará Deus nesta vida.”
Sri Chinmoy costumava nos inspirar a fazer pequenas promessas, principalmente por ocasião do ano novo, sempre muito direcionadas e, se não conseguíssemos cumpri-las, seguiríamos em frente sem olhar para trás. Ou seja, não é tanto uma promessa, mas sim um plano inspirador.
Por exemplo: meditarei uma vez mais ao dia durante o mês de janeiro (não precisa marcar algo fixo); farei exercícios físicos durante todo o mês de fevereiro (contanto que seja exercício, está bom); lerei os livros do meu Mestre todos os dias sem falta durante o mês de março (não importa qual livro dele).
São todas promessas muito razoáveis e que podem ser realizadas sem causar problema algum na sua vida, mesmo se não estiver com aquele livro que estava lendo; se não estiver com o seu tênis de corrida; se estiver numa reunião importante na hora da meditação. Sempre tem uma forma razoável de cumprir essas promessas. Elas servem para lembrar você de coisas que são importantes e não devem ser negligenciadas. Não são paradigmas forçados e autoinventados ou absorvidos da cultura local, como a minha ideia de que nunca deixaria de comer carne ou que deveria ficar com uma pessoa por toda a vida.
Queria escrever isto para ninguém ficar patinando na vida como eu fiz! Ou, pelo menos, patinar um pouquinho menos, por menos tempo!
by Patanga Cordeiro | Jun 14, 2020 | Diversos, Histórias pessoais - diário, Meditação
Formas de meditar diferentes: a ação
por Patanga Cordeiro
Hoje sigo com mais uma pequena história do meu cotidiano.
Passei o dia no nosso centro de meditação fazendo reparos, podando e jardinando, planejando melhorias, acompanhado de um dos meus colegas.
Ao fim da tarde, apesar de eu não ter feito várias coisas que gosto de fazer principalmente nos domingos, eu estava me sentindo muito bem, simplesmente feliz, feliz sem motivo, feliz de estar satisfeito.
Uma parte disso se deve, acredito, por ter feito trabalho simples, manual, longe do computador e telefone (só fui ver meu telefone no fim da tarde, porque me avisaram que alguém queria falar comigo, mas estava tudo resolvido quando liguei).
Quando fui almoçar, pelas 14h, passei na frente da foto de Sri Chinmoy. É a foto que uso para meditar todos os dias. Naquele momento, essa foto parecia tão viva, como se estivesse dentro de mim, ou como estivesse compondo os meus arredores, as coisas que existiam no meu dia.
Eu não estava me sentindo particularmente elevado, mas, quando penso bem, estava servindo, estava fazendo algo com um significado interior, estava ocupado com algo luminoso, estava sempre em silêncio ou falando coisas boas.
Tive a sensação de que fiz muito progresso nesse dia. De que melhorei muitas coisas. A única coisa que fiz foi cortar galhos, limpeza, com uma companhia espiritual, num ambiente espiritual. Mas tive o resultado de como se tivesse uma meditação profunda, que é algo que acontece apenas raramente durante o meu horário de meditação propriamente.
by Patanga Cordeiro | May 12, 2020 | Diversos
by Patanga Cordeiro | May 1, 2020 | Diversos, Notícias, São Paulo - capital e zona sul leste oeste norte e centro
A Casa Madal delivery e restaurante vegano
Endereço: Rua Paula Ney, 667 – Vila Mariana – São Paulo/SP
Encomendas e cardápio (WhatsApp): (11) 97405-1739
Horário de funcionamento temporário: quarta a domingo de 12h às 16h (flexível para encomendas)
Instagram: @casamadal
Espaço Colaborativo “A Casa Madal”, criado em homenagem ao líder espiritual Sri Chinmoy, é inaugurado com bistrô vegano na Vila Mariana
A Casa Madal é um espaço criado em homenagem ao líder espiritual Sri Chinmoy por seus alunos de meditação. O espaço foi idealizado para receber aquelas pessoas que buscam uma pausa no dia a dia corrido, servindo comida vegana com delivery gratuito na Vila Mariana e também recebendo encomendas.
A proposta é de slow food e serve comida vegana, de quinta a domingo, com pratos do dia. Quinta-feira é servido o Macarrão de Arroz à Bolonhesa de Lentilha, sexta-feira é dia de Moqueca de Frutos do Mato, sábado é Feijoada Veg e domingo é servido Curry de Grão de Bico com Espinafre.
Como opção ao prato do dia tem o burguer vegano caseiro. Além disso, também são servidos doces veganos, como bolo pão de melado, brownie e torta de limão; e salgados como tortas e quiches. Tudo feito com boas energias e muito cuidado.
Quando voltar ao normal, o espaço também conta com uma lojinha de produtos naturais, veganos e sustentáveis. Outra proposta d’A Casa Madal é oferecer aulas gratuitas de meditação.
A Casa Madal delivery e restaurante vegano
Endereço: Rua Paula Ney, 667 – Vila Mariana – São Paulo/SP
Encomendas e cardápio (WhatsApp): (11) 97405-1739
Horário de funcionamento temporário: Quinta a domingo de 12h às 16h (flexível para encomendas)
Instagram: @casamadal
by Patanga Cordeiro | Jan 10, 2020 | Diversos, Perguntas e respostas
Nosso professor, Sri Chinmoy
Como reconhecer um Mestre espiritual vivo?
trechos do livro O Mundo Interior e o Mundo Exterior
Pergunta: Quais são as vantagens de entregar-se ao Mestre pessoal quando comparada com entregar-se ao Impessoal, ao próprio Espírito?
Sri Chinmoy: Para ser bem franco, existe somente um Mestre verdadeiro, tanto no Céu quanto na Terra, que é Deus. As pessoas me chamam de Mestre espiritual, mas eu gostaria de dizer que não sou um Mestre. O que sou é apenas um irmão mais velho para uma pequena família espiritual. Porque eu orei e meditei, ou porque o Supremo, em Sua Generosidade infinita, me deu um pouco mais de Luz que aos outros membros da minha família espiritual, eu tento auxiliá-los a alcançar a Meta altíssima.
