Esses escritos são apenas amostras dos ensinamentos de Sri Chinmoy, não sendo a sua filosofia completa sobre o tema.
Para um homem não aspirante,
o trabalho é uma punição,
trabalho é uma tortura.
Para um homem aspirante,
o trabalho é uma bênção,
o trabalho é uma alegria.
– Sri Chinmoy
Há alguma contradição na busca da riqueza mundana e da Verdade Absoluta?
Sri Chinmoy: Sempre haverá uma triste contradição entre as duas. Quando você clama por fama, renome, riquezas e outras coisas e, ao mesmo tempo, clama pela Luz interior, pela Luz abundante e pela Luz infinita, haverá uma contradição grave. De um lado, você está alimentando desejos ordinários dentro de você, desejando, digamos, uma casa, depois mais uma; Do outro lado, você está buscando o caminho da aspiração, a partir da qual você pode entrar no Infinito. Lá você não entra de pouco em pouco – você apenas entra. Você quer entrar no Infinito e você pode fazê-lo. Você simplesmente entrar e o seu clamor interior traz a Graça de Deus.
Quando você caminha através dos desejos, não há fim para eles. Hoje o seu desejo é satisfeito e amanhã você será vítima de um novo desejo. Primeiro você fica um pouco famoso; depois um pouco mais. O desejo de hoje aumenta amanhã em medida infinita. Não há fim. Hoje você é satisfeito, mas amanhã será possuído por um novo desejo.
No caso da aspiração, não funciona assim. A sua natureza, a sua própria natureza, deseja permanecer no Infinito. Quando alguém permanece na Luz altíssima, na Luz tudo-preenchedora, a Luz é quem decide dar uma experiência específica ao buscador ao lhe conceder renome e outras coisas. Mas se o buscador em si quiser ter ambos desejo e aspiração, fama e renome mundanos e mais a verdadeira aspiração pelo Altíssimo, ele não ficará nem no caminho espiritual e nem no mundo material ordinário, pois será constantemente atraído por essas duas forças contraditórias. Uma força dirá que a outra é inútil. O desejo dirá: “A aspiração é inútil. Você construirá castelos no ar.” A aspiração dirá: “O desejo é estupidez, uma estupidez sem fim.” É como um camelo no deserto. Ele come arbustos espinhosos e sua boca sangra profusamente. Mas ele volta e come mais espinhos.
Essas são as duas forças contraditórias que existem: o desejo o leva à frustração e a aspiração o leva à satisfação. Mas existe um outro ponto sutil que devemos tocar. É o mundo material, o mundo físico. Não podemos rejeitar o mundo físico. Por quê? É porque nosso mundo espiritual está dentro do mundo físico. Quando é uma questão do mundo interior e exterior, temos de entender que a Realização do mundo interior deve ser expresada no mundo exterior. Não podemos separar o mundo interior do mundo exterior. Essa é a nossa visão, a nossa filosofia. Esse é o nosso caminho. Outros caminhos são diferentes. Se deixamos o mundo exterior e ficamos nas cavernas dos himalaias, não realizaremos a Verdade Absoluta aqui na Terra.
Se dissermos “Os seres humanos são muito maus; eu quero fugir disso”, estaremos separando o mundo interior do mundo exterior. Nossa filosofia é que o mundo exterior deve ser uma manifestação ou uma expressão do mundo interior. Para manifestar a Verdade, é preciso primeiro ter a Verdade e, para isso, a aspiração é necessária.
Como eu disse no início, se tentarmos unir o desejo e a aspiração, seremos arruinados. Porque eles são como o pólo norte e pólo sul, nem a aspiração e nem o desejo terão interesse em nós ou em nos satisfazer, pois não conseguem caminhar juntos. Uma vez que, através da aspiração, a Realização seja estabelecida, você poderá adentrar o campo da manifestação. Talvez isso lhe seja confiado. Ninguém o culpará por entrar no mundo exterior, porque haverá um Poder superior que trará o “resultado exterior” para você. Esse Poder superior só está interessado na sua Realização, na sua unicidade com o Absoluto altíssimo. O Poder estará em você e por você. Isso é o que Deus quer de você. Isso é o que Deus precisa de você.
