Não peça esmolas a Deus
por Patanga Cordeiro
Sri Ramakrishna é um Mestre espiritual bastante conhecido por explicar suas experiências e ensinamentos com uma linguagem simples e de forma muito singela, como fizeram outros Mestres também.
O Evangelho de Sri Ramakrishna é seu maior diário e conjunto de ensinamentos. Nele, você encontra a seguinte parábola. Em uma reunião com seus discípulos, ele estava explicando sobre a necessidade de amar a Deus sem motivo. A comparação que ele fez foi a de uma pessoa rica que, quando lhe é pedido dinheiro por alguém, ela dá. Mas, a partir de então, ela não consegue mais considerar a pessoa que pediu como uma companheira, com sinceridade. Existe uma separação que foi criada pela expectativa.
Com Deus é o mesmo. Ele não quer nos dar esmolas pelas quais pedimos. Ele quer que sintamos que somos companheiros Dele, companheiros com quem Ele possa compartilhar toda sua riqueza de forma natural e espontânea.
Sri Chinmoy costuma ensinar que a melhor oração é “Seja feita a Vossa Vontade”, ecoando as palavras do Cristo. Ele considera correto orar pelo que achamos ser a melhor coisa, mas também é importante saber que aquilo que consideramos melhor pode não ser de fato melhor aos olhos de Deus. Por isso, a melhor oração é “Seja feita a Vossa Vontade”. Então não ficamos como pedintes, esperando uma esmola. Tentamos ser companheiros do Divino em sua Criação, compartilhando das Suas Metas e Ações e nos aproximando da Sua Perfeição nesse processo.
Numa experiência com dezesseis ou dezessete anos de idade, Sri Chinmoy conta uma experiência com o seu Senhor, quando Ele o disse: “Nunca o deixarei. Lembre-se para sempre que são meus queridos apenas aqueles que Me amam de todo coração e sem nenhum desejo e que gostam de brincar Comigo. Eles são a minha alma. Ora, quão poucos companheiros eu tenho neste mundo.” Sri Chinmoy, AUM — Vol. 8, No. 5, December 1972, AUM Centre Press, 1972
Uma experiência pessoal
Neste ano, fiz uma a Corrida Sri Chinmoy de 6 dias. Num dos dias, estava com inflamações bem agudas nas pernas. Eu comecei a recitar em silêncio “gratidão” a cada vez que pisava no chão, que era quando a dor fica mais lancinante. Fiz bastante vezes isso por um dia ou até mais. Foi quando me dei conta de que, na verdade, eu só estava dizendo “gratidão” como uma fórmula mágica – eu recito gratidão a Deus, e ele tem de levar a minha dor embora. Então tentei mudar a minha perspectiva. Comecei a me concentrar realmente em sentir gratidão, mais genuína, pelas coisas que me foram dadas: oportunidades, experiências, amor. Não é preciso dizer que tudo logo melhorou!
Numa outra ultramaratona, eu passei mal de fraqueza com apenas uma hora de corrida, e depois de mais uma ou duas horas, tive de desistir. No entanto, tive experiências mais internas tão boas, que foi uma das melhores corridas da minha vida, apesar do resultado externo desapontador. Eu terminei me sentindo muito, muito grato.