Se um discípulo ver ou sentir Luz, luz Abundante no seu Mestre, poderá considerá-la uma parte de si mesmo através da sua unicidade com o Mestre. Então o discípulo deve sentir que essa Luz é algo que ele mesmo possui e que o Mestre a está apenas trazendo à tona. Ela era sua própria posse, seu tesouro; mas o aluno a perdeu, e aquilo ficou coberto pela ignorância. Agora o Mestre, com sua ilimitada Luz e carinho, entrou na ignorância do discípulo e acalentou lá a chama da aspiração, trazendo Luz para todo o seu ser.
O Mestre, tanto em seu aspecto pessoal quanto impessoal, é uma realidade. Funciona assim. Quando um discípulo vem até o Mestre humano, ele enxerga Paz, Luz e Deleite de acordo com a sua própria capacidade ou receptividade. Quanto mais alto e mais ao fundo for, mais sentirá que a Paz, Luz e Deleite que deseja podem ser obtidas do Mestre. Ele sente que seu Mestre é um canal direto do Altíssimo; seu Mestre representa, para ele, Deus na Terra.
Quando ficamos diante do mar, este parece muito vasto. A vastidão e extensão completas do mar estão além da nossa capacidade de compreensão. Então tocamos só um pequeno volume de água com nossas mãos ou pés. Assim que a tocamos, a consciência da água entra em nós. Sentimos então a capacidade e qualidade do mar ilimitado. De forma similar, quando o discípulo fica diante do seu próprio Mestre e enxerga ou sente a Luz do Mestre, isso representa a Verdade altíssima para ele. Quando um buscador enxerga seu Mestre como infinito, perfeito, ele consegue fazer o progresso mais rápido, pois possui um ideal diante de si. A Luz que enxerga no Mestre lhe traz um vislumbre do Altíssimo, do Infinito. A separação entre o Mestre pessoal e o Mestre impessoal, entre a personalidade e a impessoalidade, desaparece. Ele não enxerga o Mestre como um ser humano com um corpo humano. O buscador não vê o físico do Mestre como tal. O que ele enxerga vai muito, muito além da forma pessoal do Mestre – é algo que não pode ser compreendido pela mente física. Ele vê o Mestre como parte de uma Luz ou Verdade infinitas pelas quais esteve buscando por milênios.
Para cada buscador há apenas um Mestre. Esse Mestre pode ou não estar no físico, mas ele não é o físico em si. Ele é o Espírito transcendental da Infinidade. Um Mestre da mais alta ordem de fato personifica essa Paz, Luz e Deleite. Se dissermos que um ser humano, mesmo que seja um Mestre com milhões e bilhões de discípulos, é Deus, haverá um erro aí. Deus está dentro de nós, em cada indivíduo. Mas o verdadeiro Mestre, o Mestre de fato altíssimo e mais perfeito, está na Terra e no Céu. Ele não é a forma física, mas está presente no físico.
Se o aluno possui fé no Mestre, fé implícita, naturalmente ele faz o progresso mais rápido. Se chamamos essa pessoa de Mestre ou não é algo secundário, mas devemos ter fé nele. Na vida espiritual, a fé é de importância primordial. E ainda chegará a hora em que precisaremos reconhecer que ter fé no Mestre apenas não será suficiente para o que buscamos. Temos de ter fé em nós mesmos também. Se não tivermos fé em nós mesmos juntamente com a fé no Mestre, não poderemos ir longe. Contudo, se tivermos fé em nós mesmos, poderemos dizer que somos filhos escolhidos de Deus e que a Paz, Luz e Deleite infinitos são direitos de nascença. Se formos capazes de dizer isso, o fim da nossa jornada não será uma meta distante.
Pergunta: Como reconhecemos um Mestre verdadeiro vivo?
Sri Chinmoy: O buscador pode reconhecer um Mestre verdadeiro vivo se o seu ser interior e exterior ficarem inundados de deleite e êxtase quando se aproximar do Mestre. Ao ver um Mestre espiritual, mesmo que não seja o seu Mestre, alegria interior que sentirá lhe dirá se ele é real. Mas você também poderia estar diante de um Mestre verdadeiro e não sentir nada, pois você está numa consciência baixa. Contudo, se o seu coração estiver ansiando por um Mestre verdadeiro, você estará destinado a sentir algo quando ficar diante de um. E, se encontrar o seu próprio Mestre, encontrará tudo de que precisa para esta vida.
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by Patanga Cordeiro | Jan 4, 2020 | Diversos, Perguntas e respostas
Religião e meditação
trechos do livro O Mundo Interior e o Mundo Exterior
Donna Halper: Pertencer a um grupo religioso específico seria contrário à prática da meditação? A meditação possui uma religião específica, ou qualquer pessoa, de qualquer religião, pode meditar?
Sri Chinmoy: A meditação transcende completamente os confins da religião. Pode-se ter qualquer religião. A meditação é como uma escola, e a religião é como uma casa. Você pode ir para a escola ou universidade independentemente da casa onde mora. Todos podem meditar, independentemente da religião a que pertença e mesmo se não tiver religião.
Donna Halper: Ou seja, quer alguém chame Deus pelo nome de Alá, Buda ou Vishnu, ou qualquer outro nome, a meditação é a mesma?
Sri Chinmoy: É uma questão de nomenclatura apenas. Uma criança chamará seu pai de ´papai´, mas ele é conhecido por outro nome no escritório. É como a água. Você a chama de ´water´ em inglês, mas um francês a chamará de ‘l’eau’ e um bengali a chamará de ‘jal’. É a mesma coisa, chamada por diferentes nomes.
Donna Halper: A meditação é uma espécie de soma ao credo religioso que já temos.
Sri Chinmoy: Sim, é uma soma. Ela é a essência interior de todas as religiões.
Donna Halper: Já que você mencionou isso, não há uma forma de meditação em cada religião? Eles podem não a chamar de meditação, mas as religiões todas possuem uma forma de meditação, não?
Sri Chinmoy: Toda religião encoraja alguma forma de comunhão interior com o Altíssimo.
Ouvinte: Se uma pessoa ignorante e sem quaisquer realizações for confrontada com uma situação de grande perigo no plano físico, que tipo de oração ela pode fazer para Deus nesse momento crítico? A morte súbita pode ocorrer para pessoas num avião ou nas ruas.
