por Patanga Cordeiro

Com o lançamento do livro Sonhos pela Leão Livros, várias memórias me vieram à tona. Uma delas é que fiz a tradução do livro, e revisei muitas vezes, então vários trechos acabei memorizando. Outras foram os raros sonhos espirituais que tive na minha vida. São apenas uns dois ou três, e vou contar aqui um deles, que tive umas duas semanas ou dois meses após ser aceito como aluno por Sri Chinmoy.


Eu estava numa boate / discoteca / balada ou como isso se chama hoje em dia. Tinha música, fumaça, gente dançando e era escuro. Eu já não tinha mais muito interesse nessas coisas, mas ainda assim não me senti estranho no lugar. Eu estava sentado no bar. As pessoas me ofereciam álcool, mas eu recusava. As pessoas me ofereciam outras coisas, e eu recusava. As meninas ao redor se mostravam disponíveis para relações, mas eu não as buscava e afastei as que me procuraram. Então, depois disso, as pessoas pararam de me buscar. Eu estava lá, em meio a todos, mas sozinho. Foi só então que tive a ideia: por que não saio daqui?

Ao sair, vi que era dia, mas estava num deserto. A todo lado, só a terra batida e a construção escura de onde saí. Após alguns momentos, vi uma estrada de asfalto cruzando o deserto, passando por trás da construção. Chegando ali encontrei um colega, o Nandika, também aluno de Sri Chinmoy, correndo pela estrada. Eu fiquei inspirado a correr junto com ele pela estrada. Estávamos correndo pelo acostamento, e a estrada era muito longa, sem fim, e reta até sumir no horizonte distante.

Depois de um tempo, de repente paramos. Ao olhar para frente, eu vi meu Mestre, Sri Chinmoy, bem diante de mim. Ele era todo cor de cobre, um metálico laranja, incluindo a sua roupa, pele, olhos – como uma estátua de bronze, mas de cor brilhante. Ele veio até uns 30 centímetros de mim, deu uma volta ao meu redor (e eu pude sentir até mesmo o deslocamento do ar ao meu redor) e parou novamente na minha frente.

Ele me perguntou, rigoroso: “Quem é o seu Mestre!?” Eu respondi, “É você!” Ele balançou a cabeça vigorasamente para os lados, querendo dizer que não. Eu insisti: “Eu sei que é você!” Ele então fez um meneio de um lado para o outro, aceitando mas não aceitando a resposta, como quem diz “Sim, a resposta está certa, mas não está da forma que eu queira ouvi-la.” Eu lembrei então da sua filosofia e respondi: “O Supremo é o meu Mestre…”, ao que ele acenou com a cabeça que sim, muito feliz, mas eu continuei “Mas, para mim, você representa o Supremo aqui!” Ele riu alto, uma risada que eu conhecia, muito satisfeito (pois isso também está certo – um Mestre realizado é a representação humana do Supremo para os seus discípulos), e então acordei.

Acordei, mas eu estava muito diferente. Estava feliz, mas não era emocional; estava muito satisfeito, forte, tranquilo. Parecia que muitas coisas importantes tinham acontecido dentro de mim, e estava supremamente inspirado e grato em poder continuar minha vida e meu dia.

Nos próximos dias ou semanas, tive outra experiência em sonho. Eu via quem eu achava que era o Mestre me olhando com desgosto, com uma expressão desnatural, retorcida. Sinceramente, não parecia o Mestre, mas algo disfarçado dele. Mas, na hora, isso não era o mais importante, e eu tentava me explicar, mas nada fazia muito sentido. Por sorte eu já conhecia várias perguntas e respostas por ter lido o livro. Então ao acordar já deu para ver que provavelmente foi a minha própria imaginação (através do sentimento de menos valia) ou uma força hostil (seres que tentam resistir o progresso da humanidade) que criou essa imagem para que eu perdesse a experiência tão espiritual que tive no sonho anterior. Assim, logo me esforcei para afastar esse segundo sonho, que era confuso, insatisfatório e obscuro. As forças hostis não conseguem reproduzir a pureza de um Mestre espiritual verdadeiro – essa é uma dica – e por isso nesse segundo sonho o Mestre parecia tão fora do natural, estranho. Esse não foi um sonho espiritual, mas algo do meu psicológico ou uma força externa tentando me fazer sentir menor. Quando você ver algo assim nos seus sonhos, não se renda, não os ouça. Invoque pureza, a pureza da sua alma. Claro, ajuda muito se a sua vida tiver pureza.

O trecho do livro é este:

Se alguém tem um sonho com o seu próprio Mestre espiritual, o sonho é confiável?

Sri Chinmoy: Infelizmente, é possível que as forças ruins tomem a forma de uma grande personalidade espiritual ou de um Mestre espiritual e apareçam num sonho. Às vezes elas são bem sucedidas e fazem muitas coisas ruins. Como você pode distinguir o Mestre verdadeiro das forças hostis? Quando uma força ruim aparece num sonho na forma de um Mestre espiritual ou de um grande santo, a primeira coisa que você notará é a sua impureza. Se você reparar que não há pureza, imediatamente saberá que não é o Mestre, mas sim uma força ruim na forma do Mestre. Muitas vezes aconteceu que forças negativas tomaram uma forma divina e apareceram diante do buscador, e o buscador se curvou a essas forças. Você nunca, nunca deve se curvar num sonho a não ser e até que tenha certeza de que aquela pessoa realmente é o seu Mestre, ou Krishna, o Cristo, o Buda ou outro grande Mestre espiritual. Caso contrário, no momento em que se curvar e tocar os pés da pessoa, através de um processo do ocultismo essa força ruim levará embora algumas das suas qualidades divinas.