Para um buscador, se ele é um verdadeiro buscador, ele deve passar pela aspiração e não pelo desejo. Se agora mesmo alguém tem aspiração e desejo, essa pessoa deveria abandonar o caminho espiritual? Não. Ela deve trilhá-lo. É preciso ver as porcentagens. Se ela tem 50% aspiração e 50% desejo, então o que deve fazer? Ela não deve renunciar a vida humana comum, mas também deveria prestar mais atenção ao caminho da aspiração. Gradualmente, gradualmente, a porcentegem de desejo diminuirá. Chegará o dia em que essa pessoa realmente verá que é a aspiração quem o satisfaz, que traz a ele toda alegria que ele sente. Ela verá que a aspiração irá satisfazê-lo para sempre. Nessa hora, a vida-desejo automaticamente ressecará e a vida de aspiração a carregará até o fim da estrada, a verdadeira Meta.
Qual o lugar do trabalho na vida espiritual?
Sri Chinmoy: Há alguns Mestres espirituais que permitem que seus discípulos vivam errantes. Eles são como parasitas; hoje estão aqui, amanhã estão em outro lugar. Nosso caminho não é assim. Eu peço que meus alunos trabalhem ou estudem. Se você trabalhar, se tiver uma padrão de vida modesto e decente e tiver uma vida normal, eu ficarei muito feliz. É absolutamente necessário ter uma vida normal.
Sinta que o trabalho, se feito devotadamente, é a oração do corpo. A oração do corpo é necessária, absolutamente necessária, para satisfazer Deus. Assim como o coração ora, a mente, o vital e o corpo também devem orar. Quando dizemos que o corpo deve orar, sabemos que essa oração só pode ser realizada através de serviço abnegado.
Sri Chinmoy, Service-boat and love-boatman, part 1, Agni Press, 1974
Brahman é o Infinito Imperecível. Outro nome para Brahman é Aum. Aum é o Criador. Aum é a Criação. Aum está na Criação. O Aum está além da Criação.
O significado de Aum pode ser descoberto através de livros. Mas o conhecimento de Aum nunca pode ser obtido através do estudo dos livros. Ele deve ser conquistado vivendo-se uma vida interior, uma vida de aspiração, que transportará o aspirante aos níveis mais elevados de consciência. A maneira mais fácil e mais efetiva para subir alto, mais alto, altíssimo, é carregar-se de amor puro e devoção genuína. Dúvida, medo, frustração, limitação e imperfeição estão destinadas a se entregar ao amor devotado e à devoção entregue. O amor e a devoção têm o poder de possuir o mundo e serem possuídos pelo mundo. Ame a manifestação de Deus; você descobrirá que a criação cósmica é sua. Devote-se à causa da manifestação cósmica; você verá que ela o ama e o considera como parte de si.
Não há mantra mais poderoso do que a mãe de todos os mantras, Aum, o som cósmico. Um yogi ou personalidade espiritual escuta esse som auto-criado nos mais profundos recessos de seu coração. Quando começar a ouvi-lo, você poderá ter certeza de que está bastante adiantado na vida espiritual. A sua Realização não mais será um mero brado em meio à escuridão. O dia em que você alcançará sua Auto-realização se aproxima rapidamente.
Chamamos o Aum de anahata nada, o som sem-som, ou o som que não foi soado. Empregamos o termo ‘sem-som’, mas isso é dizer pouco. O som cósmico é inaudível aos nossos ouvidos comuns, mas se ouvirmos o som sem-som dentro do coração, veremos que ele é infinitamente mais poderoso do que o som mais alto que possamos produzir. Na suavidade pode residir um tremendo dinamismo. Por vezes eu falo de forma paterna, com grande carinho e afeição. Falo com muita suavidade e delicadeza, mas ainda assim uso um poder absolutamente dinâmico. Talvez eu esteja sorrindo e oferecendo todo tipo de afeição, mas em minha suavidade há um poder vulcânico.
Se repetir a palavra Aum todos os dias por duas, três ou quatro horas, você guardará a vibração desse som em seu coração. Não será preciso entoar o som interiormente, pois entoando-o exteriormente o som interior se cria automaticamente. Quando o som sem-som vibra constantemente em seu coração, todo o seu corpo fica carregado de sabedoria divina, luz divina, poder divino. Praticar esse único mantra é suficiente para levá-lo a Deus.
Aum é o símbolo de Deus, a vibração do Supremo. É um som único, indivisível, indescritível. Ouvindo-o interiormente, identificando-nos com ele e vivendo em seu interior, seremos libertos dos laços da ignorância e realizaremos o Supremo dentro e fora de nós.