Donna Halper: Quando a vida de alguém está em perigo, essa pessoa pode realmente falar com Deus, mesmo que não tenha sido religiosa?
Sri Chinmoy: Somos todos filhos de Deus. Os pais sempre estão repletos de amor, mesmo por um garoto levado que não ouve o que eles dizem. Quando essa criança levada se encontrar em dificuldades, ela correrá para os seus pais, para que o ajudem. Os pais o recusarão nessa hora? Não. Os pais imediatamente o abraçarão e dirão: “Finalmente, meu filho, você veio me procurar para ajudá-lo.” De maneira similar, o auxílio de Deus está sempre presente, contanto que tenhamos um anseio sincero.
Donna Halper: Isso quer dizer que, se a pessoa que era contra a religião, que pensava que a religião era tolice ou não queria se envolver com a religião num momento de perigo recorrer a Deus, Deus a atenderá?
Sri Chinmoy: Certamente Ele a atenderá, mas do Seu próprio Modo, é claro.
Donna Halper: Ele aceitará a sinceridade dessa pessoa?
Sri Chinmoy: Se alguém ansiar sinceramente pelo auxílio de Deus, Deus certamente o ajudará. Depende da sinceridade do indivíduo.
Donna Halper: Você quer dizer que a pessoa que pensa de forma positiva, que pensa de uma forma honesta e sincera e se preocupa com todas as pessoas no mundo, essa pessoa usa a mente de uma forma espiritual?
Sri Chinmoy: Sim.
Ouvinte: Mas dizem que Deus é um Deus ciumento.
Donna Halper: É uma questão religiosa interessante. E quando dizem que Deus é ciumento?
Sri Chinmoy: Deus é ciumento apenas para aqueles que não vivenciaram Deus o Amado Supremo, Deus a Compaixão Eterna, Deus o Amigo Eterno.
Donna Halper: Você está dizendo então que Deus é um amigo?
Sri Chinmoy: Deus é o nosso Amigo Eterno e o nosso único Amigo.
Donna Halper: A pessoa que aceita a Bíblia como a palavra de Deus estaria enganada ao pensar que a Bíblia está totalmente correta em tudo que diz?
Sri Chinmoy: Se uma pessoa sente que o que a Bíblia diz é absolutamente correto e possui uma fé implícita nos seus ensinamentos, ela deve continuar na sua vida de fé. Mas se alguém diz que há algumas coisas que estão na Bíblia que não consegue aceitar, se quiser um novo esclarecimento ou uma nova iluminação na sua vida ao estudar outra fonte ou mergulhar fundo em seu próprio interior, essa pessoa pode muito bem fazer isso. Deus quer a nossa satisfação. Se alguém sente satisfação na fé absoluta na Bíblia, isso é ótimo. Mas, se não encontrar satisfação lá, poderá tentar estudar outra coisa. Deixe que estude a sua própria vida; que ele mergulhe fundo em seu interior para encontrar a verdade que o satisfará.
Pergunta: Você comentaria sobre o que está escrito na bíblia sobre quem não orar para Jesus Cristo irá para o inferno e que apenas através do Cristo pode-se encontrar salvação?
Sri Chinmoy: A minha resposta singela para essa pergunta é que você é quem deve acreditar ou não. Se você acreditar no que a bíblia diz, acreditará que, se não seguir seus ensinamentos, irá para o inferno. Mas, caso não acredite, não será obrigado a fazer o que o livro diz.
Houveram muitos Mestres espirituais de altíssima ordem na Terra. O Cristo não foi o único. Antes dele houve o Buda, e, antes dele, tivemos Sri Krishna. Mestres da mais elevada ordem caminharam a Terra. Recentemente tivemos Sri Ramakrishna e Sri Aurobindo. Contudo, se você acreditar naquele ensinamento em particular da bíblia, é algo particular seu. Se acreditar, prepare-se divinamente para que possa ir para o Céu imediatamente, ou então prepare-se para receber a sua punição.
Céu e inferno estão principalmente nas nossas mentes. Se você tem um bom pensamento, está criando o Céu. Se clama a Deus por Luz, então tem uma boa experiência, uma experiência iluminadora, e essa experiência nada é senão o Céu. Se você acalenta um pensamento negativo, está criando o inferno. Céu e inferno podem ser vivenciados diariamente.
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by Patanga Cordeiro | Jan 1, 2020 | Diversos
trechos do livro O Mundo Interior e o Mundo Exterior
Ajudando os outros através da meditação
Ouvinte: Eu gostaria de saber se é possível ser utilizado como um instrumento numa relação íntima com alguém.
Donna Halper: Uma pessoa pode ser usada como um instrumento de Deus e também ser um instrumento numa relação com alguém, onde Deus age em e através dela para auxiliar outra pessoa? Por exemplo, você acredita que as pessoas no mundo material podem se tornar instrumentos de Deus?
Sri Chinmoy: Facilmente. Somos todos instrumentos de Deus. Contudo, se estivermos envolvidos demais na vida material, não conseguiremos ser instrumentos escolhidos de Deus. Os instrumentos escolhidos de Deus são aqueles que praticam constante auto-doação. Eles não agem por si somente, mas para o mundo todo. Os instrumentos escolhidos possuem um coração vasto. Eles não tentam se confinar nas suas próprias realidades, mas buscam oferecer suas vidas ao mundo como um todo.
Donna Halper: Também é possível ser um instrumento de Deus numa relação com outra pessoa? Digamos que haja uma pessoa viciada em drogas. Você acredita que Deus possa talvez trazer alguém – uma pessoa comum – na vida da primeira pessoa para torná-la melhor?
Sri Chinmoy: Sim, certamente. Deus está dentro de todos, não apenas nos buscadores. Se alguém é viciado em drogas e possui um anseio sincero por deixar essa dependência, Deus trará alguém para resgatá-la.
Donna Halper: A nível pessoal, então, os nossos relacionamentos não são acidentais? Não encontramos um ao outro aleatoriamente, mas as pessoas se encontram porque Deus quer que elas se encontrem?
Sri Chinmoy: Não são todos os casos. Há algo chamado de a Hora de Deus. Quando a Hora de Deus soa, as pessoas necessárias aparecem. Não é certo dizer que toda pessoa que conhecemos foi enviada por Deus.