Quando você vê um Mestre num sonho, primeiro veja se ele traz consigo uma enxurrada de pureza e a fragrância de uma flor ou o brilho da luz. Essa pureza nunca será trazida pelas forças hostis. No momento em que você sentir pureza absoluta e a fragrância de flores, saiba com certeza que é uma pessoa divina quem veio. Mas se sentir impureza ou se ficar incomodado ou com medo, saiba com certeza de que é uma força ruim em um disfarce.

do livro Sonhos

Tipos de sonhos: espirituais, psicológicos

Um sonho espiritual é uma experiência na sua vida interior. Em geral, guarde-a no seu coração, no seu diário, e não a compartilhe – a não ser que seja um chamado, uma necessidade interior e, mesmo assim, só depois de muitos meses ou anos. Esse sonho tive há quase vinte anos, e sinto que já está bem assimilado, por isso sinto necessário compartilhar, como uma inspiração aos demais buscadores. Sinto que as situações desse sonho são algo pelo qual muitos buscadores passam, cada um da sua forma individualizada.

Já um sonho do psicológico é algo que está retornando da sua memória, das suas emoções. Ele não necessariamente pode ser parte da sua busca espiritual, mas sim um processo natural do ser humano, assim como os demais que passam pelo nosso físico. Normalmente eles são mais confusos, excitantes, tristes, eufóricos, etc. Eles não têm a solidez e serenidade dos sonhos espirituais, e não costumamos nos sentir pessoas novas, mais evoluídas, após acordarmos.

 

Dicas para sonhar bem e não ter pesadelos

Dormir com os braços ou algo no peito, ou com o rosto coberto pelos lençóis pode fazer com que tenha pesadelo, pois fica fechado para a luz. Dormir de barriga cheia, ou ter pensamentos ruins enquanto come durante o dia também pode ocasionar pesadelos.

Antes de dormir, sempre medite e traga luz para o seu ser emocional, a região ao redor do umbigo. Viva a sua vida desperta com consciência, pureza, luminosidade.

 

Significado dos sonhos

Abaixo deixaremos um resumo de alguns sonhos listados no livro. Por favor, leia a explicação completa antes de tirar conclusões e saiba que apenas um Mestre espiritual realizado pode dizer com certeza o significado interior dos seus sonhos. Aqui tem um resumo apenas para motivá-los.

Sonhos de diversos planos de consciência

Sri Chinmoy descreve o significado de muitos sonhos no livro. Os sonhos, mesmo que tenham o mesmo tema ou acontecimentos, possuem significados diferentes de acordo com o plano de consciência de onde vêm. Ou seja, não é possível dizer que o significado de um sonho específico é fixo. Depende de cada dia, cada pessoa, cada sonho individual. Considere as explicações abaixo como possibilidades apenas.

Sonhos com animais

 Por exemplo, ele descreve como a águia voa alto, mas sua consciência está sempre olhando para o chão. É como se fosse uma arrogância: “Sou tão espiritual, tão elevado”, mas o buscador está sempre olhando para as coisas baixas da existência.

Sonhos com cães, se o estiverem seguindo-o fielmente, representam a sua fé e obedência; se estiverem mordendo-o, significa a perda de fé. Peixes representam maldade, mesquinhez. Mas se estiverem nadando de forma bela na água, podem representar a consciência. Serpentes coloridas significam poder, exceto se forem escuras, onde representam destruição. Elefantes significam força.

Sonhos com outras pessoas

Em outra pergunta, ele foi perguntado sobre como levar o amor que sentimos num sonho para o dia a dia. Mas sua resposta foi direta (supomos que por saber o que acontecia no interior da pessoa): se é amor emocional, devemos ficar vigilantes e não o acalentar, pois prejudicará a nossa vida espiritual. Uma forma de superá-lo é oferecer ao Supremo, ao invés de a uma pessoa.

Uma pessoa sonhou com a morte de um familiar. A recomendação é que não desse atenção, pois, se fosse verdade, ficaria triste; se não fosse, causaria tristeza desnecessária. Mas podemos sempre orar e meditar pela vitória divina em todos os acontecimentos.

Sonhos sobre estar caindo ou voando

Se sonhar que está caindo e ficar com medo, é um sinal de que está sendo atacado. Se a queda for inspiradora e acordar com a força de um leão, saiba que está sendo inspirado e energizado por uma força divina a mergulhar fundo na sua vida interior.

Sonhos onde você voa ou caminha como se estivesse saltando acontecem no plano vital superior, que não é um plano muito elevado. Sonhos com batalhas e morte costumam ser do plano emocional também.

Sonhos com anjos e música

Num dos sonhos, uma pessoa teria visto uma monja, mas Sri Chinmoy disse algo com a ideia de que na verdade eram anjos, só que a mente não queria que a pessoa sentisse a alegria de ver os anjos no sonho e a disfarçou de monjas. Olhem como a nossa própria mente nos trata!

Em outro sonho, a pessoa ouvia a música da alma (!). Outra experiência foi de alguém que ia muito fundo e, ao sair, sentia que queria ficar lá. Nesse caso, a experiência foi a de estar na região da alma.

Mais sobre os sonhos no livro