Durante o entoar do Aum, o que na verdade acontece é que a paz e luz descem das alturas e criam uma harmonia universal em nosso interior e exterior. Enquanto repetimos Aum, tanto o ser interior quanto o exterior ficam inspirados e carregados com luz divina e aspiração. O Aum é sem igual. Ele guarda infinito poder. Simplesmente repetindo Aum podemos realizar Deus.
Quando recitar Aum, procure sentir que Deus está subindo e descendo dentro de você. Centenas de buscadores na Índia realizaram Deus simplesmente repetindo Aum. Não importa quão grave seja um pecado, se uma pessoa entoar algumas vezes Aum a partir das profundezas de seu coração, a Compaixão onipotente de Deus perdoará e concederá redenção ao buscador. Num piscar de olhos, o poder do Aum transforma escuridão em luz, ignorância em conhecimento e morte em Imortalidade.
São várias as formas de se entoar Aum. Quando o fazemos com grande força da alma, entramos na vibração cósmica, onde a criação é perfeita harmonia e a dança cósmica é executada pelo Absoluto. Se cantamos devotadamente, tornamo-nos um com a Dança cósmica; tornamo-nos um com Deus o Criador, Deus o Mantenedor, e Deus o Transformador. Aum é ao mesmo tempo a Vida, o Corpo e o Alento de Deus. Isso é o que você pode sentir cantando Aum.
Quando for atacado no plano vital emocional, e pensamentos, ideias e vibrações ruins tomarem conta de você, repita Aum ou o nome do Supremo tão rapidamente quanto o possível. Não o faça lentamente. Enquanto tenta afastar as impurezas da sua mente, é preciso entoar como se estivesse correndo para embarcar num trem em movimento.
Durante o japa, não prolongue muito o som. Se alongar a sílaba Aum, não terá tempo para cantá-la quinhentas ou seiscentas vezes. Basta dizer de uma forma normal mas devotada, de forma que você sinta a vibração. E precisa ser feito em voz alta, não em silêncio. Deixe que o som do mantra vibre até mesmo em seus ouvidos físicos e permeie todo o seu corpo.
Recita-se Aum em voz alta porque, quando a mente exterior se convence, sentimos mais alegria e entrevemos uma conquista maior. Todavia, se soubermos como adentrar a fonte original do som, que fica dentro do coração, não precisaremos entoar em voz alta. É de fato possível recitar Aum silenciosamente ou ouvi-lo interiormente, sem realmente pronunciá-lo. Onde quer que estejamos, o som do Aum já estará presente. Poderemos ouvir o som de Aum sem o cantarmos, mas não saberemos de onde vem, se é do nosso coração ou da atmosfera.
Às vezes, durante a meditação os buscadores ouvem o som de Aum ainda que ninguém o esteja recitando. Isso quer dizer que interiormente alguém canta ou cantou Aum, e a sala de meditação preservou o som. Se tivermos consciência durante o sono, ouviremos o som de Aum. Não é o batimento do coração que ouvimos, mas sim o som sem-som. Será uma sensação muito convincente.
Se você quiser meditar enquanto estiver num lugar público, onde há todo tipo de barulho e perturbação, busque adentrar o seu próprio som interior. Para a sua surpresa, verá que os sons que o incomodavam um minuto atrás não mais o perturbam. Na verdade, um sentimento de plenitude surgirá pois, ao invés de ouvir barulho, você ouvirá música divina, uma música divina gerada em seu interior.
Mas Aum não é um termo que possui significado em nossa cultura.
É verdade. Na sua cultura a palavra mais significativa é ‘Deus’. Já na Índia, repetimos Aum ou o nome de um deus ou deusa cósmica, como Shiva ou Kali. Quando se entoa um mantra, o mais importante é saber em que aspecto do Supremo temos fé absoluta. Eu uso a palavra ‘Deus’ aqui no ocidente, porque sei que toda a vida vocês foram ensinados a orar para Deus. Mas Aum também pode existir em você com toda a significância que é peculiar a esse som. Chegará um dia em que será capaz de mergulhar mais fundo dentro de si, e se Aum o inspirar mais do que ‘Deus’, você deverá entoar Aum. É a inspiração recebida o que mais importa. Assim, você pode recitar ‘Deus’ se for o que mais lhe inspira.