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Donna Halper: Agora receberemos as ligações da nossa audiência. Aqui está a primeira chamada. Boa noite. Você está no ar.
Ouvinte: Tenho muito interesse na projeção astral. Eu tive uma experiência três anos atrás em que deixei meu corpo. Eu tinha acabado de ler sobre aquilo, mas não o fiz conscientemente. Simplesmente aconteceu. Desde então eu estive tentando fazê-lo conscientemente. Gostaria de perguntar a Sri Chinmoy se isso é seguro. É seguro fazê-lo por conta própria?
Donna Halper: É uma pergunta interessante. Projeção astral, deixar o corpo; é possível fazer isso?
Sri Chinmoy: É possível, mas recomenda-se ter um professor que seja bem qualificado nessa aventura. Caso contrário, poderá ser algo muito perigoso. É como aprender a dirigir. Um professor é necessário no início. Ao tentar aprender a dirigir por conta própria, é bastante possível que a pessoa tenha um acidente.
Donna Halper: O que um professor pode ensinar sobre deixar o corpo?
Sri Chinmoy: Qualquer coisa pode ser ensinada por um professor qualificado. Se podemos aprender uma língua com um professor, se podemos aprender música, se podemos aprender dança, também podemos aprender sobre isso.
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trecho do livro O Mundo Interior e o Mundo Exterior
Donna Halper: Você tem diversos alunos, entendo eu, que seriam considerados de classe média, no sentido de serem produtos de um lar norte-americano padrão. Os seus alunos continuam por muito tempo com você, ou passam a enxergar a meditação como uma moda e logo se cansam dela?
Sri Chinmoy: Ah, não. No meu caso, tenho sorte suficiente para dizer-lhe que os meus alunos encaram a espiritualidade e meditação com muita seriedade. Mas é claro que algumas pessoas vão embora. Contudo, comparando-se o número de pessoas que vieram com os que foram, estes foram muito poucos. A meditação não é algo que se torna tedioso após alguns anos. É porque as pessoas possuem formas fixas de pensamento, ou porque possuem problemas pessoais ou vitais, que elas vão embora. Por fim, elas acabam sentindo que essa forma de meditação não lhes é adequada mais. Mas isso não é porque a meditação chegou para elas como uma moda. Elas encararam a meditação com seriedade. Mas muitos pensamentos, muitos desejos, muitas fantasias e muitas idiossincrasias podem aparecer, e as pessoas sentem que o caminho não lhes é mais adequado. Então elas vão embora.
Donna Halper: Compreendo. Enquanto conversamos com Sri Chinmoy, se tiverem perguntas que gostariam de lhe fazer, vocês podem ligar para o programa. Se gostariam de falar com Sri Chinmoy e perguntar-lhe sobre meditação, Yoga ou sobre a vida em geral, por gentileza nos liguem. Vocês estão ouvindo “The Other Hour” aqui na WRVR.
Enquanto isso, continuaremos conversando. Sri Chinmoy, sei que você teve um número de músicos como seus alunos. A nossa audiência estaria interessada em saber por que você pensa que músicos que estiveram tão envolvidos no que se considera a vida material – drogas e coisas do tipo – poderiam buscar um Guru.
Sri Chinmoy: A resposta é bastante simples. As coisas que fizeram antes não os ajudaram a encontrar a verdadeira divindade dentro de si mesmos. Eles não encontraram o que estavam procurando e, portanto, quiseram buscar um Mestre espiritual que pudesse lhes auxiliar.
Donna Halper: Parece-me que você está dizendo que proporciona aos seus alunos aquilo que sente ser o que eles buscam.
Sri Chinmoy: Eu não dou nada; eu me torno um instrumento. Eu medito em Deus e oro a Ele para que conceda aos meus alunos aquilo que buscam, contato que sejam coisas boas, coisas divinas, coisas espirituais, coisas que valham a pena. Se o aluno anseia por algo muito terreno, por algo que o prenderá, serei a última pessoa a ajudá-lo a obter tal coisa.
Ouvinte: Como posso entrar em contato com Sri Chinmoy ou me tornar seu aluno?
Sri Chinmoy: Há diversas maneiras de me encontrar. Por exemplo, hoje à noite oferecerei um concerto aberto ao público. Se o buscador vier me ver e ficar inspirado, poderá perguntar como fazê-lo.
Pergunta: Qual é o principal fator contribuinte da sua fé e como ela difere das outras fés?
Sri Chinmoy: Primeiro de tudo, na vida espiritual não há um espírito competitivo e, portanto, eu não comparo o nosso caminho com os demais. Cada caminho tem seu valor. Cada caminho possui uma forma específica de guiar o aspirante à sua Meta destinada. O nosso caminho é o caminho do amor, devoção e entrega à Vontade do Supremo. É o que enfatizamos. Não posso dizer de que formas este caminho é diferente dos outros, pois não estou familiarizado com os outros caminhos.
Se alguém segue o nosso caminho, ele tenta desenvolver ou trazer à tona o seu amor interior, amor espiritual. Diferente do amor humano, que aprisiona, o amor divino expande e ilumina a nossa consciência interior e exterior.
Quando oferecemos devoção, o que oferecemos é a nossa devoção uni direcionada ao Supremo, o Piloto Interior dentro de nós. Na vida humana comum, o que chamamos de devoção nada é senão apego. Mas a devoção divina é completamente diferente. Estamos nos oferecendo à causa certa, ao divino em nós, para que possamos nos tornar um mar de Paz, Luz e Deleite.
A entrega que tentamos alcançar no nosso caminho não é aquela de um escravo ao seu senhor. O escravo sempre teme o seu proprietário. Ele sente que, se não agradar o senhor, este o ferirá. Sempre há um sentimento de medo no coração e mente do escravo. Já, na vida espiritual, quando o buscador se entrega à sua divindade interior, ao Supremo dentro dele, sente que está se entregando à sua própria parte mais elevada e iluminada. O buscador se entrega à sua parte mais elevada, à sua altitude mais elevada e à sua luz mais interior.
Num resumo, essa é a base do nosso caminho. Se eu comparar o nosso caminho com os outros, entrarei em tristes desavenças. Os outros caminhos também podem ser certos e perfeitos. Os principais são o caminho da mente e o caminho do coração. O nosso caminho é um caminho do coração. É uma questão individual do buscador decidir qual caminho lhe será mais adequado e então segui-lo. Por fim, quando um buscador alcançar a sua Meta destinada, lá ele também verá os buscadores que seguiram sinceramente outros caminhos. Todos alcançarão o mesmo destino.
