Fiz experiências pessoais com o uso de jogos, leituras, escrita, etc analógica e comparei com as digitais – mas não durante atividade em si, e sim APÓS A ATIVIDADE.

O que vou escrever aqui hoje, que fazer coisas analógicas é melhor para nós sob diversos aspectos, para quem já tem o costume de jogar jogos analógicos de tabuleiro, pode ser como chover no molhado – no entanto, muitas vezes é bom saber o porquê algo é bom. Isso ajuda a nos mantermos firmes e também auxilia a inspirar outras pessoas que precisam de um motivo razoável para se propor algo. Eu joguei muito videogame na minha vida, até os 19 anos, e precisei de duas coisas para perceber que tinha que mudar: alguém de confiança me dizer que não fazia sentido jogar tanto, e o sentimento de vazio que restava após horas ali. Sri Chinmoy comenta (nas minhas palavras) que se utilizarmos meios eletrônicos para a nossa busca, no fim da vida veremos que a coisa que deveríamos ter trazido desde o início se perdeu no caminho.

A conclusão do experimento é que, quanto menos eletrônico/digital eu uso, melhor fica a minha vida. Eu aprendo a aproveitar melhor cada momento, fico mais em paz, me sinto uma pessoa mais íntegra. Isso acontece proporcionalmente ao não-uso do computador/celular/etc. Não encontrei nenhuma exceção até agora.

Percebi que fiquei mais sagaz, mais conversador no bom sentido (conversas inteligentes, mas sem presunção). Meu inglês ficou mais claro. Comecei a descartar outros hábitos desnecessários que ocupavam meu dia. Tinha mais tempo para correr, cozinhar. Minha meditação foi melhorando claramente, e tinha mais vontade de parar mais vezes ao dia para fazer meditações curtas extra. E, ao invés de ficar ali um minuto e logo querer sair, pelo contrário, tinha inspiração para ficar mais tempo, sem pressa, sem medir tempo – o fato é que não tinha nada mais importante do que ficar ali mesmo, mergulhando mais fundo dentro de mim.

Para o experimento, fiz vários testes, que vou descrever um pouco mais ao final do artigo.

Foram eles, com seus resultados individuais:

1) Viajar sem levar o computador e só usar o celular para fazer uma ligação ou outra VERSUS viajar sem levar o computador, mas usando o celular para responder emails, etc, quase normalmente.

Percebi claramente que é bem melhor ficar sem usar o celular, exceto por uns 5 minutos por dia para coisas bem práticas. Deixar pra trás tudo que não exige sua intervenção faz com que tenha mais energia e tempo (e amplitude mental para enxergar padrões novos, ao invés de se reforçar nos hábitos antigos). Vocês viram que não fiz o experimento “viajar levando o computador” porque já fiz anos atrás e desisti rapidinho!

2) Em casa, limitar o uso do computador, por exemplo, até o horário do por do sol VERSUS ficar até tarde no computador fazendo qualquer coisa

Ficando até tarde, meu sono piorava, eu acabava comendo mais e ganhando peso, o sono piorava, tinha mais sonhos desgastantes, e tinha dificuldade para acordar cedo. Já limitando o uso do computador até o por do sol, depois disso, apenas música, leitura impressa, aprender partituras novas no violão (não sou músico, mas gosto de aprender as músicas mais fáceis do Bach, Tárrega, etc). Ligar para meus amigos para conversar, ouvir, etc. Naturalmente eu acabava dormindo mais cedo, de barriga vazia, acordava bem para depois ir correr bem e cedo, evitando o sol e o trânsito.

3) Jogos de tabuleiro VERSUS digitais

Como disse antes, até os 19 anos eu jogava muito videogame, muito mesmo. Eu fiz o comparativo jogando os jogos de tabuleiro solo que tenho aqui. A diferença é brutal quando você termina. Ao invés de desgastado, irritado ou com sentimento de vazio, eu me sinto “Legal, e agora, qual a próxima coisa boa que vou fazer?” Testei também praticar a meditação depois de cada atividade. É brutal a diferença. Depois de ficar no jogo digital, a meditação era quase que um “unwinding” mental. Já, depois do jogo de tabuleiro, era um mergulho profundo para além da mente. Testei também a corrida. Não reparei em performance, etc, mas apenas em como eu me sentia. Depois dos jogos analógicos, era muito melhor, me sentia mais fresco, olhava para as coisas com outros olhos, tinha reações mais positivas, quando saía para correr. Já depois dos jogos digitais, eu ficava mais preso no “eu de sempre”, nas reações de costume com todas as coisas.

4) Escrever artigos (como este e outros) no computador VERSUS escrever, copiar poemas, etc, usando caneta e caderno.

É interessante que, dentre todas as atividades no meio eletrônico/digital, escrever artigos é a melhor (ou menos pior) de todas se comparada com o papel e caneta. Talvez seja pela linearidade da atividade, que exige sua atenção numa coisa só, que é o rumo do seu pensamento. Ainda assim, percebo que escrever no papel é superior. Uns meses atrás vi um experimento que fizeram num estado dos EUA. Eles permitiram que não se ensinasse mais nas escolas a letra cursiva. Só ensinavam letra de forma, porque é a única que se usa nos celulares e computadores. Algumas turmas nas escolas foram ensinadas assim, e foi notável o déficit no aprendizado de todas as matérias. O simples fato de você aprender a escrever letra cursiva auxilia no desenvolvimento escolar das crianças, acreditam? Pois é. Eu tive que fazer cadernos de caligrafia na escola por muitos anos depois que a minha turma já não precisava mais (eu era sempre o que tinha letra mais feia na escola), mas hoje em dia minha letra cursiva é quase bonita : )