O mundo interior nos diz que amar Deus é a nossa responsabilidade suprema, nossa única responsabilidade e nosso dever. O mundo exterior nos diz que servir a Deus, a Autoridade Suprema, é o nosso dever.
Se vivemos no mundo exterior e não aspiramos, seremos perseguidos por muitas perguntas. A primeira e mais importante é: “Quem é Deus?” A resposta será dada pelo mundo interior, mas não a ouviremos. A resposta do mundo interior é: “Quem não é Deus?” Essa é a resposta certeira que obteremos do mundo interior. Apesar de também ser uma pergunta, dentro dela mora está a resposta: todos são Deus, Deus no processo de auto-preparação, auto-revelação e auto-manifestação.
Há buscadores maduros e buscadores imaturos. Há pessoas aspirantes na Terra e há pessoas não aspirantes na Terra. As pessoas não aspirantes nos dirão que a vida interior é inútil. Elas dirão que os buscadores espirituais estão buscando uma meta vazia. Não há objetivo: é tudo fantasia mental, alucinação e autoengano. As pessoas aspirantes que não são maduras de tempos em tempos tentam fazer os outros sentir que são maduras. Elas oferecem sua própria sabedoria e julgamento, dizendo que o mundo exterior nada é senão um elefante enfurecido, que a agressão é o que reina, a destruição é o que reina. Essas pessoas sentem que não há alma, objetivo, realidade, mas sim apenas um elefante enlouquecido ou um tigre devorador que está destruindo o mundo exterior.
Mas os buscadores da Verdade suprema que possuem uma certa luz sabem com uma certeza que o mundo interior e o mundo exterior são ambos criações de Deus. Quando pensamos sobre o mundo interior, somos lembrados de Deus, a criação. O Criador e a criação devem ser vistos juntos. Deus sente que Ele é completo e perfeito precisamente porque Ele possui a criação dentro de Si, Consigo, a Seu redor e por Ele. A criação sente que é perfeita porque Deus, que é todo Perfeição, é a sua Fonte. Sem o auxílio e capacidade do mundo interior, não é possível progredir; ficamos cegos. A pessoa precisa de luz para caminhar pela estrada da perfeição, ou não conseguirá alcançar o seu destino, que está muito, muito distante. E, caso não dê o valor adequado às capacidades do mundo exterior, não fará progresso, pois não terá pernas. Tanto os olhos quanto as pernas são precisos; tanto o mundo interior quanto o mundo exterior são necessários para a perfeição. O mundo interior incorpora a visão, que é a realidade verdadeira. O mundo exterior incorpora o poder, o poder dinâmico, que também é indispensável. A luz é necessária e indispensável para a realização no mundo-silêncio interior, e o dinamismo é necessário e indispensável para a manifestação no mundo-som.
O mundo interior e o mundo exterior. O Aquele que deseja se tornar a Vida do Infinito, a Realidade da Eternidade e a Beleza da Imortalidade deve prestar a atenção devida a ambos os mundos. Ambos os mundos são de importância fundamental: o mundo-semente interior e o mundo-fruto exterior. É dá semente que obtemos o fruto, e do fruto que obtemos a semente. No mundo interior Deus nos reivindica e eternamente nos guarda como parte de Si. No mundo exterior tentamos e choramos para reivindicar Deus como parte de nós e reciprocar o Amor de Deus por nós.
Quando oramos e meditamos, quando mergulhamos fundo nos mais íntimos recessos do nosso ser, não apenas sentimos que estamos no mundo interior, mas também sentimos que somos o próprio mundo interior. Quando transformamos a nossa existência exterior aqui, ali e acolá numa mão que auxilia, num coração que serve e numa vida que ama, nos tornamos uma existência tudo-amorosa – e não apenas vivemos no mundo exterior, mas nos tornamos um com o mundo exterior em toda a sua realidade.
No mundo interior há um tesouro inestimável, que é o clamor constante por conhecer o Altíssimo e se tornar o Absoluto. No mundo exterior também há um tesouro imortal, inestimável, que é o sorriso, o sorriso iluminador. O buscador sorri para a vasta criação de Deus. Seu sorriso é a unicidade-identificação da sua própria existência-realidade com a criação inteira de Deus. Tanto no seu mundo interior e exterior, o buscador chora e sorri devotadamente, repleto de alma e incondicionalmente. Ele chora por alcançar a Altitude absoluta da maneira de Deus, à Hora escolhida por Deus. Ele sorri para ver, sentir e manifestar Deus. Ele enxerga Deus, sente Deus e manifesta Deus, a Realidade Suprema, da maneira que Deus quer que ele O veja, sinta e manifeste.