Ouvinte: Você acredita que Deus está na mente?
Sri Chinmoy: Não apenas na mente; Deus é a mente. Contudo, saibamos primeiro de que mente estamos falando. Falando da mente física, a mente terrena, a mente que acalenta e valoriza inveja, mesquinhez e impureza, não é ela a mente que nos auxiliará na nossa busca por Deus. A mente que é tão ampla e vasta quanto o céu, a mente que aceita e ama o mundo inteiro, tal é a mente verdadeira. Dentro dessa mente Deus consegue agir muito satisfatoriamente. Saibamos primeiro de qual mente estamos falando.
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Caminho de Sri Chinmoy – O caminho do amor, devoção e entrega
por Thamara Paiva
Sri Chinmoy em seus escritos nos diz que a religião é como nossa casa e um caminho espiritual é como a nossa escola. Entendo que é como se cada um pertencesse a um tipo de casa, mas a escola pertencesse a todos. Na escola, existem as turmas; os bons e maus alunos; os colegas e amigos, e cada um aprende de acordo com o seu momento, seu nível de entendimento sobre as coisas. Na busca por algo a mais da vida, me deparei com a meditação e descobri uma forma de me conectar com a espiritualidade. No curso, além de aprender técnicas que me ajudaram a meditar, descobri um caminho espiritual, uma possibilidade de progredir espiritualmente. No caminho de Sri Chinmoy, que é o do amor, devoção e entrega, encontrei a paz que tanto buscava. De acordo com seus ensinamentos, aprendi que cada um de nós está destinado a um caminho, e que esse caminho irá nos ajudar a evoluir mais rapidamente.
Do livro Beyond Within, de Sri Chinmoy:
Amor humano e amor divino
Amor divino é um florescer de deleite e altruísmo. Amor humano é uma cabriola de sofrimentos e limitações. Quando o engaiolamos, o chamamos de amor humano, quando permitimos que o amor voe na consciência tudo-permeante, o chamamos de amor divino.
Amor-humano comum, com seus temores, acusações, desentendimentos, ciúmes e disputas, é como uma chama encobrindo o seu próprio brilho com uma mortalha de fumaça. O mesmo amor humano erguido do encontro de duas almas, é uma chama pura e radiante. Ao invés de fumaça, ela emite os raios da auto-entrega, sacrifício, abnegação, alegria e verdadeira satisfação.
Amor divino é desapego, amor humano é apego. Desapego é verdadeira satisfação, apego é sede insaciável. Amor ascendente, partindo da alegria a alma, é o sonho de Deus.
Devoção a Deus
Devoção é a completa submissão da vontade individual à divina Vontade. Devoção é adoração. Adoração é o espontâneo deleite que aflora do coração. Quem pode ser objeto de nossa adoração? Deus. Como podemos adorá-lo? Através da nossa auto-entrega. O homem ama. Em retorno ele espera amor. Um devoto ama. Mas ele ama aos seres humanos por amor ao seu doce Senhor que em tudo reside. Seu amor vive na humildade, alegria espontânea e serviço abnegado. Devoção é o aspecto feminino ao amor. É doce, energizante e completo. Uma criança não se importa com o que sua mãe é. Quer apenas a constante presença de amor de sua mãe diante de si. Semelhante é o sentimento do devoto para com o seu Senhor. Devoção é ação. Essa ação é sempre inspirada pelo ser interior do devoto. Devoção traz renúncia. Verdadeira renúncia nunca é vida de isolamento. Renúncia é um desgostar derradeiro da vida animal da carne. É também uma total ausência de ego. Uma vida de verdadeira renúncia é uma vida que vive no mundo e no entanto não deriva seus valores dele. Devoção é dedicação.
A força da entrega
O mundo de hoje deseja individualidade. Demanda liberdade. Mas verdadeiras liberdade e individualidade podem residir apenas no Divino. Entrega é o incansável alento da alma no coração de Deus. Na entrega descobrimos o poder espiritual através do qual nos tornamos não apenas os videntes, mas também os possuidores da verdade. Se pudermos entregar em absoluto silêncio, nós mesmos nos tornaremos a realidade do real, a vida do vivente, o centro de verdadeiro amor, paz e bem-aventurança. Amor espontâneo pelo Divino é entrega, e essa entrega é o melhor presente na vida. Pois quando nos entregamos, num instante o divino nos dá infinitamente mais do que seríamos capazes de sonhar em pedir. Entrega é um milagre espiritual. Ela nos ensina a ver Deus de olhos fechados, como falar com Ele de boca fechada.
by Patanga Cordeiro | Aug 11, 2019 | Diversos, Histórias pessoais - diário
por Thamara Paiva
Correr é uma forma de meditação. Quando você está correndo, é só você com seu piloto interior. É seu piloto interior com Deus. É uma profunda entrega a você mesmo, e quanto mais você corre mais forte você fica – tanto fisicamente como interiormente.
A corrida é algo que nos leva pra outro lugar. A gente sente uma felicidade tão genuína que muitas vezes é difícil tentar explicar para outras pessoas. Só quem corre sabe, é preciso correr pra entender. Depois que eu comecei a meditar eu passei a entender melhor o que acontece.
Corrida e meditação são duas ações que estão profundamente relacionadas. Quando comecei a fazer o curso de meditação no centro Sri Chinmoy em Dublin aprendi na prática o significado de que correr é uma forma de meditação.
Eu estava em fase de treinamento para minha primeira maratona. Era o sonho da minha vida de corredora, e eu ia realizá-lo naquele ano. Eu era extremamente dedicada aos treinos, seguia minha planilha sem faltar nenhum dia. Podia estar chovendo, podia estar um friiiio de congelar, naquela capital cinza e gelada que é Dublin, que eu ia, sem desculpa e muito feliz. Cada dia era um novo passo que estava me levando ao meu sonho.
