O Mestre espiritual e a meditação

 

Abaixo trechos de uma entrevista na rádio com Sri Chinmoy, em particular os trechos que falam sobre a relação que buscadores espirituais podem ter com a figura do Mestre espiritual, no caso Sri Chinmoy.

sri chinmoy jornal

Donna Halper: Mas as pessoas não o procuram para saber o que é Deus?

Sri Chinmoy: Elas me procuram por isso, mas são apenas as pessoas que acreditam em Deus que vêm até mim. Os ateus completos não vêm até mim. Para eles, Deus é outra coisa. O Deus de que falamos, para eles não é Deus. Mas eu tenho um profundo respeito pelo Deus deles. Se eles dissessem que Deus não existe, eu responderia “Tudo bem.” Contanto que acreditem em algo, eu sinto que esse algo é Deus, pois Deus é onisciente, onipresente e onipotente.

 

Donna Halper: Sri Chinmoy, quando as pessoas o procuram, o que elas estão buscando encontrar?

Sri Chinmoy: Normalmente elas buscam paz de espírito. Elas esperam uma melhor compreensão da vida. Elas esperam um êxtase interior.

 

Donna Halper: Você as proporciona isso?

Sri Chinmoy: Eu ofereço isso a elas, e elas recebem de acordo com sua receptividade.

 

Donna Halper: Há tantas pessoas buscando, tentando descobrir mais sobre religião. Elas não se sentem satisfeitas com a religião organizada, digamos, e por isso procuram você. Como essas pessoas saberiam se você é o Mestre espiritual certo para elas?

Sri Chinmoy: Elas serão capazes de descobrir em poucos minutos. Assim que me virem, se eu for o Mestre certo para elas, sentirão uma espécie de vibração ou sentimento de familiaridade. Elas não precisam conversar comigo. Essas pessoas sentirão uma comunicação interior. Elas verão e sentirão em mim um amigo, um amigo verdadeiro e eterno.

 

Donna Halper: E, com respeito à pessoa que vem até você e é muito cética, você também é um amigo para essa pessoa?

Sri Chinmoy: Certamente serei seu amigo, mas ela se sentirá desconfortável. Essa pessoa deverá buscar outro com quem se sinta confortável e que será capaz de orientá-la de uma maneira diferente.

 

Donna Halper: Estamos falando sobre música, meditação e religião. Continuando no tópico de religião, Guru, há tantas pessoas chamando-se de gurus nesses dias, tantas pessoas que se consideram messias, reivindicando possuírem a resposta. Como alguém que levasse a sua busca a sério poderia saber quem é um Mestre espiritual verdadeiro e quem não é?

Sri Chinmoy: Há diversas formas de se saber se um Mestre é genuíno ou não. Se o Mestre disser que poderá lhe dar a realização da noite para o dia, ele é um falso mestre. Se disser que, caso lhe dê uma quantia de centenas ou milhares de dólares, ele será capaz de lhe auxiliar a alcançar um plano superior de consciência e adquirir Paz, Luz e Deleite, esse é um falso mestre. Um Mestre verdadeiro sempre dirá ao buscador que ele, o Mestre, não é Deus; ele não é nem mesmo o Guru. Deus é o verdadeiro Mestre. O Mestre humano está apenas a serviço de Deus dentro dos buscadores. Ele não é o Guru. O verdadeiro Guru é Deus. Se um buscador quiser saber quem é um Mestre verdadeiro, com essas orientações ele normalmente será capaz de discernir o verdadeiro do falso.

 

Donna Halper: Então a pessoa que diz ter a resposta mágica provavelmente não é a pessoa que deve ser levada a sério?

Sri Chinmoy: O progresso espiritual não é como preparar café solúvel. O progresso espiritual é lento e consistente. Lenta, gradualmente e certamente devemos trilhar a Estrada da Eternidade para alcançarmos a Meta da Infinidade.

 

Donna Halper: Se alguém o procurar e decidir que você é a pessoa certa com quem deveria estudar, o que deveria fazer?

Sri Chinmoy: Há algumas regras e orientações que os buscadores deverão seguir se eu os aceitar como meus alunos. Para começar, pedirei que sejam muito simples, muito sinceros, humildes e puros. Eu recomendo uma vida muito simples.

 

Donna Halper: Lemos nos jornais sobre diversos movimentos que são bastante austeros, onde os homens e mulheres não podem ter contato mútuo. Eles não podem comer carne e, basicamente, ficam dentro dos seus lugares meditando o tempo todo. Esse é o tipo de vida que os seus discípulos têm?

Sri Chinmoy: Não, eu não advogo a austeridade. Eu não quero que meus discípulos vivam nas cavernas nas montanhas dos himalaias. Advogamos a aceitação da vida. Temos de aceitar a vida e então temos de transformar a vida. Há diversas coisas na vida humana as quais não conseguimos apreciar. Elas são as nossas tristes imperfeições. E por isso tentamos iluminar essas fraquezas. Não evitamos a vida. Aceitamos a vida, mas transformamos o que deve ser transformado.

 

Donna Halper: Além da meditação, os seus discípulos praticam cânticos ou algo desse tipo?

Sri Chinmoy: Sim, às vezes eles entoam cânticos. Eu escrevi diversas melodias para versos dos Vedas, Upanishads e Bhagavad Gita. Fiz música para vários deles, e os meus alunos às vezes os entoam.

A queda do homem

Pergunta: Como você explicaria a queda do homem?

Sri Chinmoy: Todos os dias somos atacados pela dúvida; todos os dias somos inspirados e energizados pela fé. Quando somos atacados pela dúvida, percebemos que a nossa consciência baixa. Não conseguimos expandir. Duvidamos da nossa própria capacidade, mesmo da nossa própria existência. Quando a dúvida entra na nossa mente de manhã cedo, fica impossível sairmos do nosso pequeno quarto mental. Contudo, quando somos inspirados e energizados pela fé, sentimos que o mundo inteiro nos pertence.

Cada ser humano aqui possui dúvida e fé. Quando usa o seu instrumento dúvida, ele sente que tudo na sua vida fica circunscrito. O seu progresso é sobrestado. Mas, quando usa o outro instrumento, a fé, ele sente que está voando no mais alto plano de consciência e cantando a canção do sempre-transcendente Além.

Todos os dias podemos nos limitar ou nos libertar. Cantamos a canção das amarras consciente ou inconscientemente quando alimentamos a dúvida abundante dentro de nós. Caímos da árvore-realidade seguidamente quando brincamos com a nossa amiga-dúvida. E, quando mergulhamos fundo e trazemos à tona a nossa fé coração-iluminadora e alma-manifestadora, escalamos alto, mais alto, altíssimo na árvore-realidade.