Como voltar a ser criança, ou “como desaprendemos os ensinamentos da mente?”
Sri Chinmoy: A maneira principal é trazendo a luz da alma para a mente e também para os ensinamentos da mente. Então a luz da alma irá iluminar ou obliterar tudo que a mente, a mente física, a mente duvidosa e suspeita nos ensinou. A mente humana comum nos ensinou muitas coisas. A mente está constantemente suspeitando, a mente está constantemente duvidando, constantemente trazendo a verdade até nós de sua própria maneira. Mas com a luz da alma as coisas que aprendemos podem ser facilmente deixadas de lado ou iluminadas.
Ou então, se tentarmos constantemente trazer o coração à tona e não dermos nenhuma atenção à mente física, automaticamente desaprenderemos o que a mente nos ensinou. Essa é a segunda melhor forma. É como o ditado de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente.” Se não revermos os ensinamentos da mente, naturalmente esqueceremos deles. Ao mesmo tempo, para desaprender coisas antigas, os ensinamentos da mente, devemos dar atenção às coisas novas, aos ensinamentos do coração. Quanto mais aprendemos coisas no coração e do coração, mais cedo esquecemos as coisas antigas que aprendemos com a mente de dúvida e suspeita.
Sri Chinmoy, Self-discovery and world-mastery, p 27, Agni Press.
Coloque a mente dentro do coração. Pegue a mente e coloque-a no rio do coração. A mente é como uma criança travessa. Antes, ela estava dormindo. Assim, a mãe podia ficar em silêncio e orar a Deus. Entretanto, a criança agora acordou e quer fazer traquinagens. Ela não quer mais deixar que a mãe aspire. O que a mãe vai fará? Ela ameaçará a criança, dizendo: “Ainda estou orando, ainda estou meditando. Se você me perturbar, terei de puni-la”. Enquanto a mente deixar que você medite, você não precisa se preocupar. Mas quando ela começar a incomodá-lo e a causar dor, isso significa que ela não quer que você receba mais paz, luz e bem-aventurança sublimes. Você precisa usar o poder de sua alma e colocá-la no coração.
Se puder permanecer no coração, começará a sentir um clamor interior. Essa súplica interior – que é a aspiração – é o segredo da meditação. Quando um adulto chora, o seu choro geralmente não é sincero. No entanto, quando uma criança chora, mesmo que esteja chorando só por um doce, ela é muito sincera. Nessa hora, o doce é o mundo inteiro para ela. Se você lhe der uma nota de 100 dólares, ela não vai ficar contente. Ela está interessada apenas no doce. Quando uma criança chora, o pai ou a mãe imediatamente vai até ela. Se você puder suplicar do seu mais profundo interior por paz, luz e verdade, e se essa for a única coisa que irá satisfazê-lo, então é certo que Deus, que é o seu Pai e sua Mãe eternos, virá para ajudá-lo.
Você sempre deveria sentir que está tão desamparado quanto uma criança. Assim que você sentir que está desamparado, alguém virá para ajudá-lo. Se uma criança estiver perdida na rua e começar a chorar, alguém de bom coração vai mostrar onde é a casa dela. Sinta que você está perdido na rua, e uma tempestade está chegando. Dúvida, medo, ansiedade, preocupação, insegurança e outras qualidades não-divinas estão vindo até você. Entretanto, se você chorar com sinceridade, alguém virá para socorrê-lo e mostrará como chegar até a sua casa, que é o seu coração. E quem é essa pessoa? Deus, o seu Piloto interior.
Hoje você pode ser um principiante na vida espiritual, mas não sinta que será um iniciante para sempre. Em algum momento, todos foram iniciantes. Se praticar concentração e meditação diariamente, se for sincero de verdade na sua busca espiritual, então é certo que fará progresso. O importante é não desanimar. A realização-Deus não acontece da noite para o dia. Se você meditar com regularidade e devoção, se puder clamar por Deus como uma criança que chora pela mãe dela, então não vai precisar correr até a meta. A meta virá e se colocará diante de você, considerando-o como uma parte dela mesma.