Nos primeiros dias de curso eu achava curioso – quando os alunos de Sri Chinmoy perguntavam como estava nossa meditação diária ao chegar na minha vez uma das meninas já logo falava: “Ah! Você nem conta, você corre todos os dias!”. E eu corria mesmo, mas além de correr eu também meditava. No início eu não entendia muito bem porque ela falava aquilo… eu ainda não tinha feito a associação profunda da corrida com a meditação.
Talvez porque eu estivesse tentando pensar racionalmente. Não dá para pensar apenas: meditação, antes ou depois da corrida? Meditação não é alongamento. Você medita antes, durante e depois da corrida.
E foi só depois de alguns meses de prática diária de meditação e uma entrega profunda aos ensinamentos de Sri Chinmoy que eu pude realmente sentir o que ela quis dizer quando falou que correr é uma forma de meditação.
O efeitos dos exercícios de meditação durante a corrida
A primeira prova que fiz na Irlanda foi em Dingle. Uma meia maratona em uma paisagem simplesmente deslumbrante. Eu sonhava há meses com essa meia maratona. Ela acontece numa estrada que é um dos cartões postais da Irlanda. O único dia do ano em que ela é fechada pra carros é no dia dessa prova. Só atletas correndo por aquele cenário que é um quadro divino. Era mesmo um sonho.
Eu não conhecia ninguém que estava fazendo a prova. Foi uma das viagens que eu adoro fazer com minha única companhia: Deus, e o desafio de me conhecer ainda mais.
O percurso da prova tinha algumas boas subidas e eu fui fazê-la apenas com uma certeza: aproveitar cada instante daquela oportunidade. E nem nos meus mais lindos sonhos poderia ter tido a criatividade de imaginar tudo que Deus me proporcionou naquele dia.
Enquanto eu corria percebi que estava fazendo um dos exercícios de meditação que eu tinha aprendido em um livro de Sri Chinmoy.
Comecei a olhar para a vastidão do céu e imaginava que eu era o céu, que eu fazia parte dele. Depois eu olhava toda a natureza à minha volta e sentia que eu também era cada uma das árvores, das folhas, do verde. Depois o percurso me levou até aquele oceano lindo e azul que passava do meu lado esquerdo. E eu sentia que eu me tornava uma com o oceano. Quanto mais eu imaginava que eu era cada um desses elementos, eu me tornava um com eles, eu ficava mais forte.
Em alguns momentos eu não sentia que estava correndo, eu estava voando, leve como um pássaro. E comecei a imaginar então que não era eu quem estava correndo. Quem corria era a minha alma e alma não sente dor, alma não cansa… a alma simplesmente voa. Voa de uma forma sublime. Então, Deus começou a correr por mim. E cada vez que eu mergulhava nisso tudo eu sentia mesmo meu corpo desaparecer. Não tinha dor. Nem mesmo nas subidas. Era uma sensação de leveza e aquela felicidade que já tomava conta de mim sempre que eu corria ficava ainda maior, ela tomava conta de todo o meu ser.
Eu corri praticamente sem olhar o tempo no relógio. Eu me entreguei ao melhor que eu poderia ser, à minha força interior, à Deus. E quando vi eu tinha feito meu melhor tempo em meia maratona da vida. Com vontade e pernas para correr ainda alguns outros quilômetros. Foi inesquecível. Foi maravilhoso. E para os meus treinos de maratona foi ainda mais inspirador. Lembro que no dia seguinte eu cheguei em Dublin e corri outros 21km pela cidade. Aquela felicidade ainda tomava conta de mim.
Meditação diária e treinos para maratona
Os treinos para a maratona estavam apenas começando. Estavam por vir aqueles dias mais cansativos. Assim como nem todo dia ganhamos ótimas meditações, na corrida também é igual: nem sempre a gente tem um ótimo dia de treino. Até para quem ama correr, alguns dias são difíceis de conciliar no trabalho, na família, ou até mesmo pela (falta de) motivação.
E foi num desses dias difíceis que eu recebi mais um presente da meditação na minha corrida.
Eu trabalhava em Dublin em uma lanchonete, geralmente minha escala era nos finais de semana, mas alguns dias me pediam para ir durante a semana também. Como eu precisava muito daquele dinheiro, eu aceitava. Mesmo sabendo que isso poderia comprometer minhas aulas na escola e meu treino para a maratona – já que meus treinos eram sempre de manhã.
Fui escalada pra abrir a lanchonete, entrei às 6h e (para a minha não sorte) acabei tendo que fechar também e ficar até 16h30. O trabalho era em pé, andando de um lado pro outro. Talvez eu tenha sentado uns 30 minutos para almoçar, e só. Era início da semana e meu corpo ainda estava sentindo o trabalho do fim de semana.
Por coincidência, era o mesmo dia do curso de meditação e eu ainda tinha um treino de tiro para fazer (10km). Comecei a fazer as contas: sempre que eu ia correr 10km eu separava 1h, mesmo que precisasse de menos. O curso ia terminar às 21h e depois disso eu ia treinar, ia chegar em casa umas 23h para acordar cedinho no dia seguinte. Não estava disposta a perder nem a meditação nem o treino. Para otimizar o tempo eu fui para o curso de meditação com a roupa de treino para começar a correr de lá mesmo.
Naquele dia a minha mente estava cansada. Além disso, aquele trabalho baixava muito as minhas energias. Mas meu corpo estava pedindo para correr.
Nesse dia eu recebi mais um presente porque a minha meditação foi tão boa que dela eu tirei uma força que eu nem sabia que tinha. O treino foi um dos melhores que eu tinha feito nas últimas semanas. Depois que eu vi a minha velocidade no relógio e a média da velocidade do treino eu fiquei assustada comigo mesma e no quão rápido eu podia correr. Eu só agradeci, agradeci e agradeci por toda aquela graça que eu estava recebendo.
Se eu tivesse deixado espaço para a minha mente ganhar voz das duas uma: ou eu não teria ido na meditação ou eu não teria feito o treino. Depois de fazer tudo que fiz, se fosse pensar muito naquilo que ainda tinha que fazer e no amanhã, minha mente teria desculpas suficientes para me fazer desistir de algum deles. Porque tudo isso pode ser demais pra uma mente que pensa apenas no mundo exterior.
Eu fui pra casa depois do treino explodindo de alegria e de gratidão no coração. Eu vi que realmente o nosso limite está apenas na nossa mente. Muitas vezes nós não sabemos a força que temos, mas ela está lá no fundo do nosso coração, às vezes escondida… só querendo um espacinho para vir à tona. E a meditação te ajuda a encontrá-la, te ajuda a tirar todas as camadas que estão encobrindo-a. Cada uma no seu tempo. Mas hoje vejo que apenas com a meditação e com os ensinamentos de Sri Chinmoy eu consegui abrir meu coração para tudo isso.
Com Sri Chinmoy eu aprendi que a corrida interna é a mais importante, mas a corrida
externa ajuda nesse caminho espiritual e que cada vez que corremos mais rápido na corrida interior mais resultados vemos em nossa vida exterior. É só termos coragem para nos entregarmos.
by Patanga Cordeiro | Aug 1, 2019 | Diversos
Quando leio algumas histórias de Sri Chinmoy ou quando me recordo das minhas memórias com ele, uma coisa que sempre vejo repetir com seus discípulos é que ter uma consciência doce e infantil (não me refiro a ser infantil como sendo bobo) é uma importante e talvez uma vantagem essencial.
Quando eu estou em uma consciência mais infantil, tudo parece mais espiritual, naturalmente espiritual ou divino. Quando eu estou em uma consciência mais séria, as coisas podem facilmente parecer como um problema ou eu sinto como se estivesse tendo uma febre mental.
Descobri que existem alguns caminhos que me ajudam a entrar em uma consciência mais infantil, como:
● Meditação. Quando realmente acontece funciona muito bem. Porém, eu não posso contar que eu vou ter boas meditações a qualquer hora que eu quiser. Eu as tenho, mas me parece que elas vêm mais como presentes incondicionais do que por conta do meu know-how de meditação.
● Outra forma é passar um tempo com crianças. Isso realmente funciona pra mim.
● E uma terceira forma é fazer atividades que crianças gostam de fazer, fazendo de mim uma criança, por assim dizer.
Sri Chinmoy desafiou suas capacidades com vários projetos (como sua série Sonhadores-Arco-íris), os quais incluem feitos como corrida, pulos, malabarismos, pinturas e etc. Mas não foi só isso, em seus feitos também incluem jogos de crianças, como piões, bolinha de gude e por aí vai.
Parece que sempre gostei de brincar desses jogos (mesmo depois de já ter passado dos meus 30 anos), mas talvez a falta de companhia ou excesso de rigidez mental não me deixou ver a ação da disciplina benéfica do ato de jogar regularmente.
Identificando-se com crianças
De uns anos pra cá, tivemos alguns pais começando a participar dos encontros em nosso centro de meditação Sri Chinmoy em São Paulo.
Eu naturalmente percebi e entendi, considerando a perspectiva do longo e solene silêncio de meditação e sérias conversas espirituais, que as crianças também se sentiam em casa.
Mas não há tanta coisa que você você pode conversar com crianças. Crianças parecem não ter, na maioria das vezes, interesses nas discussões, conclusões, finais e raciocínios que nós muitas vezes tentamos alcançar enquanto estamos conversando com outros sobre assuntos espirituais ou não.
Eu gosto muito de ouvir sobre experiências de outras pessoas no caminho espiritual, mas acho que quando eu mesmo ou outros tentamos raciocinar ou explicar ou ensinar alguém sobre tópicos espirituais, há geralmente raciocínio desnecessário e às vezes viagem do ego. Nós somos todos buscadores, está tudo perfeitamente bem em apenas tentar e falhar…
Mas sempre procuro simplesmente faz algo que me faz sentir realizado, infantil e espontâneo, isso me parece muito mais alinhado com os ensinamentos de Sri Chinmoy e um melhor uso de tempo e energia.
Então, a fim de nos identificarmos com nossas crianças recém-chegadas, nós criamos um interesse comum: jogar jogos!
Finalmente eu encontrei alguém que realmente entendia quão importante é jogar e eles também encontraram um adulto (talvez isso seja uma afirmação qualificada) em mim alguém que realmente entendia o quanto jogar era mais importante do que outras coisas chatas e sérias que não fazem ninguém realmente feliz.
A propósito, existe uma anedota interessante dita por Sri Chinmoy em seu livro “Asas da Alegria”, na qual um reconhecido e sábio cientista cujo nome era Dr. Satyendranath Bose declina em presidir um conselho científico porque ele havia prometido jogar com as crianças – um de seus passatempos favoritos, o qual deu a ele mais satisfação do que presidir conselhos científicos.
Quanto a mim, eu sinto que venho aprendendo com as crianças e seus pais lições que estavam atrasadas há um tempo em meus anos como um buscador espiritual e discípulo de Sri Chinmoy.
Então, simplesmente por ficar com eles eu pego muito mais espontaneidade, alegria e bons sentimentos. Às vezes, quando eu penso nas crianças com quem eu brinco, eu uso um apelido secreto: professores.
Pois acho que aprendo mais e mais rápido com a honestidade e busca sincera de alegria e felicidade delas do que quando tenho conversas espirituais ou um pouco espirituais – embora eu ache as conversas muitas vezes elevadas, importantes e gratificantes. Quero dizer apenas que a experiência com as crianças nos últimos anos tem aparentemente me proporcionado mais oportunidades de progresso do que as conversas.
Jogos que jogamos
Nós temos um grande número de jogos, e escolhemos jogar de acordo com a idade e afinidades pessoais.
Meus jogos favoritos são os jogos esportivos infantis que eu jogava na rua quando eu era criança: o número um é definitivamente esconde-esconde (no qual um dos nossos pais está invicto até hoje); o número dois talvez seja futebol; nós também temos uma variação de críquete que somente as crianças jogam aqui no Brasil; nós também fazemos batalhas usando elásticos como munição para serem jogados um no outro (eles não machucam de forma alguma).
Então, vem as atividades internas, como os jogos de tabuleiro. Se você conhece somente Monopoly, Palavras-cruzadas, eu posso assegurar que você está perdendo algo muito divertido e inspirador nos dias atuais, chamados de jogos de tabuleiro “modernos”.