Uma maneira de aumentar a sua receptividade é ser como uma criança. Se a mãe diz para ela: “Isso é bom”, a criança não tem nenhuma tendência a pensar que aquilo é ruim. Não importa o quão evoluído você seja na vida espiritual, poderá progredir do modo mais rápido possível se tiver uma atitude de criança, um sentimento de criança inocente autêntico e sincero.
O nosso progresso será mais rápido se meditarmos no coração. Quando meditamos na mente ou dentro da mente, sentimos que já sabemos bastante sobre a vida espiritual. Porém, quando olhamos para o interior profundo, descobrimos que não sabemos quase nada sobre a vida espiritual. Só acumulamos informação nas nossas mentes – informação, nada mais. Mas, quando meditamos no coração, sentimos que somos como crianças que realmente querem aprender tudo de novo com a sua mãe ou pai. A criança sente que não sabe nada, mas quer aprender tudo da forma correta.
Portanto, o meu conselho aos buscadores que desejam seguir o nosso caminho é que se concentrem e meditem no coração. E mesmo aqueles que não se encaixam no nosso caminho podem tentar meditar no coração. Não é só o nosso caminho que enfatiza a importância de meditar no coração. Há outros caminhos e outros Mestres espirituais que defendem a mesma ideia.
Pelos textos de Sri Chinmoy, sei que meditar é várias coisas: um processo de identificação, um mergulho fundo, um voo alto, uma forma de ouvir Deus. E é muito mais, de acordo com a sua capacidade de meditar. Um instrumento para se tornar Deus.
Sou iniciante na meditação, acredito sinceramente, apesar de ter praticado sem falta por dezoito anos hoje. Hoje é domingo, então resolvi fazer uma meditação de uma hora no fim da tarde.
Cada vez que olho para a foto de Sri Chinmoy ao meditar – eu medito na foto do meu Mestre, que é uma das formas mais tradicionais de meditação – sinto algo mais vivo, mas próximo. Vou descrever minha meditação com essa referência, da foto. Mas é certo que outras pessoas devem ter experiências similares de outras formas.
Às vezes a foto parece tão viva – mais viva do que eu.
Mais viva do que qualquer coisa, na verdade, no sentido de que consciência define vida. Ela é mais consciente do que as coisas vivas que costumo enxergar.
Às vezes ela é tão profunda, vasta.
Meditar nela é como um salto, um pulo num poço à la Alice no País das Maravilhas – como se pudesse mergulhar lá em queda livre por dias sem alcançar o fundo.
Às vezes é tão elevada, sublime.
Observá-la é como lembrar-se da sua Meta altíssima.
Às vezes a foto parece se preocupar, cuidar de mim.
Isso foi, inclusive a minha primeira experiência ao ver a foto de Sri Chinmoy dezoito anos atrás. Ela era muito séria, rigorosa, e parecia se importar profundamente com o rumo que eu dava para a minha vida. Eu sentia que ela queria que eu tivesse a melhor vida possível e, ao mesmo tempo, que ela sabia que eu não sabia como fazer isso. E percebi que, com o passar do tempo, as coisas que deveria fazer ou me tornar para ter essa vida foram-me sendo ensinadas, na maior parte do tempo, a partir do interior.
Dicas para meditação 48 – quando o progresso espiritual parou e é difícil meditar
Pergunta: Quando o aspirante sente que o progresso espiritual dele parou e é difícil meditar, o que deveria fazer?
Sri Chinmoy: É bem possível recuperar essa aspiração e há várias maneiras de fazer isso. A primeira maneira é repetir o nome do seu Mestre espiritual. Ou, se não tiver um Mestre, pode repetir “Aum” ou “Supremo”. Deveria repetir o nome enquanto inspira. Não há necessidade de contar quantas vezes está fazendo isso. Pode repetir o nome interiormente e em silêncio, assim como em tom alto. Ao inspirar, repita-o silenciosamente por três vezes. Será mais do que capaz de fazer isso. Então, pode repeti-lo alto. Da cabeça aos pés, faça a palavra vibrar. Essa é uma abordagem.
A segunda forma de conseguir aspiração novamente é sentir que ela é como uma candeia. Vamos imaginar que o vento a apagou. Ela não está mais acesa. Você precisa de luz. Quem pode oferecer luz? Alguém com uma chama incandescente de aspiração. Quando um aspirante em particular está perdendo ou perdeu sua aspiração, imediatamente deveria ir até outro aspirante em quem a aspiração está refulgente.