Eu poderia recomendar alguns títulos básicos que vão levar sua mente longe quando você jogar, como:
– Jogos competitivos:
● Ticket to Ride
● One Night Ultimate Werewolf
● Tresure Island
– Jogos cooperativos:
● Ubongo
● Animal Upon Animal (ou Rhino Hero Super Battle)
– Jogos de adivinhar:
● Concept
● Mysterium (ou Dixit ou ao invés desse, o When I Dream)
– Jogos storytellings:
● Stuffed Fables
● Mice and Mystics
– Para as crianças mais “crescidas” existem alguns jogos sérios, históricos e temáticos, como:
● Freedom: The Underground Railroad (como contemporâneos de Lincoln fazendo sua parte para abolir a escravidão)
● Black Orchestra (sobre patriotas alemães tentando parar com as atrocidades do Nazismo na Segunda Guerra Mundial)
Esses jogos fazem você pensar na situação do mundo e no cuidado do Supremo para isso, entrando em contato com a história e possíveis mecanismos e desafios que os herois históricos encontraram.
Eu amo todos esses jogos, então eu poderia explicar um por um. Mas, primeiro, basta dizer que eles são totalmente divertidos e envolventes, e eles nos fazem sentir bem e construir ótimas memórias com nossos amigos.
Segundo, cada tipo de jogo vai trazer às crianças novos conceitos ou aguçar aqueles já existentes (como cooperação para um objetivo, habilidades de leitura, destreza, história do mundo, etc).
Eu também gosto às vezes de colorir desenhos de animais. Eu posso tentar desenhar também, mas isso não me atrai tanto quanto um bom jogo de tabuleiro ou brincar de esconde-esconde.
Resultados de jogar jogos na vida cotidiana
Nós também tivemos experiências que as crianças começaram as ter melhores relacionamentos e uma melhora em situações difíceis na escola simplesmente por pegarem alguns de nossos jogos de tabuleiro para usá-los durante um momento de recreação. De repente, todos se tornaram amigos e isso deixou todos felizes!
Com os jogos de tabuleiro, você terá uma biblioteca não de livros, mas de desculpas para ter alegrias inocentes com pessoas que você gosta. E, como uma biblioteca de livros, e diferente dos video games, depois de 40 anos, você ainda será capaz de pegar seus jogos da prateleira e ter um momento perfeitamente bom.
Eu joguei tanto video game na minha fase de crescimento que acho que isso atrapalhou meu desenvolvimento como criança e mais tarde como um buscador da vida espiritual. Isso mais me parece agora como uma tremenda perda de tempo (quando eu olho pra trás, eu não aprendi nenhuma habilidade cultural na minha fase de crescimento: nenhuma música, línguas, nenhum esporte, nem artes – apenas vídeo games).
Eu imagino que equipamentos eletrônicos deixam a mente tão inquieta e reativa que o coração acha difícil vir à tona – completamente o oposto da meditação. É o que parece para mim.
Mesmo nos dias atuais, eu acho que se eu ler muitos livros eu me sinto muito bem em vários aspectos, mas se eu gasto um longo tempo no computador ou no telefone celular eu me sinto muito cansado ou inquieto.
De qualquer forma, em uma nota positiva.. eu gostaria de convidar você a olhar em volta e talvez perceber que você está envolto por crianças agora mesmo… eles podem não parecer crianças, mas, assim como eu, eles podem ser apenas uma grande e crescida criança que esqueceu quem ela realmente é. Eu não acho que teria essa noção se não fosse pelo constante exemplo e orientação interior de Sri Chinmoy.
by Patanga Cordeiro | Sep 20, 2018 | Diversos
A melhor resposta que tenho até agora veio do meu professor, Sri Chinmoy: a coluna deve estar ereta. A partir daí, tenho sentido que o resto é acessório. Acessório até porque a meditação não depende completamente das circunstâncias exteriores. Ela acontece quando a nossa aspiração interior se incendeia e sobe alta e brilhante. É aí que as portas interiores se abrem. A aspiração vem do nosso coração e alma, e pode ser instigada pelo Mestre espiritual. No entanto, ela pode ser apoiada por coisas externas. Por exemplo, o corpo saudável, até mesmo um pouco atlético, será um auxílio, uma fundação sólida, para a nossa chama de aspiração que sobe e arde. Igualmente, uma postura adequada pode auxiliar a sua coluna a ficar ereta e o corpo melhor preparado para manifestar a sua aspiração na meditação.
Formas mais comuns de se sentar para meditar:
Meditar sentado no chão de pernas cruzadas
Você pode cruzar as pernas e manter a coluna ereta. Você também pode tentar colocar um dos calcanhares sobre a coxa da outra perna. Isso ajuda a ficar mais fácil manter a coluna reta. Outra coisa é sentar-se na ponta de uma almofada, o que rotaciona o quadril para frente e facilita a postura correta. Abaixo alguns acessórios que podem auxiliá-lo:
Almofadas para meditação
Usar uma almofada de meditação ajuda a erguer o quadril. Quando isso acontece, fica mais fácil manter a espinha reta. É por isso que muita gente gosta de usar almofadas para meditar. Escolha uma de altura adequada para você. Cada um prefere uma altura diferente, de acordo com o seu alongamento e outros fatores. Há diversos tipos de almofadas para meditar:
Zafu
Almofada no estilo japonês, redonda, com enchimento de estopa bem compactada. Você deve sentar-se na ponta da almofada, aproveitando o ângulo que o canto arrendondado proporciona para deixar o seu quadril alinhado.
Tijolo de yoga
É um bloco pequeno, de cerca de 30cm x 10cm x 10 cm de espuma bem dura.
Almofada improvisada
Você pode tentar qualquer coisa em casa – o importante é que dê certo para você. Travesseiro, retalho de carpete (é o que eu uso), etc.
Banquinhos para meditação
Estilo zazen
Com esse banco, você fica sentado de joelhos, mas o banco apoia o seu quadril. Assim, o peso são fica nas suas pernas.
Cadeira
Você pode usar uma cadeira que goste para meditar.
Não há problema nenhum!
Banco sentado
Trata-se de uma almofada com um apoio longo de costas acoplado. Algumas são dobráveis e portáteis.
Meditação em pé
Como você tem que sustentar muito do seu peso, não posso recomendar meditar em pé em primeiro lugar. Mas, se estiver cansado de sentar, pode tentar ficar de pé um pouco, ou caminhar de uma forma mais meditativa.