Outro segredo é comparar os momentos em que teve com essa vez em que não tem aspiração. Quando teve aspiração, o que sentiu? E agora que não tem aspiração, o que está sentindo? Tente ver quantas experiências teve no período de sua intensa aspiração. Suponha que, há um ano, eu estava com uma aspiração intensa. Nessa época, tive vinte, trinta ou quarenta experiências elevadas. Deixe-me reunir todas as experiências bem na frente da minha mente, uma após a outra. Que visão eu tive? Vi a Luz? Vi uma aura? Vi outro mundo? Vi alguma outra coisa? Todas essas experiências você tem que trazer de volta. Enquanto estiver recolhendo as experiências da época em que estava com intensa aspiração, verá que essas experiências estão lhe dando uma nova vida. A vida que você levou nos últimos meses – um deserto árido – será agora regada pelas experiências de um ano atrás.
Aspiration-Flames, p. 41-43
Pergunta: Guru, como podemos dizer se estamos subindo ou descendo, quando o movimento acontece em passos tão pequenos?
Sri Chinmoy: Qualquer um pode saber se está subindo ou descendo. Ao descer, imediatamente sua alegria interior, sua satisfação interior, vai embora. Você pode enganar outras pessoas, mas não pode enganar a si mesmo, se for sincero. Pode tentar se enganar ou se iludir, arranjando alguma qualidade divina com sua mente ou seu vital. Mas quando seu mundo interior fica árido, você se sente realmente miserável, caso seja sincero. Se não se sentir miserável quando sua vida interior estiver árida, isso significa que você vai tentar se convencer de que nada está errado, quando tudo está errado. Sua casa foi totalmente incendiada, destruída, mas você diz: “Oh não, minha casa não foi queimada. Essa não é a minha casa. Minha casa está em outro lugar”. No entanto, sabe que ela foi destruída. Ou se você tem um dólar e não o vê de novo, sabe que o perdeu. Como é que pode dizer que não o perdeu? É só um dólar. Entretanto, sabe que foi perdido.
Selfless Service-Light, p. 32-33
Pergunta: Como posso manter a aspiração quando voltar para a Suécia?
Sri Chinmoy: Quando veio da Europa para Nova York, seu bolso estava cheio. Você tinha uma carteira com dinheiro dentro dela. Percorreu milhares de milhas e usou suas finanças. Agora, está voltando de novo e vai ganhar dinheiro, para que possa vir aqui da próxima vez. Você trouxe riqueza material para gastar. De forma semelhante, trouxe riqueza espiritual para sua vida espiritual. Você aspirou com mais intensidade. Naturalmente, obteve Paz, Luz e Felicidade. Veio aqui também conseguir mais inspiração e aumentar suas qualidades divinas. Sinta, por favor, que tem outra carteira dentro do seu coração. Aí você colocou Paz, Luz e Felicidade. Pode manter dentro do seu coração quaisquer qualidades divinas que obteve aqui em Nova York, da mesma maneira que mantém uma nota na sua carteira. Agora você pode voltar à Europa e tentar utilizar sua riqueza espiritual de forma sábia.
Mas existe uma diferença entre riqueza espiritual e riqueza material. Ao usar dinheiro de modo adequado, você pode apreciá-lo por algum tempo, mas gradualmente ele vai desaparecer. Entretanto, ao usar riqueza espiritual, que é Paz, Luz e Felicidade, de maneira apropriada, se oferecê-la à pessoa correta, automaticamente o Supremo preenche seu receptáculo, o recipiente dentro do seu coração. Se você começar com uma pequena gota de Paz e usá-la de uma maneira divina, o Supremo vai lhe dar Paz abundante. No entanto, você precisa usá-la de modo adequado. O Supremo vê se você agiu de forma apropriada. É como uma criança que ganhou um centavo da sua mãe. Quando ela usa direito o dinheiro, a mãe dá 5 centavos. Quando ela usa direito os 5 centavos, a mãe dá 10 centavos. De forma parecida, você recebe Paz, Luz e Felicidade. Se começar a usar essas qualidades de maneira apropriada, quando for perturbado ou se sentir agitado pelas forças erradas do mundo exterior, eu asseguro que a Fonte vai prover mais Paz, Luz, Felicidade e todas as outras qualidades divinas. Sinta, por favor, que está carregando todas as coisas que recebeu aqui dentro do seu coração, ao voltar para a Suécia.